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domingo, dezembro 22, 2024

PRIMEIROS SOCORROS AO POLITRAUMATIZADO DE TRÂNSITO

Autor: Roberto Sérgio de Tavares Canto

Introdução

A morte decorrente de acidente em estradas está-se constituindo no 3º flagelo da humanidade, logo após as moléstias cardiovasculares e o câncer. Na Itália, ocorre um acidente a cada minuto e meio com uma morte por hora. Na Alemanha Federal, a cada 31 minutos morre uma pessoa vítima de acidente automobilístico. Nos Estados Unidos e Alemanha, 70% das mortes por acidente nas estradas ocorrem por trauma cranioencefálico. Destas, uma em cada cinco se dá por obstrução das vias aéreas. Nos pacientes mortos, de 20 a 50% teriam se salvado se houvesse uma ajuda médica competente no local do acidente. Outros dados mostram que o número de mortes seria diretamente proporcional ao tempo entre o acidente e o início do tratamento.

A alta incidência de acidentes em nossas estradas faz com que a chance de nos depararmos com um deles, na qualidade de protagonista ou na de espectador, seja realmente significativa. Toda a população deveria receber o treinamento adequado sobre prestação dos primeiros socorros, o que deveria, aliás, ser um requisito para a obtenção da carteira de motorista. Os profissionais da área de saúde, ai destacando-se o médico, deveriam se interessar pelo assunto e procurar adquirir tanto o conhecimento como o equipamento necessários.

O médico tem um papel duplo: primeiro educar-se e depois ajudar os outros a fazer o mesmo. Ainda que não se queira levar em consideração o que se convencionou chamar de solidariedade humana, o médico tem o dever moral de parar num local de acidente e prestar socorro às vítimas. A ansiedade e a sensação de impotência, tão comum nessa situação, só desaparecerão com o conhecimento, com a posse de um mínimo de equipamento e com a experiência nesse tipo de ação. Uma seqüência metódica de ações, que começa com o vislumbre de uma cena de acidente, poderá evitar atrasos desnecessários, salvar vidas e diminuir a morbidez decorrente da “ajuda” ao acidentado por pessoas despreparadas. Esta seqüência poderá ser alterada de acordo com as características do acidente.

Tempo e Local

Devem ser anotados a hora e o local do acidente. O destino das vitimas está nas mãos de quem resolver prestar os primeiros socorros. Esta pessoa dispõe do principal fator que é o tempo. Nos eventos subseqüentes, a excitação faz com que o tempo se escoe rapidamente. Pela mesma razão, a opinião sobre o local pode variar muito entre os espectadores do acidente. Sendo assim, a anotação imediata do local e do tempo decorrido será de fundamental importância para o futuro e definitivo socorro do paciente.

Estacionamento Correto

O pisca-pisca do lado direito deverá ser acionado, para avisar o motorista de trás sobre a parada iminente. Se o veículo for o primeiro a chegar, pode ser mantido na estrada para proteção da área do acidente. Com os faróis traseiros de emergência acesos e com a chave na ignição, o carro poderá ser removido pela polícia, que chegará depois. A melhor posição para o automóvel é aquela em que ele fica obliquamente no acostamento, com o pisca-pisca dianteiro esquerdo e as luzes de emergência traseiras ligadas. Assim estacionado, os faróis dianteiros poderão iluminar a cena do acidente.

Controle da Situação

A identificação de um médico aos que já estão no local, seja motoristas, bombeiros ou a policia, geralmente é bem-vinda. Deve-se, então, assumir o controle do local, procurando pôr ordem numa situação que, freqüentemente, é caótica. Quando possível, deve-se encaminhar pessoas para ambos os sentidos da rodovia, orientando-as para que interrompam o tráfego, com acenos de lanternas, casacos coloridos, jornais, galhos de arbustos e triângulos de emergência. Cuidados devem ser tomados para que essas pessoas não sejam confundidas com pedidores de carona. Não é infrequente haver outros acidentes subseqüentes provocados por motoristas que adentram a cena do desastre em alta velocidade, principalmente quando existe neblina.

Remoção do Perigo

Devem ser desligados os motores dos veículos que, porventura, ainda estejam funcionando. Ninguém pode fumar ria área do acidente. Deve-se evitar também que as pessoas obstruam a luz dos autos que estão iluminando os trabalhos de resgate das vítimas.

