22.2 C
Sorocaba
segunda-feira, março 10, 2025

O RECADO DO MORRO – Guimarães Rosa

O RECADO DO MORRO – Guimarães Rosa

A história ilustra o mundo sem lei. No sertão, vigora a regra, e não a lei – a regra da aliança e da vingança. Para o autor, estão em jogo ali novamente os destinos da civilização e da cidadania brasileira.

O recado do morro, os personagens-viajantes se deslocam pelo interior de Minas e por vários campos do saber, ao mesmo tempo em que recontam e decifram antigas estórias, relatos da loucura e mitos anônimos. Nesse conto, uma rede de narradores é estabelecida para passar adiante uma estória que, ao final, ainda é a mesma embora já seja outra.

O recado do morro, ouvido por Gorgulho, é contado para seu irmão Catraz, que o reconta para o jovem Joãozezim, que o narra para Guégue, o guia que se orienta por referências móveis. A partir daí, o recado vira boato e pode ser ouvido no discurso apocalíptico de Nômini Dômini, nos números inscritos pelo Coletor na parede da igreja, ou na letra cantada ao violão por Laudelim, até que se torna compreendido por seu destinatário, o guia Pedro Orósio, que sempre ouvira as diversas variações da mesma história sem atinar para o fato de que isso era um aviso de sua própria morte.

Constituído pelas relações cooperativas e desarmônicas entre saber e não-saber – entre aquele que sabe e aquele que não sabe, entre o que cada personagem sabe e as formas como o sabe e o compartilha -, o conto opera com formas e temas não-excludentes, que podem ser verificados pelos freqüentes processos de tradução capazes de dar sustentação a uma poderosa estrutura fractal
e em rede.

À medida que a comitiva avança sertão adentro, o recado vai sendo passado de boca em boca a personagens excêntricos: bobos, loucos, lunáticos, fanáticos religiosos e um menino, até chegar aos ouvidos do músico Laudelim, que transforma a mensagem numa canção. Traduzido para a música, o recado é então compreendido por Pedro Orósio, a tempo de receber o aviso do Morro sobre as intenções de seus falsos amigos.

O morro da Garça, em Minas Gerais, assume papel de destaque no conto, ao enviar mensagem de morte à personagem principal do conto, captada por um visionário sertanejo e afinal percebida a tempo por tal personagem.

Outros trabalhos relacionados

Darandina – Guimarães Rosa

Darandina - Guimarães Rosa A manhã era clara. O narrador, já em horário de serviço, estava junto ao portão do prédio de uma instituição destinada...

UM LUGAR AO SOL – ÉRICO VERÍSSIMO

Um Lugar ao Sol - Érico Veríssimo Vasco caminha pela vida numa incansável e persistente busca: de emprego, de amor, de dias melhores... Mas não...

UM CRIME DELICADO – SÉRGIO SANT’ANNA

Um Crime Delicado - Sérgio Sant'Anna Considerações Gerais Romance metaliterário (o narrador fala da obra) em linguagem fragmentária, através da qual o narrador, um...

Memórias de um Suícida

A história do livro (Memórias de um Suicida) começa no século XVII, quando nasce um jovem em terras portuguesas numa família pobre, mas que...