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terça-feira, dezembro 3, 2024

POLISSEMIA E HOMONÍMIA

Polissemia e homonímia

A flexibilidade do léxico da língua portuguesa do Brasil e as alterações semânticas propiciam a ocorrência da polissemia e da homonímia, fenômenos amplamente discutidos por gramáticos e lingüistas. Embora sejam fenômenos distintos, nem sempre é fácil determinar se uma palavra pertencente a uma ou a outra categoria.

Polissemia é o fenômeno lingüístico em que vários significados inter-relacionados associam-se ao mesmo significante. É um fenômeno natural e importante para contribuir na economia do léxico de uma língua, facilitando a comunicação entre falantes e minimizando o esforço para a memorização do saber lexical. Ulmamn (1964: 34, aput Corbari, A.T. e Bidarra, J. 2007) explica que “(…) a polissemia é uma condição da eficiência da língua. Se não fosse possível atribuir diversos sentidos a uma palavra, isso corresponderia a uma tremenda sobrecarga na nossa memória”.

No caso da homonímia, não temos um lexema com vários significados, mas sim lexemas distintos que possuem a mesma forma fonética e /ou gráfica. Pode-se ainda acrescentar que quando os significados de um lexema são relacionados, temos polissemia, porém, quando os significados não são relacionados, em geral é preferível considerar que se tratam de palavras (lexemas) distintas, ainda que com a mesma forma. Nesse caso, denominamos a situação de homonímia.

Câmara Junior (2002) descreve homonímia como sendo a propriedade de duas ou mais formas, inteiramente distintas pela significação ou função, terem a mesma estrutura fonológica: os mesmos fonemas dispostos na mesma ordem e subordinado ao mesmo tipo de acentuação.

Embora a definição destes conceitos seja simples, nem sempre é fácil dizer se estamos efetivamente perante duas palavras homônimas ou se, pelo contrário, perante uma palavra polissêmica.

Segundo Perini (1995: 250 aput Zavaglia, 2003) a proposta tradicional para a resolução do problema é estabelecer um limite entre “duas palavras (dois itens lexicais) quando há uma diferença de classe gramatical, ou então quando há uma diferença semântica grande e nítida.” A primeira solução, para o autor, é relativamente simples ao passo que a segunda torna-se problemática por não definir o que é uma diferença semântica “grande e nítida” nem tratar dos casos intermediários. Perini conclui que a dificuldade em delimitar polissemia e/ou homonímia aponta para a falta de um conceito mais preciso de item lexical.

No entanto, o critério mais utilizado para se fazer distinção de um item lexical homônimo de um polissêmico é a verificação da origem etimológica do mesmo, ou seja, um critério diacrônico.

De acordo com ele, sempre que as palavras são idênticas quanto à grafia ou fonética, mas diferentes em suas origens históricas, ter-se-á aí um caso de homonímia.

Lyons (1977/1987,), no entanto, questiona esse critério, lembrando que há casos em que a derivação histórica é incerta. Além disso, de acordo com ele, dada a dinamicidade das línguas naturais, é possível que um caso de polissemia torne-se, em um determinado momento da história da língua, um caso de homonímia. O autor enfatiza que, para a lingüística sincrônica, o critério etimológico é irrelevante. Segundo ele, mesmo que duas palavras estejam relacionadas historicamente quanto aos seus significados, sincronicamente o usuário não costuma estabelecer relação entre elas quando seus significados divergiram de tal maneira a ponto de se pensar que se trata de duas formas completamente diferentes e que nunca estiveram relacionadas antes.

Consideramos o verbo “contar” inserido nos seguintes contextos:

(a) ‘Pedro contou o dinheiro’.
(b) ‘Pedro não contou com Maria, quando mais precisava’.
(c) ‘Ah, essa desculpa não contou’
(d) ‘Pedro contou uma piada’.

Percebemos que o verbo tem diferentes significados em cada um dos períodos acima. No primeiro período o lexema ‘contar’ tem sentido de CONTABILIZAR; no enunciado b ‘contar’ aparece com sentido de OBTER AUXÍLIO; o terceiro enunciado, temos o sentido de VALOR explícito; e finalmente na frase d o significado do verbo é NARRAR.

Se a forma ‘contar’ é a mesma em todas as sentenças, é preciso saber se estamos diante de um caso de polissemia ou de homonímia.

Utilizando o critério diacrônico, analisando a relação dos significados do lexema, constatamos que os dois fenômenos: a homonímia e a polissemia estão presentes neste caso.

Se aumentarmos o nível de abstração dos diferentes significados atribuídos ao verbo nas sentenças acima, percebemos que nos três primeiros períodos temos claro um sentido de valor ao lexema em questão, diferentemente do significado explícito na última sentença, em que não é possível estabelecer nenhuma relação de sentido com os anteriores.

Sendo assim, concluímos que encontramos acima dois lexemas distintos, um primeiro polissêmico, presente nas três primeiras frases, e um outro homônimo deste primeiro que é a forma ‘contar’ da última frase.

Referências:

Aput. CÂMARA JR., J. Mattoso. Dicionário de lingüística e gramática. Petrópolis: Vozes, 1985: FELTES, Heloísa Pedroso Moraes, polígrafo da disciplina Língua Portuguesa VI, sd, sp

Aput Ullmann, S. (1977). Semântica: uma introdução à ciência do significado. 4.ed. (Mateus, J.A.O Trad.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian (Original publicado em 1964). Corbari,

A.T. e Bidarra, J. (2007). O modal dever epistêmico e deôntico: um problema de processamento lexical. Ciências & Cognição; Ano 04, Vol 11, 120-131. Disponível em www.cienciasecognicao.org

Aput LYIONS, John. Linguagem e Lingüística: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 1982 ZAVAGLIA, Claudia. Ambiguidade gerada pela homonímia: revisitação teórica, 2003 disponível em www.scielo.br/pdf/delta

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