Levantamento dos Acidentados

No levantamento do número de acidentados, deve-se levar em consideração o tipo de acidente e o estado dos veículos. Poderá haver pessoas lançadas a distância, escondidas embaixo de carros, caídas embaixo do painel, ou entre o banco da frente e o de trás. Procura-se, então, quantos se acham inconscientes e sem respirar; quantos estão inconscientes, mas respirando; quantos estão sangrando; quantos apresentam traumas leves e quantos estão com traumas graves.

Salvamento da Vida

É importante selecionar a vítima a ser ajudada primeiro. Algumas, com lesões graves e provavelmente irreversíveis, devem ser preteridas em relação a outras que, embora feridas, tenham mais chance de sobrevivência.6 Crianças e velhos devem receber atenção especial pela própria labilidade. Assim, vítimas com trauma cranioencefálico grave, trauma maciço por combinação de afundamento de tórax, trauma abdominal, fratura da pelve, fraturas múltiplas dos membros e queimaduras em mais de 50% de área corporal devem ser deixadas para depois. Primeiro devem ser atendidos pacientes com distúrbios respiratórios, traumas isolados ou combinados com outros menores, como, por exemplo, o afundamento de tórax, abdômen agudo ou fratura de pelve combinados com pequenas fraturas ou queimaduras de menos de 15% de área corporal. Pacientes com pequenos traumas isolados podem ser deixados por último, desde que mantidos em observação, assim como também aqueles que gritam pois, pelo menos, estão com as vias aéreas desobstruídas e perfusão cerebral. Pequenos traumas seriam as fraturas de antebraço, pequenas queimaduras, contusões generalizadas e pequenos ferimentos que, embora impressionem pelo sangramento, não representam maiores problemas.

Vias Aéreas

Pacientes inconscientes, em dificuldade ou parada respiratória, devem ser auxiliados primeiramente, limpando-se a boca do sangue, do muco e de possíveis próteses dentárias. Usa-se um lenço ou pano dobrado, para proteção dos dedos. Desapertam-se também, nesta ocasião, gravatas e colarinhos. Caso não haja retorno espontâneo da respiração, deve-se iniciar a respiração boca a boca ou boca a nariz, em conjunto ou não com a massagem cardíaca externa, caso haja parada cardíaca concomitante. Entretanto, a ausência de resultados, após 15 minutos, seguramente indica mau prognóstico. Todo paciente que, em estado de inconsciência, ainda respira, deve ser removido com cuidado para uma posição de decúbito lateral ou de semipronação, esteja ele ainda sentado dentro do carro, ou já no solo. Dentro do veiculo, ele deve ser gentilmente inclinado para o lado, mantendo-se a mão no queixo, para se fletir dorsal e suavemente a coluna cervical. No solo, consegue-se esta posição, puxando-se o doente pelo cavo poplíteo do membro inferior e pelo pulso do membro superior do mesmo lado, de tal maneira que ele fique em semipronação e com a maio que foi usada para puxá-lo, sob o lado oposto da face. Nesta posição qualquer sangramento, vômito ou muco escoará pela gravidade. A inclinação posterior suave do pescoço abre automaticamente as vias aéreas pela anteriorização da base da língua. Esta mesma manobra só não deve ser usada em crianças pequenas, pois pode-se dificultar a respiração. Neste caso, deve-se suportar a cabeça, pela mandíbula, sem inclinação posterior.

Traqueostomia

A traqueostomia ou a cricotireoidotomia é raramente necessária nos acidentes de estrada e nos traumas comuns da vida civil. Os médicos e mesmo o pessoal que trabalha em primeiros socorros deveriam se familiarizar com a técnica de abertura da membrana cricotireoidiana, usando-se uma lâmina afiada. Como alternativa para salvar a vida, pode-se inserir na traquéia uma agulha de uso endovenoso, e orifício largo.

Hemorragia

Em grande maioria, as hemorragias externas podem ser estancadas pela pressão firme de um tecido dobrado, ou lenço, sobre o ferimento. Pode-se manter a pressão sobre o tecido, enfaixando-se externamente com tiras de camisa, calças ou pedaços de cinto de segurança cortado dos veículos. Raramente, devemos lançar mão de pinças para o pinçamento de vasos ou de garrotes improvisados. Estes, quando usados por mãos inexperientes, podem trazer sérios danos adicionais. Freqüentemente, o torniquete piora o sangramento pela obstrução somente do componente venoso.

