O QUE É ENXAQUECA?
A enxaqueca é um desequilíbrio químico no cérebro, envolvendo hormônios e substâncias denominadas peptídeos. Esse desequilíbrio resulta de uma série de outros desequilíbrios neuroquímicos e hormonais, decorrentes do estilo de vida e hábitos do portador da doença enxaqueca, e também de uma predisposição genética. O resultado é uma série de sintomas, que podem ir muito além da dor de cabeça. Por sinal, existem casos de crises de enxaqueca sem, ou com muito pouca dor de cabeça. Geralmente porém, a dor de cabeça é o sintoma mais dramático da enxaqueca e sua intensidade, apesar de variável, na maioria dos casos é moderada a severa.
Entre os 250 tipos e subtipos de dor de cabeça, a enxaqueca é o segundo mais comum depois da cefaleia tensional (causada por tensão muscular), e, juntas as duas representam cerca de 90% das dores que acometem pessoas no mundo inteiro. A enxaqueca é uma doença primária, ou seja, não possui uma causa externa. Sabe-se que ela tem influência genética, no entanto, a hereditariedade não é uma obrigatória para que ela ocorra. Filhos de pais com enxaqueca podem não ter a doença, assim como há pessoas que têm enxaqueca sem que outro membro da família sofra com ela. Isso significa que não se desenvolve enxaqueca ao longo do tempo. Ou se tem ou não se tem. A dor costuma começar entre os 10 e 20 anos de idade – primeiras crises depois dos 30 são incomuns -, e com o tempo tende a desaparecer.
A enxaqueca atinge entre 15% e 20% da população mundial, sendo que a incidência em mulheres fica na razão de três para uma. Quando acomete uma pessoa por, pelo menos, 15 dias por mês, com crises de, no mínimo, três vezes por dia, ou quatro horas consecutivas, ela é considerada crônica. Este tipo atinge 2% da população, independente de gênero.
A enxaqueca é uma desordem que vem e volta, e não uma dor permanente. Entre suas características, a mais frequente é a dor unilateral, que pode ocorrer tanto no lado direito quanto no esquerdo da cabeça, embora não seja fixa. “A enxaqueca possui como sintoma um latejamento muito intenso, que atrapalha o cotidiano e as atividades de quem a possui. O enxaquecoso tem necessidade de fazer repouso e ficar muito quieto. Náuseas, mal-estar, vômitos e intolerância ao ambiente também são sintomas desta doença. Seus portadores se sentem incomodados pela luz, pelo barulho, pelos sons, pelos odores… Tudo incomoda a pessoa na hora da crise, ela quer ficar isolada, quieta, sem ter contato com ninguém”.
A dor, que piora com qualquer tipo de atividade, é acompanhada de fenômenos transitórios de disfunção ou função inadequada de alguma área do cérebro, que, na maioria das vezes, é uma área visual. A pessoa com enxaqueca com aura pode perder a visão por meia hora, mais ou menos, ver luzes, ou perder o foco. Isso acontece antes da dor, e, às vezes, pode ocorrer dormência no braço ou dificuldade momentânea de falar. São fenômenos transitórios, curtos, denotando que o cérebro tem alguma região prejudicada pela enxaqueca. Já a sem aura provoca a mesma dor, no entanto, não possui estes sintomas.
Por ser uma doença primária, fatores como alimentação, stress e temperatura não poderm ser considerados a causa da enxaqueca, mas podem desencadea-la. Não se elimina a doença fazendo uma dieta restritiva; e o que determinar a existência da enxaqueca é o diagnóstico clínico feito por um neurologista, e não exames complementares como a tomografia e o encefalograma.
Depois de detectada, a exnaqueca deve ser tratada com remédios preventivos, que evitem as crises. O neurologista alerta para o perigo do uso excessivo de analgésicos:
“O senso comum costuma tratar a dor de cabeça e até a enxaqueca tomando analgésicos. Costumo perguntar aos meus pacientes: ‘Se você tem uma dor no pé porque tem um espinho nele, você trata tomando analgésico? Não, né? É preciso tirar o espinho para que o pé melhore.’ O mesmo acontece com as doenças, temos que tratá-las eliminando a causa. No caso da enxaqueca, como não há uma causa externa, fazemos um tratamento preventivo com medicamentos específicos, com horário fixo, diariamente. As propriedades variam, conforme o tipo de medicamento utilizado.
