A compensação para quem faz essa terapia é um estímulo imunológico. “É um método facílimo, com custo baixíssimo. Basta apenas uma seringa. O sangue é retirado no momento, não se faz nenhuma técnica com o sangue. E ter uma pessoa que saiba aplicar na veia, para fazer a retirada”, explica Dr. Luiz Moura, no DVD.
O segredo da auto-hemoterapia está nas células chamadas macrófagos, que fazem parte do Sistema Imunológico. São células de defesa, que fazem a limpeza ou comem de tudo: as células cancerosas, os vírus, as bactérias, e até as fibrinas, que é o sangue coagulado. O Dr. Luiz Moura explica que a aplicação do próprio sangue funciona como um ativador de macrófagos.
Quando o sangue é aplicado no músculo, o Sistema Retículo-Endotelial (SRE) o reconhece como um corpo estranho e é rejeitado, assim há o aumento de produção de macrófagos pela medula óssea. “A taxa de macrófagos no sangue é de 5%, com a auto-hemoterapia, eleva-se para 22%”, diz o médico. Isso significa, em linhas gerais, que o organismo fica super protegido.
Essa taxa fica nesse valor por cinco dias e depois começa a declinar. No sétimo dia já se normalizou. Por isso, o procedimento deve ser repetido de sete em sete dias. O processo é muito lógico e fácil de entender, com a quadruplicação dos macrófagos, o organismo aumenta quatro vezes também o poder de destruir corpos estranhos como: vírus, células cancerígenas, bactérias, doenças auto–imunes (que é uma reação do organismo quando uma proteína normal é reconhecida como estranha, por exemplo, artrite reumatóide, lúpus, diabete tipo I, vitiligo, esclerodermia, psoríase), inclusive para Aids, pois com o sistema imunológico ativado aumenta as chances de bloquear os efeitos da doença. Quer dizer, para quase todas as doenças, mas principalmente também, como prevenção.
A auto-hemoterapia não foi uma criativa invenção da mente do Dr. Luiz Moura. As bases dele foram dois trabalhos científicos e também seu empirismo clínico. Em março de 1940, o professor Dr. Jessé Teixeira publicou na Revista Brasil – Cirúrgico o trabalho “Autohemotransfusão: Complicações Pulmonares Pós-Operatório”. Naquela época a grande dificuldade era as infecções pulmonares pós-operatórias, frutos do éter usado para anestesiar, que irritava os pulmões; daí a grande importância desse trabalho, tanto que foi premiado pala Academia de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro.
Com esse trabalho o Dr. Jessé Teixeira descobriu uma maneira de combater essa infecção pulmonar, retirando o sangue de uma veia da prega do cotovelo do paciente e injetando na nádega. Na pesquisa, ele utilizou o método em 150 pessoas, em diferentes cirurgias, não apresentado nenhuma infecção. E comparou com outras 150, que não usaram a técnica, nas mesmas cirurgias, obtendo 20% de infecções.
Como aquela não era a primeira experiência de autohemotransfusão (o trabalho do Dr. Jessé foi baseado no artigo do Dr. Michael W. Mettenlette, “Autohemotranfusion in Preventing Postoperative Lung Complications”, publicado em maio de 1936, no The American Journal of Surgery, em que foram relatados os excelentes resultados do processo, como método preventivo das pneumonias pós-operatórias declaradas), tinha-se uma “explicação razoavelmente clara e perfeitamente aceitável”, nas palavras de Dr. Jessé, em seu trabalho, de como funciona. “Quando o sangue empregado fora de sua situação normal, no aparelho circulatório, ele se torna uma substância completamente diferente para o organismo”. Assim, o sangue extraído de uma veia e colocado em contato com um corpo estranho (seringa), tem-se sua físico-química alterada. E ao ser injetado no organismo atua como uma proteína estranha.