Solicitação de Socorro

A solicitação de socorro pode ser feita concomitantemente com os procedimentos tratados nos itens anteriores. Os veículos podem ser parados e os ocupantes argüidos sobre a possibilidade de remessa de informações ao hospital, da existência de radiotransmissores, enfermeiras, médicos, ou pessoas com conhecimento de primeiros socorros. A comunicação com os bombeiros e com a ambulância deve ser por escrito, relatando o que já foi feito, bem como quais as prioridades para o próximo atendimento. Deve-se também informar o tempo e local do desastre.

Remoção das Vitímas

Na Vigência do Perigo. Estaria indicada a remoção rápida das vítimas de dentro do carro, para o acostamento, sem os cuidados necessários, somente na vigência de perigo, como, por exemplo, tanque vazando gasolina, cigarro aceso no interior das ferragens, carro com risco de submergir ou submergindo, veículo prestes a cair em abismo e posição perigosa da vítima no meio de uma auto-estrada. Nestes casos, usa-se a técnica do “agarre e puxe”.

Sem Perigo Iminente. A remoção intempestiva não se justifica nesse tipo de trabalho. Ao ser encontrada uma pessoa inconsciente dentro de um veículo sinistrado, deve-se primeiramente desobstruir as vias aéreas (como já foi exposto). Após o levantamento de todos os ferimentos e das condições gerais da vítima consciente ou inconsciente, podemos fazer as seguintes perguntas: “Onde dói?”, “Como poderei ser mais gentil?”, para não piorar o estado do paciente. O tempo e a experiência têm demonstrado: imobilize o paciente onde ele está. Embora a imobilização seja uma conduta quase que só aplicada em fraturas, ela também prevê um suporte protetor aos tecidos traumatizados.

A tensão ou torção causadas pela remoção manual certamente causarão um trauma adicional a um fígado lesado; um baço rompido; um músculo lacerado ou a um intestino perfurado, mas com o orifício fechado. E imperioso que se cultive entre policiais, enfermeiros, médicos e pessoas ligadas às atividades de primeiros socorros um carinho, para com os politraumatizados, semelhante ao que o cirurgião tem pelos tecidos. Deve-se tentar remover o carro da vítima, e não a vítima do carro, procurando ampliar espaços através da retirada de bancos, bagagem, portas, Adros etc. Também o equipamento deve ser levado ao acidentado e não o contrário. Todas as fraturas devem ser imobilizadas ainda no interior do veiculo, usando-se métodos de fortuna que serão discutidos mais à frente. Mesmo um fêmur fraturado pode ser imobilizado temporariamente, usando-se uma revista ou jornal dobrados e amarrados ao redor da coxa, como primeiro passo para remoção. Quando a situação desaconselhar a espera de uma maca, ou na impossibilidade de se conseguir uma porta, prancha ou banco removível de automóvel nas circunvizinhanças do acidente, recorre-se às manobras de remoção manual. Efetuadas, com calma e técnica, podem, como último recurso, substituir o uso das macas e de pranchas especiais. Para remover a vítima do assento do veículo, é melhor lançar mão de três pessoas. Uma, apenas segura a cabeça de maneira que a posição não se modifique em relação ao tronco, obstruindo a respiração ou agravando urna lesão da coluna cervical. O 2º auxiliar abaixa ao máximo o encosto do assento, abraça, agora, a vitima por trás, segurando em um ou nos dois antebraços da mesma, colocados à frente do abdômen. Desta forma, levanta-se o acidentado, dirigindo-o para fora, de modo que suas nádegas fiquem sobre as coxas do ajudante que, a seguir, se ajoelha e o deposita sobre o cobertor ou jornais estendidos no solo. A 3ª pessoa apenas controla os membros inferiores do paciente, ajudando a retirá-lo do veiculo e depositando-o, no solo, acompanhando as manobras da 2ª pessoa. Quando houver necessidade de transportar a vítima para mais longe, deve-se procurar usar as mesmas três pessoas que, tendo o acidentado entre as pernas, erguem-no pelas vestes ou pelo cobertor, levando-o como urna unidade e cuidando para que não se interrompa a respiração. Na ausência de ajudantes, pode-se, quando a ocasião o indicar, resgatar e transportar o paciente pelo método de Rautek, 11 que consiste basicamente na mesma manobra efetuada pelo 2º auxiliar, descrita anteriormente.