De acordo com pesquisas recentes realizadas com animais na Universidade de Harvard, remédios anti-enxaquecosos bloqueiam um fenômeno de excitabilidade neuronal alterado, chamado depressão alastrante cortical. Este processo parece ocorrer na enxaqueca, acometendo o córtex cerebral, e todos os medicamentos testados neste experimento foram capazes de bloqueá-lo em ratos. O mecanismo pelo qual os medicamentos previnem a enxaqueca com o tempo não é compreendido ainda em sua totalidade.”.
Alguns antidepressivos podem também ter efeito anti-enxaquecoso, mas não é por serem antidepressivos que melhoram a enxaqueca, já que a doença não tem origem emocional, embora possa piorar ou melhorar de acordo com o estado emocional do paciente. As doses são menores das aplicadas em pacientes que possuem depressão. Não se sabe ao certo qual a propriedade do antidepressivo atua no alívio da enxaqueca; essa descoberta foi casual. Os médicos receitavam o remédio para o paciente que possuía enxaqueca e depressão, e ele melhorava das duas coisas, 80% dos enxaquecosos apresentam uma grande melhora com o uso deste medicamento, deixando de ter as crise se obtendo um ganho enorme na qualidade de vida. E quando esta medicação não tem eficácia (20% dos pacientes não obtêm melhora), é preciso aliar o remédio a medidas não medicamentosas como o exercício físico regular, o controle da obesidade e o manejo do stress. “Não se pode vender a ilusão de que se ele virar um monge ficará curado, se a doença tem uma base genética o que fazemos é utilizar técnicas de auxílio para que o doente tenha uma qualidade de vida melhor”.
Para o neurologista, tratamentos como Florais de Bach e homeopatia têm um efeito de placebo, ou seja, sua eficácia é a mesma da de um copo d’água. Segundo ele, há uma melhora de até 30% com esses tratamentos, que se acredita ser de cunho psicológico. “O tratamento convencional é muito honesto, nós não prometemos a cura, e sim uma melhora significativa na vida do doente, que passa a tomar os remédios evitando as crises. Já a acupuntura tem o efeito de aliviar a crise, mas é pragmática, só serve de imediato, não estabiliza”.
Não se sabe o porquê, mas durante os nove meses de gestação a enxaqueca desaparece em 80% das mulheres. Como ela tende a desaparecer com o tempo, após alguns anos é possível abandonar os remédios preventivos.
Para os casos de enxaqueca crônica existe um tratamento com injeções de toxina botulínica, o conhecido botox. Um protocolo específico, com doses pré-determinadas, que não chega a ser uma promessa de cura, podendo funcionar ou não. Na maioria dos casos, o que acontece é uma redução do sofrimento, o número de horas de crise diminui.
A dor de cabeça da enxaqueca pode ser latejante (pulsátil), em peso, ou uma sensação de “pressão para fora”, como se a cabeça fosse explodir.
A localização da dor de cabeça da enxaqueca pode variar de crise para crise; raramente dói sempre no mesmo lugar. A dor da enxaqueca pode ocorrer em qualquer lugar da cabeça, inclusive na região dos dentes, dos seios da face e da nuca, dando origem à confusão com problemas dentários, de sinusite e de coluna.
Os demais sintomas da enxaqueca compreendem náuseas (enjôo), vômitos, aversão à claridade, ao barulho, aos cheiros, hipersensibilidade do couro cabeludo, visão embaçada, irritabilidade, flutuações do humor, ansiedade, depressão (mesmo fora das crises) e lacrimejamento. Um indivíduo não precisa apresentar todos estes sintomas para ter enxaqueca. Normalmente apresenta alguns deles, em graus variados.
A duração de uma crise de enxaqueca é, tipicamente, de 3 horas a 3 dias, seguida de um período variável sem nenhuma dor de cabeça.
A crise de enxaqueca pode ser precedida por uma alteração do humor (euforia em alguns casos, depressão e irritabilidade em outros) e do apetite (vontade de comer doces, ou então perda de apetite), visão embaçada, visão dupla, escurecimento da visão (cegueira parcial) de um ou ambos os olhos, e sensação de estar vendo pontos brilhantes, como se fossem vaga-lumes.