E não ficou apenas nisso, a maior contribuição do Dr. Jessé Teixeira para a auto-hemoterapia foi a constatação científica do porquê de a injeção do próprio sangue no paciente prevenia e combatia as infecções, estimulando o Sistema Retículo-Endotelial, e conseqüentemente aumentando a produção de macrófagos, as células responsáveis pela defesa. Provocando a formação de uma bolha na coxa de pacientes, passando cantárida, um inseto que transformado em pó é usado na medicina e é irritante na pele. Analisando o conteúdo da bolha, ele verificou que a quantidade de macrófagos era de 5%. Fez o mesmo experimento outras vezes e a taxa continuava a mesma. Depois fez a experiência com a auto-hemoterapia. Após oito horas a taxa estava em 22%, para depois ir decaindo gradualmente, e no fim do sétimo dia voltou para os 5% iniciais.
Após 36 anos desse trabalho, em março de 1976, o Dr. Ricardo Veronesi, publicou na Revista Medicina de Hoje o artigo “Imunoterapia: O impacto médico do século”, que nas palavras do Dr. Luiz Moura sobre os dois trabalhos, “parece que um foi feito para o outro”. O artigo do Dr. Veronesi não falava especificamente de auto-hemoterapia, mas explicava bem as funções do SRE, ampliando o leque de ações, que na época do Dr. Jessé Teixeira se restringia às infecções causadas por bactérias.
Os estudos em imunologia já haviam avançado muito é se tinha descoberto novas funções para o SRE: limpeza de partículas estranhas provenientes do sangue ou dos tecidos (inclusive células neoplásicas, cancerígenas), toxinas e outras substancias tóxicas; limpeza de esteróides e sua biotransformação (eliminação de hormônios); remoção de micro agregados de fibrina e prevenção de coagulação intra vascular (previne tromboses e infatos); ingestão do antígeno, seu processamento e ulterior integra aos linfócitos B e T (antígeno que produz a reação alérgica); biotransformação e excreção do colesterol; metabolismo férrico e formação de bilibirrubina; metabolismo de proteínas e remoção de proteínas desnaturadas (anormais); e desintoxicação e metabolismo de drogas. “Respondendo por tantas e tão importantes funções, fácil é de se entender o papel desempenhado pelo sistema RH no determinismo favorável ou desfavorável de processos mórbidos tão variados como sejam os infecciosos, neoplásicos, degenerativos e auto-imunes”, conclui Dr. Ricardo Veronesi sobre a função do SRE. Esse trabalho de imunoterapia se restringia na importância de se estimular o Sistema Imunológico do organismo, mas através de vacinas, já que o Dr. Veronesi era, na época, um dos maiores especialistas nessa área.
Ele descreve o SRE como o principal componente do Sistema Imunológico, tanto que tem maior destaque em seu trabalho. E sua ativação na imunoterapia é fundamental. Essa estimulação produz mais macrófagos, que são as células que fazem a limpeza e destruição de partículas estranhas. É a mesma lógica da auto-hemoterapia. A única diferença é a utilização do próprio sangue.
Só esses trabalhos ainda não são suficientes para ter uma “fundamentação científica”. Mas ainda há outros. Em 1911, F. Ravaute já empregava a auto-hemoterapia em diversas enfermidades infecciosas, dermatoses, em casos de asma, urticária e estados anafiláticos.
O Conselho do Rio de Janeiro (Cremerj), num parecer sobre a prática da auto-hemoterapia, em que condena o uso, não aceita esses trabalhos por serem antigos. “Não há na literatura médica recente, ou mesmo antiga (até 20 anos), nenhuma referência que recomende a utilização da hetero ou auto-hemoterapia. Utilizar este tipo de prática para reforçar o sistema imunológico, tratar cânceres ou qualquer outra doença, de qualquer etiologia, não tem absolutamente nenhum respaldo em trabalhos científicos”, diz o parecer.
O próprio Dr. Luiz Moura, no DVD, ressalta a importância e necessidade de se fazer estudos sobre auto-hemoterapia. Em relação a quantidade, o peso corporal, a técnica em crianças e adultos. Porém, esses trabalhos e a prática também geram outras dúvidas: não ficou bem explicado no trabalho do Dr. Jessé Teixeira o motivo do sangue ao ser injetado no músculo estimula o SRE. Em quais doenças que realmente funcionam? Pela função dos macrófagos são várias, mas teria que estudar uma por uma. Pode-se haver casos de pessoas não recomendadas para a terapia? Produz-se algum efeito com o uso contínuo?