Tratamento do Choque

Tenta-se controlar inicialmente o choque, na cena do acidente, estancando-se a hemorragia externa; promovendo-se a autotransfusão através da elevação dos membros inferiores, imobilizando-se os ferimentos para alívio da dor e quando factível, infundindo-se líquidos expansores do plasma. A forma mais grave do choque é a parada cardíaca. Nestes casos, deve ser feita a massagem cardíaca extratorácica acompanhada, caso necessário, pela respiração artificial. A pressão sobre o esterno de uma criança pode ser feita com uma mão apenas. No lactente, bastam dois ou três dedos. Nem sempre é fácil decidir pela infusão endovenosa. Sabe-se, por experiências no Vietnã e Israel, que, mesmo após perda sangüínea intensa, os jovens não apresentavam lesões renais graves, quando não havia uma demora de mais de 20 minutos entre o acidente e a sala de emergência. Pelas características do nosso pais, dificilmente alguém poderá chegar ao hospital nesse prazo, o que nos autoriza, sempre que possível, a proceder à infusão no local do acidente. E interessante tentar fazer-se uni inventário das lesões e do tipo de acidente, e dai uma estimativa da perda sangüínea real. Uma hemorragia de 25 a 30% do volume sangüíneo total (equivalente no adulto a um volume de duas a três transfusões) não deve assustar a pessoa que ministra os primeiros cuidados. O paciente necessita principalmente de conforto e proteção contra o frio. Entretanto, quando possível, deve ser usada infusão endovenosa nesses pacientes.

Pneumotórax

A permanência de dificuldade respiratória, após a desobstrução das vias aéreas pelos métodos simples de primeiros socorros, pode indicar duas coisas: embriaguez ou trauma de tórax. Quando o trauma é bilateral, o diagnóstico é fácil. Em escala menor, o diagnóstico pode ser extremamente difícil. A respiração paradoxal, assim como a cianose, é difícil de ser vista com luz insuficiente. O tipo de acidente pode ajudar na busca do diagnóstico. Deve-se sempre apalpar as costelas, principalmente em lesões que se suspeite serem causadas pela direção do veículo. Se um paciente com fraturas múltiplas de costelas apresenta movimento paradoxal, deve-se imobilizar o seu tórax através de um suporte firme sobre a região, suficiente para dar alivio e reduzir a amplitude do movimento. Algumas vezes, podemos apertar a mão sobre as fraturas, ou deitar o paciente sobre o lado fraturado, para que o movimento paradoxal seja controlado pelo seu próprio peso. Algumas pessoas com trauma torácico sentem-se melhor quando sentadas. O pneumotórax é, seguramente, a pior complicação advinda do trauma torácico. Sempre que existirem sinais e sintomas oriundos de lesões causadas pela direção do automóvel – desvio de traquéia, percussão alterada, enfisema dissecante, fraturas de costelas, cianose e dispnéia em pacientes com as vias aéreas pérvias, devemos suspeitar desse diagnóstico. Na ventilação normal, nota-se, no pneumotórax, um aumento da resistência ao esforço respiratório. Um pneumotórax pequeno, fechado, poderá ser drenado posteriormente, não sendo uma condição de extrema urgência. O pneumotórax hipertensivo já é mais grave. A tensão pode ser aliviada temporariamente pela inserção de uma agulha endovenosa grossa na cavidade pleural. Na ausência de um cateter próprio, pode-se inserir uma agulha na face anterior do tórax, no 2 º espaço intercostal. O ideal seria a inserção de uma cânula através de um trocater usado em conjunto com uma válvula de Heimlich. 21 Veias ingurgitadas no pescoço e cianose indicam sinais terminais. Pacientes em estado muito grave podem ter o tórax drenado bilateralmente com agulhas. A drenagem definitiva, corri o dreno torácico no selo de água ou com a válvula de Heimlich, deve ser instalada logo que possível. Feridas abertas aspirativas devem ser imediatamente cobertas com um curativo estéril. Um pedaço de plástico, colado sobre a ferida em apenas três de seus quatro lados, não permitirá a entrada do ar, propiciando o escoamento de sangue e do ar da cavidade pleural. Afortunadamente, o pneumotórax traumático raramente requer um tratamento de urgência na cena de um acidente.

Fraturas e Ferimentos

Deve-se, inicialmente, cobrir os ferimentos e fraturas expostas com um pedaço de pano limpo, seguido de enfaixamento com fragmentos de tecido: pedaços de toalhas, camisas, gravatas etc. A imobilização das fraturas e dos membros com graves ferimentos e da coluna vertebral reveste-se de extrema importância, devido a dois fatores: diminui a dor, contribuindo para a não-piora do choque e minimiza o dano às estruturas circunvizinhas à área traumatizada. Para isso, podemos lançar mão dos métodos eventuais, que são métodos de improvisação no local do acidente com base no bom senso, inteligência e treino das pessoas presentes.