Entre outros sintomas da enxaqueca, estão incluidos diminuição da força muscular de um lado do corpo, formigamentos, tonturas, diarreia, podendo também ocorrer as manifestações visuais já descritas.
A frequência da dor de cabeça da enxaqueca é muito variável, podendo ser desde uma vez na vida, até todos os dias, e até várias vezes ao dia, no caso da cefaléia-em-salvas.
A cefaléia-em-salvas é uma variante rara da enxaqueca, que acomete muito mais os homens.
A dor de cabeça da enxaqueca pode ser muito forte, a ponto de impedir o indivíduo de exercer qualque atividade, obrigando-o a ficar deitado, num quarto escuro, em silêncio, durante horas ou dias. O paciente torna-se muito irritável, preferindo ser deixado sozinho.
Boa parte das crises de enxaqueca terminam com o sono, ou então quando a pessoa vomita (principalmente as crianças). Ao fim de uma crise de enxaqueca, o paciente sente-se como que de ressaca, podendo apresentar, por mais de um dia, tolerância limitada para atividade física e mental.
SINTOMAS
Quais os sintomas, considerando a frequência dos mesmos, para caracterizar uma pessoa como portadora de enxaqueca?
A enxaqueca não é só uma dor de cabeça, mas uma série de sintomas, entre os quais, a dor.
Durante uma crise de enxaqueca, que pode durar entre 3 horas e 3 dias, o indivíduo pode apresentar náuseas, vômitos, aversão à claridade, ao barulho, aos cheiros, visão embaçada, irritabilidade, falta de concentração, tonturas como se fosse labirintite, obstrução nasal, tensão nos músculos da nuca e dos ombros, e até diarréia. Um indivíduo não precisa ter todos esses sintomas para ser diagnosticado como apresentando enxaqueca, porém alguns deles, como as náuseas e/ou a aversão à claridade/barulho são tão comuns que chegam a ser quase obrigatórios para o diagnóstico.
A dor pode ser em qualquer lugar da cabeça, e isso pode originar muita confusão com outras doenças. Por exemplo, dores na face são frequentemente confundidas com sinusite, e às vezes tratadas erradamente como tal, durante anos, sem bons resultados, é claro.
A dor possui intensidade muito variável, podendo ser desde incapacitante até muito leve. Na verdade, existem casos de crises de enxaqueca sem nenhuma dor de cabeça! Nesses casos, a pessoa pode apresentar crises de 3 horas a 3 dias, manifestando alguns dos demais sintomas da enxaqueca.
Um deles, em particular, ocorre em 10 a 15 em cada 100 enxaquecosos (nome dado aos portadores de enxaqueca), e recebe o nome de aura de enxaqueca. Aura, nesse caso, é no sentido de premonição. O indivíduo começa, de repente, a apresentar alucinações visuais: ele vê luzinhas, “estrelinhas”, “vagalumes” piscando no seu campo visual, ou então enxerga linhas em zigue-zague, tremeluzentes, que vão aumentando em tamanho e atrapalhando a visão, ou uma perda progressiva da visão, bastante peculiar, no sentido que a pessoa passa a enxergar apenas uma parte dos objetos. Ao olhar para um rosto, ela pode enxergar apenas meio rosto, e assim por diante. Os objetos podem dar a impressão de aumentar ou diminuir de tamanho, e nesse caso a pessoa pode esbarrar nas portas. A sensibilidade pode se alterar, com formigamentos na metade da língua, e/ou lábios, e/ou um dos membros superiores e/ou inferiores. A fala pode ficar “pastosa”, a pessoa pode não se lembrar das palavras mais comuns.
Todo esse fenômeno de aura dura entre 20 minutos e uma hora, após o que, ela vai regredindo. Assim que a aura passa, a dor de cabeça, tipicamente, começa. Daí o termo aura, premonição. Acontece que algumas pessoas podem ter episódios apenas de aura, sem a dor de cabeça, daí a enxaqueca sem dor de cabeça. A desinformação reinante sobre o assunto deve ter sido responsável por muitas mortes e acidentes no trânsito.
Meus pacientes de enxaqueca com aura são cuidadosamente instruídos a jamais dirigirem durante o período de aura. Alguns já seguem essa precaução instintivamente.
