• 95% da aventura humana na terra correspondem ao período paleolítico. Embora o homem paleolítico fosse nômade, este já manifestava certo relacionamento com determinados lugares.
• Primeiro, porque os mortos precisavam de um lugar para descansar. “… os mortos foram os primeiros a ter uma moradia permanente (…) A cidade dos mortos antecede a cidade dos vivos”.– Mumford
• Além disso, o homem paleolítico encontrava na caverna um abrigo importante, embora não fosse uma moradia fixa. Era o lugar de segurança, para onde ia quando estava com fome, para o acasalamento, ou para guarda de seus instrumentos. A caverna era também o local onde se realizavam os rituais e as artes.
• No período mesolítico, por volta de 15 mil anos atrás, a quantidade de suprimentos aumenta muito devido à domesticação de certos animais e ao cultivo de vegetais na forma de mudas. Este processo foi lento e gradativo, de forma que o nomadismo demorou a ser abandonado.
• Apenas no período Neolítico (cerca de 10.000 anos atrás) o homem estabeleceu as primeiras vilas, após aperfeiçoar e diversificar o cultivo de plantas e animais.
• As mulheres foram as responsáveis pela revolução agrícola. Tornaram-se assim o centro da aldeia neolítica.
• O neolítico marcou a vida estável das aldeias, propiciando condições melhores que as do nomadismo. A proteção e a nutrição do homem melhoraram consideravelmente, o que contribuiu para o aumento da fecundidade.
• Não foram estas aldeias, no entanto, as primeiras cidades. A cidade caracteriza-se por uma complexidade social que não existia nas aldeias do neolítico, nestas comunidades não havia divisão do trabalho, senão por sexo e idade.
• Enquanto a existência da aldeia está diretamente relacionada às atividades primárias (agricultura e criação), a cidade possui habitantes que não trabalham para produzir o próprio alimento, o que nos leva a uma divisão do trabalho mais complexa.
• Para isso foi necessário que os avanços agrícolas conduzissem a um excedente alimentar, de modo que o agricultor passou a produzir mais que o necessário para sua manutenção. Com isso, alguns homens livraram-se das atividades primárias, passando a dedicar-se a outras atividades.
• Além da divisão do trabalho, é preciso que haja uma divisão de classes para configurar a cidade. São necessárias instituições sociais que assegurem a transferência do excedente alimentar do campo para a cidade. Legitimando, dessa forma, a dominação e exploração do homem pelo homem.
• O papel do dominador foi transferido, provavelmente, ao antigo caçador que, após tornar-se obsoleto devido aos avanços na agricultura e criação, tornou-se o protetor da aldeia, defendendo os aldeões e as terras dos inimigos e animais ferozes e recebendo alimentação em troca do seu trabalho. Ao longo dos séculos, esta proteção tornou os aldeões passivos e, acuados, eles passaram a submeter-se à dominação dos seus protetores, ocasionando numa relação de exploração.
• Logo, o caçador deu origem ao político-chefe ou rei.
• O homem, assim, volta a ter papel preponderante na sociedade e a mulher volta à condição secundária.
• Os tributos provavelmente originaram-se no respeito ao “caçador” traduzido nas oferendas ao rei. O pagamento dos tributos nada mais era do que a realização concreta da transferência do excedente agrícola.
• A transição do caçador para chefe político é apenas o início do processo de constituição da sociedade de classes. Esta sociedade diferenciada constitui-se historicamente quando artesões especializados e outros trabalhadores não agrícolas se reúnem num mesmo território. Estes dedicam-se ao trabalho em larga escala (como a construção de muralhas ou sistemas de irrigação), comandados pelo líder religioso e político (o antigo caçador).
• Não se sabe ao certo se esta complexa divisão de classes ocorreu a partir do interior de cada aldeia ou através da dominação de diversas aldeias por um mesmo líder político.
• Embora pensemos, naturalmente, que a origem da divisão de classes (e o conseqüente surgimento das cidades) possa estar relacionada ao comércio (até porque muitas destas cidades surgiram ao redor do mercado) a sua verdadeira origem é política e religiosa. “Na implosão urbana, o rei se coloca no centro”.– Mumford
• As primeiras cidades surgiram por volta de 3.500 a.C. na Mesopotâmia. Surgiram posteriormente no vale do rio Nilo (3.100 a.C.), no vale do rio Indo (2.500 a.C.) e no rio Amarelo (1550 a.C.).
• Como estas regiões possuem clima semi-árido, o homem tinha necessidade de se fixar perto dos rios, repartir a água, repartir os escassos pastos, e proceder ao aproveitamento das planícies inundáveis, ricas em húmus e propícias ao desenvolvimento da agricultura.
Bibliografia:
Encarnação, Maria e Sposito, Beltrão – Capitalismo e Urbanização
Benévolo, Leonardo – História da Cidade
Rolnik, Raquel – O que é cidade