Cabeça e Pescoço

Após a desobstrução das vias aéreas de uma pessoa encontrada inconsciente, sentada dentro de um veículo, deve-se estabilizar a cabeça na posição de discreta flexão dorsal, usando-se folhas de jornais, revistas, capas e folhetos enrolados ao redor do pescoço e fixados com um cinto, de tal forma a permitir-lhe a respiração. Uma pessoa deve permanecer ao lado do paciente até a chegada da equipe definitiva do socorro, pois se o paciente tentar vomitar, não poderá mais permanecer sentado. Deve-se, então, retirar a imobilização e colocá-lo no banco em decúbito lateral.

Ao se posicionar em discreta flexão posterior o pescoço de um traumatizado de crânio, deve-se aproveitar a ocasião para evidenciar possíveis lesões na coluna cervical. Haveria, em 10% das vezes, uma concomitância entre trauma craniano, e lesão da coluna cervical.

Caso o paciente esteja inconsciente, pode-se transportá-lo em decúbito ventral, sobre uma prancha ou maca. Paciente consciente deve ser transportado em decúbito dorsal com suporte para lordose cervical e dois suportes laterais que podem ser conseguidos com rolos de tecido (cobertor, colcha ou capa dos assentos do automóvel)

Coluna Toracolombar

Gentilmente, rola-se o paciente para uma maca, prancha ou porta, procurando nunca fletir a coluna, e transporta-se, caso o paciente esteja consciente, em decúbito dorsal; em decúbito ventral, caso esteja inconsciente. O ideal seria que o resgate fosse feito por pessoal treinado e em pranchas especiais que imobilizam totalmente o paciente, quando ainda dentro do veículo. Pode-se transportar o paciente usando-se o próprio banco do veículo.

Tórax

Os traumas leves de tórax, assim como as fraturas não complicadas, devem ser tratados com enfaixamento, usando-se para isso pedaços de pano, ou mesmo esparadrapo quando disponível. Deve-se conservar também o antebraço, do lado fraturado, na tipóia.

Fratura do Úmero e do Cotovelo

. Aplica-se tração forte e mantida, para correção de grandes deformidades angulares do membro. Coloca-se, então, uma faixa e uma tipóia com uma pequena almofada na axila. Outra maneira seria enfaixar o braço e o antebraço colados ao tórax, mantendo-se também uma almofada na axila.

Fratura do Antebraço e Punho

Podem ser utilizadas pequenas tábuas almofadadas, com pano, enfaixadas ao redor do antebraço com tiras de tecido. Podem-se também usar revistas ou jornais dobrados, formando uma calha, fixando com correias. Deve-se manter uma tipóia.

Fratura do Fêmur

Aplica-se uma tração forte e mantida, para correção de grandes deformidades angulares do membro. Para se remover o paciente do interior do veiculo, pode-se imobilizá-lo in loco com jornais e revistas dobradas e, depois, já fora, aplicar-lhe a férula de Thomas. Pode-se também amarrar um membro ao outro com várias tiras de pano ou usar tábuas fixadas com tiras ou correias improvisadas.

Fratura do Joelho e da Tíbia

Pode-se enrolar o membro com um tecido grosso. Colocam-se tábuas por fora, fixadas com tiras de pano.

Fratura do Tornozelo e do Pé

Pode ser aplicado um lençol ou um cobertor dobrado, fixado com alfinetes ou tiras de pano. Um bom material para ser utilizado, como faixas e tipóias, nessas urgências, é o cinto de segurança dos veículos. O bom senso indicará, no local do acidente, vários materiais a serem utilizados: capas de assentos, casca e galhos de árvores, bambu, cobertores, jornais, tapetes dos autos etc.; revistas e tecidos oriundos de diferentes tipos de vestimentas.

Situações Especiais

Objeto Penetrante no corpo. Em situações felizmente raras, quando nos deparamos com estacas, pedaços de metal, fragmentos de madeira, penetrando no tórax ou abdômen, devemos proceder com a máxima cautela, só fazendo extração na sala de emergência do hospital. A hemorragia que advir da retirada pode ser fatal, se não houver recurso necessário à mão. Às vezes a parte externa do objeto pode ser cortada para permitir a movimentação do paciente.