Nesse último caso, o Dr. Luiz Moura é o exemplo que não faz mal, pois usa a técnica há 28 anos e tem uma ótima saúde. Ele confirma que os estudos dele vieram todos da prática. “Tenho certeza que é uma técnica absolutamente inocente que nenhum mal faz para as pessoas”. Apenas em casos graves ele recomenda que se faça a aplicação toda semana. Em outros, diz para o paciente dar um tempo entre uma e outra. Não por fazer mal, mas para descansar os músculos e veias.
Além da esculhambação da classe médica, os argumentos usados pelo CFM e os Conselhos Regionais são, no mínimo, cômicos. Fala-se que esse método (injetar o próprio sangue) pode oferecer riscos para a saúde, mas não falam quais. Outro ponto engraçado é em relação ao perigo do uso de agulhas e seringas. Esse, então, seria o mesmo risco que qualquer pessoa corre ao se submeter a um exame de sangue ou tomar uma vacina.
Mas o mais importante é sobre os efeitos ou benefícios terapêuticos, que segundo os Conselhos de Medicina e classe médica em geral, não existem. Não há ainda uma pesquisa especifica de auto-hemoterapia, com tudo comprovado. Porém, não se pode ignorar o fato de que várias pessoas estão utilizando a aplicação e estão melhorando, em relação a várias enfermidades.
“Medicina é a arte de curar. Eu só tenho um compromisso com os meus pacientes: aliviar o sofrimento e se possível curar. E por isso, não respeito os chamados padrões científicos. ‘Isso não posso fazer porque não é comprovado pela ciência’. Para mim, o que comprova qualquer coisa é o efeito do tratamento. Se produz benefícios para o paciente, é um tratamento cientifico. Mesmo que não saibamos quais os mecanismos de ação. Eu uso recursos sejam quais forem para beneficiar os pacientes. Depois, então, tenho uma mente com forte tendência para investigação, não me satisfaço e procuro saber o porque se curou”, conta o seu modo de trabalho Dr. Luiz Moura.
Por que não há interesse?
O professor Ed Garcia afirma com convicção que auto-hemoterapia é medicina social. Praticamente tendo apenas o custo da seringa. E quando se fala em dinheiro, o social e o humanismo desaparecem, ficando apenas o econômico. Ao perguntar para qualquer paciente que faça aplicações ou para os profissionais que aplicam e prescrevem, por que a classe médica não aprova nem se interessa pelo assunto? Por que não existem pesquisas? Surge um vilão para a auto-hemoterapia: a indústria farmacêutica.
Remédios e medicamentos são boas fontes de lucros. Os laboratórios investem pesado nos estudos e pesquisas de novas formas de tratamentos. E, evidentemente, querem retorno. Essa é a lógica do mercado. O Dr. Luiz Moura, que dá a cara para bater sem medo, e não é muito querido pela indústria farmacêutica (tanto que quando foi presidente do INPS, hoje corresponde ao INSS, no governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, chocou-se de frente com a mesma, o resultado, além de ameaças de atentados, ficou apenas sete meses à frente da instituição), canta a pedra sobre o interesse dos laboratórios: “Nem pode haver. Estão certíssimos, só vai dar prejuízos”, fala o médico. “Vai vender o sangue dos próprios pacientes?”.
Mesmo não dando para contar com os financiamentos da indústria farmacêutica, ainda há os médicos e as universidades que podem ter interesses. “A maioria está comprometida”, continua Dr. Luiz Moura. O marketing feito pelos laboratórios é muito grande. É normal o paciente receber dos médicos, nas consultas, amostras grátis, que são pequenos brindes da indústria aos profissionais.
Mas o lobby não fica apenas nisso. Isso seria muito pequeno. Além dos recursos para pesquisas, já são famosas as acusações do financiamento dos laboratórios para médicos e professores universitários irem a congressos e viajar. Isso com tudo incluso, inclusive podendo levar a família. “É um investimento estritamente inteligente”, ironiza Dr. Luiz Moura. “Eu faria o mesmo”.