A frequência da enxaqueca varia de indivíduo para indivíduo. Alguns casos são mensais, outros anuais, e outros ainda, 2, 4 vezes por semana, e até todos os dias!
Um dos maiores problemas da enxaqueca é que ela pode ser desencadeada por uma série de “gatilhos”, tornando a pessoa tanto mais vulnerável a saídas da rotina, quanto mais agravada estiver a sua doença. Sair de casa em dias muito claros, frequentar lugares aglomerados (ex: feiras, shopping), passar por emoções mais fortes (não apenas situações de contrariedade, mas também situações inusitadamente boas), acordar mais tarde que de costume, dormir durante o dia, atrasar refeições, beber uma simples taça de vinho, comer certos pratos como salsicha, alimentos muito gordurosos, queijos amarelos, chocolate, sorvete e até algumas frutas (só para mencionar alguns desencadeantes), ainda que em pequena quantidade, já pode ser suficiente para desencadear 3 horas a 3 dias de muita dor e outros sintomas.
Até exercícios físicos fora da rotina do indivíduo podem desencadear crises. A pessoa sente como se precisasse viver dentro de uma bolha! Um bom tratamento visa justamente dessensibilizar o indivíduo, para que ele possa desfrutar de todos esses fatores, comedidamente, sem precisar pagar por isso com uma crise de dor e outros sintomas.
DICAS SOBRE ENXAQUECA E CEFALÉIA
A pimenta vermelha (Capsicum annum) para enxaqueca:
É um eficaz redutor da dor da enxaqueca, contém capsaicina, um composto que se crê bloqueador da transmissão de dor no nervo. De acordo com um estudo publicado em 1992 a revista,Cephalalgia, a dor e gravidade das cefaleias ou enxaquecas foram reduzidas de forma significativa nos pacientes que receberam tratamentos tópicos de capsaicina por sete dias. Comprar ou fazer um bálsamo contendo Capsicum annum e massagear a região dolorida durante um ataque de enxaqueca. Sempre lembrando de consultar um médico qualificado se quiser experimentar este procedimento anti enxaqueca em casa, pois os efeitos secundários podem incluir queima na área de aplicação.
Hortelã (Mentha piperita) na enxaqueca:
Menta pode ser usada tanto interna como externamente para ajudar na diminuição da crise de enxaqueca. Contém mentol, que é um redutor da dor, e também reduz a náusea. De acordo com um estudo publicado em 1994 na revista Cephalalgia, Uma combinação de óleo essencial de hortelã-pimenta e etanol ou mesmo azeite extra virgem, reduz significativamente a sensibilidade às enxaquecas e cefaleias em pacientes que aplicaram a solução tópica na testa. O ideal é executar este procedimento ao primeiro sinal de uma crise de enxaqueca, mas pode ser utilizado em qualquer momento do ataque. Outra forma de utilizar a hortelã-pimenta para enxaqueca é consumir chá de hortelã. Não é recomendado utilizar qualquer procedimento na crise de enxaqueca sem supervisão médica.
Gengibre (Zingiber officinale) para enxaqueca:
Uso comum no alívio de dor e náuseas, principalmente da enxaqueca e cefaleia. Embora haja pouca investigação científica sobre gengibre como um remédio natural para enxaquecas, foram realizados estudos de laboratório sobre a sua capacidade para reduzir a dor, e como um anti-inflamatório. Um estudo publicado em 2005 Journal of Medicinal Food afirma que um extrato feito a partir de raiz de gengibre é muito útil como anti-inflamatório. Também é conhecida por ajudar no alivio da crise de enxaqueca ou cefaleia. Recomenda-se comer uma colher de chá de raiz de Gengibre por dia, nos alimentos. Lembrando que em crises de enxaqueca deve-se procurar ajuda do seu médico.
CEFALEIA EM SALVAS
Antigamente conhecida como cefaleia de Horton, cefaleia histamínica, cefaleia agrupada ou em cachos, a cefaleia em salvas é uma doença rara. A dor dessa cefaleia é considerada a mais forte dor que existe – mais até que a cólica dos rins. Existem alguns milhares de sofredores dessa doença no Brasil (em contraste aos milhões de sofredores de enxaqueca), a maioria dos quais, sem diagnóstico e tratamento adequados.