Amputações. Membros oriundos de amputações traumáticas devem ser embrulhados num saco de plástico e imersos em água fria. A reimplantação pode ser possível. Um membro esmagado, preso nas ferragens, deve ser garroteado na parte proximal da parte não-viável, e mantido até a amputação. Felizmente, na maioria das vezes, o trauma não é tão grave, bastando enfaixar o membro e imobilizar por fora para o transporte ao hospital.

Queimadura. Presença de taquipnéia, dispnéia, rouquidão e tosse pode indicar queimadura de vias aéreas. Se confirmado, deve-se administrar oxigênio e ventilar o paciente, para que ele possa esperar pela intubação com maior chance de sobreviver.34 A estimativa de área corporal queimada pode ser feita pela regra dos nove. Se a área queimada ultrapassar 15% do corpo, deve-se começar a infusão com soro fisiológico. Cobrem-se, então, as áreas queimadas com tecido limpo e de preferência estéril. Não se deve usar nenhuma substância no curativo.

Medicação

É um ponto importante a ser considerado durante os primeiros socorros. Embora ainda existam algumas discordâncias, pelo menos em alguns pontos existe um consenso. A via a ser usada é sempre a endovenosa pois, por via intramuscular, pode haver superdosagem após a recuperação do estado de choque. Devem-se sempre usar analgésicos que não deprimam a respiração. Sinais de alcoolismo contra-indicam a administração de analgésicos. A medicação comum de escolha recai sobre a dolantina (meperidina) potencializada pelo diazepam. São medicações mais fáceis de serem adquiridas e manipuladas, além de terem uma excelente ação analgésica. Envie sempre ao hospital uma anotação sobre a medicação administrada.

Transporte do Acidentado

Excepcionalmente, haverá justificativa para não se proceder com calma, desde o momento em que o paciente é colocado na ambulância, até a chegada ao hospital. A pressa em conduzir o veículo agrava a dor do paciente, contribuindo para a piora do choque; pode reativar hemorragias, principalmente internas que estariam sendo controladas pelo próprio organismo e aumenta o risco de trauma adicional nos ossos fraturados, além de submeter o paciente e a equipe que o assiste ao perigo de um novo acidente. Quando o número de vítimas, o tipo de trauma e o tempo de viagem da ambulância indicarem, pode-se, com bom senso, pro-videnciar outros meios de transporte: veículos maiores, de preferência com o banco traseiro removível. De maneira geral, tudo que foi analisado sobre primeiros socorros, na área do acidente, deve ser repetido dentro da ambulância num nível superior de atendimento.

Equipamento de Primeiros Socorros

Todo médico deve organizar sua própria maleta de primeiros socorros com o equipamento que julgar importante manter em seu automóvel. O treinamento das diferentes técnicas de auxilio a politraumatizados é fundamental e geralmente feito com facilidade. Num país que detém recordes mundiais de acidentes de trânsito, este treinamento pode significar a própria sobrevivência ou a de outro ser humano. A maleta de socorros pode ser montada seguindo-se um roteiro baseado nas prioridades do atendimento e nos produtos que podem ser encontrados no comércio:

Vias Aéreas. Cânula orofaríngea (Guedel, Safar)*; tubos endotraqueais* ; seringa para insuflar o manguito* , pinça de Magill* ; fita adesiva ou esparadrapo* ; pêra para sucção; cânula endovenosa* (para punção cricotireoidiana), e bisturi para traqueostomia (ou abertura da membrana cricotircoidiana).

Respiração. Conjunto de bolsa e máscara para ventilação (ambu); material de drenagem de pneumotórax com válvulas do tipo Heimlich; bala pequena de oxigênio (KT), e cânula endovenosa* (drenagem de pneumotórax).

Circulação: Seringas descartáveis* ; equipos de soro* ; soros fisiológico* , glicosado* e Ringer-lactado* : Haemaccel* ; Butterfly ou escalpes 19 e 21*; abottcath nº 18*.

Complemento. Rolos de faixa de morim, faixa de crepe, pacotes de gaze esterilizada; ataduras gessadas, férulas insufláveis; pedaços de plástico para isolamento de feridas abertas; cobertores obtidos de plástico de uso agrícola; lanterna; lápis, papel e porta-etiqueta; bicarbonato de sódio 3%, inoval, dolantina ou demerol, gluconato de cálcio, hidrocortisona, propoxifeno.

* Equipamentos capazes de manter uma via aérea, ventilar os pulmões, drenar um pneumotórax e possibilitar uma infusão endovenosa. Estes materiais não são caros e podem ser acondicionados numa pequena caixa impermeável.

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