Uma matéria publicada no jornal New York Times, no dia 12/02/2007, de autoria de Stephanie Saul, “Médicos e laboratórios farmacêuticos: uma medida para acabar com os conflitos de interesses”, mostra que nos Estados Unidos há grupo de médicos insatisfeitos com essa “promíscua” relação, condenando até mesmo os almoços gratuitos entregues nos consultórios médicos e as canetas com logotipo de laboratórios.
Junto com a Community Catalyst, um grupo de defesa de pacientes, e o Instituto Medicina como Profissão, lançaram o Projeto Prescrição, que será uma campanha nos centros acadêmicos, entidades de médicos, para disseminar essas restrições e basear as prescrições de medicamentos em evidências médicas, não em marketing.
Pacientes desobedecem médicos
Enquanto a comunidade médica fica discutindo, ou melhor, ironizando a auto-hemoterapia, chamando de charlatanismo, xamanismo, curandeirismo, e outros ismos, e ninguém quer fazer pesquisas nem torná-la aceita pelo CFM; os pacientes, que não encontraram cura nos medicamentos prescritos, continuam procurando as aplicações. E os resultados são fabulosos.
Em Goiânia, o professor Ed tem o seu terapeuta, que também atende outras pessoas. O terapeuta, adepto das terapias complementares, aprendeu sobre a auto-hemoterapia em seu curso de Medicina Biomolecular, e sabe muito bem que não há nenhum risco. Ele diz que qualquer alimento industrializado, consumido diariamente pela população, tem mais chances de fazer mal, por ser um corpo estranho e com muitas substancias nocivas ao organismo.
Mas o terapeuta não é o único. Um farmacêutico que aplica, sem cobrar nada, apenas para ajudar, conta que já são mais de cem pessoas fazendo em sua farmácia. Ele decidiu fazer depois de aplicar em si mesmo, por ter um problema de acne, e ter uma cura que não havia tido com medicamentos.
Já que os médicos estão se escondendo, as pessoas buscam formas de fazerem as aplicações. Além de terapeutas, farmacêuticos e enfermeiras, o mais impressionante é o número de pessoas que faz em si mesmas. Aprende-se a manusear uma seringa e começa a aplicar na família e amigos. Até existe um grupo que toda semana se reúne para a aplicação. A técnica é simples, mas a displicência da comunidade médica faz com que os pacientes corram riscos, por não estarem aptos a retirar o sangue e injetar no músculo.
Essa proibição faz crescer o medo e apreensão. “Se ficarem sabendo que eu faço e tem resultados vêm aqui e me mata”, brinca o terapeuta. Porém, essa brincadeira tem um fundo de verdade. Quem faz não quer se identificar. Até mesmo os pacientes não gostam de se identificarem. O farmacêutico se mostrou relutante em conversar. Fica parecendo que estão fazendo algo errado, que faz mal para a população.
Em todo país surgem manifestações, e os Conselhos Regionais tentam perseguir.Em Rondônia, foi vinculado pela imprensa do Estado, que o Conselho de Medicina entrou com uma ação no Ministério Público contra os profissionais de enfermagem que fazem. Em Recife, um médico, Dr. Marcos Paiva, é um dos poucos do Brasil que tem coragem de assumir a auto-hemoterapia. Sem contar, que o Secretário de Saúde de Olinda, Dr. João Veiga, estuda a possibilidade de colocar o método na rede pública de saúde da cidade.
Mas o caso mais famoso é do Dr. Luiz Moura. Desde o final da década de 1970 ele estava aplicando a auto-hemoterapia e ajudando muitas pessoas no Estado do Rio de Janeiro. Ao sair o DVD, também passou a ser perseguido. Uma médica “ignorante”, nas palavras do próprio médico, o denunciou ao Conselho do Estado no ano passado. Dr. Luiz Moura teve que se defender para uma banca de 38 médicos, mas acabou sendo fácil, pois os argumentos que a médica usou foram ridículos e preconceituosos. Ele afirmou que o médico estava esclerosado, por causa de sua idade, em palavras populares, “estava gaga”. Para isso, ela usou o número de seu registro, 41.690, ou seja, já bem antigo, da década de 1940. No fim, Dr. Luiz Moura venceu a disputa por unanimidade, 38 a 0, e hoje está devidamente autorizado a praticar a auto-hemoterapia no Rio de Janeiro.