A cefaleia em salvas ocorre muito mais em homens que mulheres (ao contrário da enxaqueca). A idade de início costuma ser após os 30 anos (enquanto na enxaqueca, costuma ser na adolescência). A dor é só de um dos lados da cabeça, nunca dos dois ao mesmo tempo. A dor pode mudar de lado numa próxima crise, mas ela jamais ocorre simultaneamente dos dois lados. A localização mais comum da dor corresponde à área de uma mão espalmada sobre um dos olhos. A duração da crise de cefaleia em salvas é curta, quando comparada à enxaqueca: cada crise costuma durar entre meia hora e duas horas. O problema é a intensidade da dor – verdadeiramente esmagadora! Durante a crise, é muito comum o olho do mesmo lado da dor ficar bem vermelho e lacrimejante; e a narina do mesmo lado ficar escorrendo sem parar. O indivíduo em crise costuma se retirar para um recinto isolado, e não consegue parar quieto (ao contrário da enxaqueca, onde a pessoa procura ficar imóvel na hora da dor forte). Fica andando para lá e para cá, sentando, levantando, e em alguns casos, atirando objetos e até batendo a própria cabeça na parede. Por sorte, quanto mais intensa a dor, mais curta sua duração da crise de cefaleia em salvas. O problema é que a pessoa pode ter várias crises ao dia – é comum apresentar 3 crises diárias, uma delas durante a madrugada, atrapalhando muito o sono.
A cefaleia em salvas recebe esse nome porque, em geral, a pessoa é acometida por uma “salva” de cefaleias (digamos, 3 crises ao dia, de 40 minutos cada uma, durante 20 dias), seguida por um período sem cefaleias (que pode variar de semanas a anos), formando um padrão cíclico que se repete ao longo do tempo, com uma precisão impressionante. Também impressionante é a regularidade dos horários das crises, bem como da duração das mesmas, durante o período de salvas. É comum a pessoa saber dizer exatamente quantos minutos dura cada crise, bem como o horário exato de cada crise. É a dor com hora marcada!
Isso leva à conclusão que o relógio biológico do nosso cérebro está envolvido na geração da doença. Nessas horas, ele provocaria alterações em neurotransmissores como a serotonina, levando às crises de dor. Mas na verdade, não é só um problema do relógio biológico, pois há algumas (bem menos) pessoas que sofrem de cefaleia em salvas e que não têm esse padrão cíclico de ocorrência das crises. A verdade é que muito pouco ainda se sabe sobre a verdadeira causa desta doença.
Felizmente, já se sabe controlar o problema. Uma das maneiras de escapar de uma crise de cefaleia em salvas é através da inalação de oxigênio a 100%, durante 15 minutos (não serve ar comprimido, precisa ser oxigênio). De cada 4 sofredores, 3 obtêm um alívio rápido da crise mediante a inalação de oxigênio, em fluxo máximo, com a máscara bem apertada. É um método que deveria ser mais divulgado, afinal, não envolve drogas e está ao alcance de todos. Mas possui a desvantagem de não prevenir as crises, apenas aliviar a crise que já está acontecendo. Por isso, é preciso, também prevenir as crises.
Para prevenção, existem remédios como a metisergida, o verapamil, o lítio, o valproato e a metilergonovina, entre outros, que o médico prescreve no intuito de espaçar as crises, torná-las mais brandas se sobrevierem, e mais fáceis de combater. Além do oxigênio, têm sido muito utilizados vários dos triptanos (principalmente o sumatriptano, rizatriptano e zolmitriptano) para o caso de uma crise na vigência do tratamento preventivo. Atenção: não use remédios preventivos sem receita médica, pois eles necessitam de acompanhamento e monitorizações especializadas.
A imensa maioria dos sofredores de cefaleia em salvas são fumantes inveterados. Portanto, quem não fuma está muito menos arriscado a ter essa doença.
Ao contrário da enxaqueca, o paciente com cefaleia em salvas não consegue identificar fatores desencadeantes de crises – com exceção do álcool. Durante o período de salvas, se a pessoa beber, certamente apresentará uma crise logo em seguida. Passado o período de salvas, a pessoa pode beber, que a crise não virá.
Normalmente, não se associa essa doença a fatores desencadeantes de ordem emocional. Porém, minha experiência demonstrou que existe uma associação. Pacientes meus passando por problemas emocionais, ficam muito mais difíceis de responder a tratamentos antes bem mais eficazes. Técnicas de relaxamento e de controle do stress são recursos eficazes em qualquer doença crônica, e a cefaleia em salvas parece não ser exceção.
O FLUXO SANGUÍNEO ENCEFÁLICO E ENXAQUECA: HEMODINÂMICA ENCEFÁLICA
O fluxo sanguíneo cerebral permanece relativamente constante em todas as atividades da vida diária e no sono. Ele é determinado pela pressão de perfusão cerebral, que é a diferença entre a pressão arterial sistêmica e pressão venosa do seio sagital superior.
ENXAQUECA DEVIDO A RELAÇÃO SEXUAL
É a enxaqueca presente após (ou durante) o coito (relação sexual), pode afetar mulheres, porém é mais comum em homens.
Este tipo de enxaqueca ocorre devido a alterações hemodinâmicas (circulação do sangue) que acompanham as manobras de Valsalva que ocorrem nas relações sexuais e, principalmente, no orgasmo.
Manobra de Valsalva, geralmente, ocorre em exercícios isométricos com a glote fechada (não deixando o pulmão expelir o ar), acarretando aumento da pressão intra abdominal devido a contração do músculo diafragma e dos músculos abdominais. Isto resulta em diminuição do retorno do sangue venoso que volta para o coração (devido a contração do m. diafragma). Além disso, aumentará a pressão suboccipital do seio cavernoso. Podendo afetar a circulação posterior para o cérebro.
SÍNDROMES CRANIOCERVICAL E ENXAQUECA
A Síndrome Cervical escrita por Ruth Jackson foi publicado em 1956 descrevendo vários sintomas associados com as lesões ou malformações congênitas craniocervical afetando o cérebro ( e, desta forma, causando cefaleias ou enxaqueca), afetando negativamente a hemodinâmica cerebral em duas formas:
1) Por congestão no plexo venoso vertebral, causando redução na pressão de perfusão cerebral;
2) Pela congestão venosa e hipertensão arterial no seio cavernoso suboccipital, causando compressão das artérias vertebrais e diminuindo assim o posterior suprimento sanguíneo para o cérebro. Em muitos casos, a causa da isquemia da medula espinhal é desconhecida, embora estudos recentes sugerem que alguma dificuldade na drenagem venosa pode resultar em isquemia da medula espinhal. Apesar desta circulação ter sistema redundante (a natureza nos forneceu este sistema de segurança), o sistema de drenagem venosa da medula espinhal, é um sistema suscetível a ligeira compressão, e até mesmo uma ligeira elevação da pressão.
Além disso, foi demonstrado que curvatura anormal da coluna pode causar estenose funcional, e aumentar a pressão no plexo venoso vertegral, desta forma, levando a enxaqueca ou cefaleia.
A síndrome Craniocervical, portanto, pode desempenhar um papel significativo na enxaqueca, dores de cabeça (cefaleia), assim como muitas outras doenças degenerativas do cérebro.
COMPROVAÇÕES CIENTÍFICAS NOS TRATAMENTOS DA ENXAQUECA E DA CEFALEIA:
QUIROPRAXIA E OSTEOPATIA NA ENXAQUECA E CEFALEIA
Alguns estudos, mostram resultados nos tratamentos com Quiropraxia. Um estudo da Northwestern College of Chiropractic, em Bloomington, Minnesota, comparou o tratamento com Quiropraxia com o uso de amitriptilina, um antidepressivo comumente usados para tratar enxaquecas. O estudo constatou que a Quiropraxia foi tão bem sucedida como a droga, porém sem os efeitos colaterais da mesma.
ESTATÍSTICA DE TRATAMENTO DE DORES DE CEFALEIA E ENXAQUECA USANDO ACUPUNTURA
Em 123 casos de dor de cabeça severa observados, 105 obtiveram total recuperação ou efeito marcante, 11 obtiveram uma melhora e apenas 7 não conseguiram resultados significantes. Então o grau de efetividade foi de 94,3%. Existem vários outros estudos científicos comprovando a efetividade do tratamento com acupuntura nas dores de cabeça.
BIBLIOGRAFIAS:
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