O LÚDICO COMO PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA A CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM CANCER.
RESUMO
Essa pesquisa foi realizada na Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (ACACCI) e teve como objetivo analisar como a ludicidade pode minimizar os efeitos das enfermidades causadas pelo câncer em crianças e adolescentes, e a relevância do professor de Educação Física, como mediador, junto a uma equipe multidisciplinar. Para realização da coleta de dados e análises, desenvolvemos um plano interventivo de atividades, utilizando jogos, brincadeiras, músicas, danças, festas, dinâmicas de grupos, teatro e contação de histórias, para provocar momentos de ludicidade, envolvendo os pesquisados. Quanto à metodologia é uma pesquisa de caráter descritivo e explicativo, como procedimentos técnicos trabalhamos com relato de experiência em aproximação a uma pesquisa-ação, onde as ações são planejadas envolvendo os pesquisadores e os pesquisados no processo. Os instrumentos utilizados para os registros da pesquisa contam com: observações sistemáticas, entrevistas, fotografias e depoimentos.
Mesmo sendo um público com risco de morte eminente, e ainda reconhecendo o câncer como uma doença crônica, oportunizamos a essas crianças e adolescentes experimentarem sua humanidade, explorando suas emoções e influindo assim na sua qualidade de vida. As análises ocorreram mediante os depoimentos dos pesquisados e seus acompanhantes, as observações, e o envolvimento dos pesquisado. Concluímos que o trabalho sistematizado e estruturado realizado pelos educadores físicos pode promover uma melhora significativa na qualidade de vida dos pesquisados, no que se refere à humanização. Por outro lado, nos damos conta de que o trabalho do professor de Educação Física vai além dos muros escolares, academias ou treinar uma equipe desportiva.
Palavras chave: LÚDICO, QUALIDADE DE VIDA, CÂNCER
ABSTRACT
This research was made at “Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (ACACCI)” and had as its goal to analyze how games and leisure activities can minimize the effects of diseases caused by cancer in children and teenagers, and the relevance of the Physical Education teacher , as a mediator, together with a multidisciplinary team. In order to collect and analyze the data, we developed a interventive plan of activities using games, music, dances, parties, group activities, theater and story telling to provoke moments of happiness involving the children. As far as methodology is concerned, this research is self-explanatory and descriptive. As technical procedures we made use of experience accountability linked to an “action-research”, in which our actions were planned involving the researchers and their subjects in the process. We registered our research with: systematic observations, interviews, photographs and testimonials.
Even though the object of this research was in the risk of dying, and aware of the cancer as a chronic disease, we gave them the chance to experiment human feelings, exploring their emotions and improving their quality of life. These analyses took place on the children and their companions’ statements, observations and how they got involved in these activities. We concluded that a well structured and systematized work done by Physical Education teachers can promote meaningful improvements in the quality of life of these children and adolescents, as far as humanization is concerned. On the other hand, we also concluded that the Physical Education teacher’s duties go far beyond schools, gyms or training a sports team.
Key Words: Ludic, Quality of life, Cancer.
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO
2 – REVISÃO DE LITERATURA
2.1 – QUALIDADE DE VIDA
2.2 – ATIVIDADE LÚDICA E O SER HUMANO
2.3 – O CÂNCER
2.3.1 – O CÂNCER INFANTIL
2.4 – VIVÊNCIA LÚDICA COMO PROPOSTA PARA MINIMIZAÇÃO DOS EFEITOS DO CANCER EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
2.4.1 – O PAPEL MEDIADOR DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FISICA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM CANCER: UM NOVO DESAFIO
2.5 – EDUCAÇÃO FÍSICA NO CENÁRIO DA SAÚDE
3 – OBJETIVO
3.1 – OBJETIVO GERAL
3.2 – OBJETIVO ESPECÍFICO
4 – METODOLOGIA
5 – RESULTADO, ANÁLISE E DISCURSÃO DE DADOS
6 – CONCLUSÃO
7 – REFERÊNCIAS
8 – ANEXOS
1 – INTRODUÇÃO
O câncer de acordo com dados do Ministério da Saúde, o câncer é a terceira causa de morte entre criança/adolescente com menos de 15 anos. Considerada uma doença crônica, leva a esse grupo e seus familiares (mudanças na dinâmica familiar, perda do trabalho, sentimento de perda e sentimento de culpa), a uma exposição constante ao estresse, a necessidade de visitas regulares ao hospital, gerando assim nessa esfera, por conseqüência muitos prejuízos a criança e do adolescente na sua totalidade humana. Pedrosa afirma.
Observa-se que, além das dificuldades que a própria doença traz, as condições de hospitalização podem afetar a totalidade da criança, de forma que os seus desenvolvimento físico, emocional e intelectual fiquem comprometidos (PEDROSA et al.,2007, p.?)
Nesse sentindo, podemos enumerar como prejuízos: a dor psicológica – da separação dos amigos, dos familiares, dos brinquedos, da professora de escola, dos animais de estimação; a dor fisiologia – vômitos, alopecia, feridas na boca, perda de peso, náuseas, deficiência do sistema imunológico, dores musculares, hematomas; a dor anatômica – ocorrendo uma desconfiguração na sua aparência, mutilações e como um caso que vivenciamos na ACACCI a cegueira) e outros efeitos resultantes do tratamento dessa patologia. Sendo assim, o período de sua infância passa a ser diferente de uma infância de uma criança saudável. E conforme veremos ainda nessa pesquisa, crianças e adolescentes por conseqüência de toda essa mudança, acabam acarretando sentimentos como raiva, depressão, medo, insegurança e revolta.
Dentre vários fatores adversos existentes nessa patologia, surge à necessidade de um tratamento mais humano, capaz de olhar para o paciente como um todo em sua essência, aquele que precisa experimentar mesmo em risco de morte eminente a sua humanidade, onde entram, neste sentindo, o carinho, o prazer, o respeito, atenção, amor, compreensão, alegria, condições para enfrentamento do medo e das ansiedades, reduzindo dessa forma o sofrimento.
Para usufruir e vivenciar esses sentimentos, sugerimos nas atividades lúdicas uma fonte significativa para essa exploração. Dessa forma, a proposta da nossa pesquisa foi verificar quais reações teríamos no processo de melhora para os pacientes de neoplasia quando manifestada essas atividades.
O Lúdico, quanto à definição, é uma palavra pouco esclarecedora, mas de caráter abrangente enquanto manifestação, não se resumindo a um só elemento, como citado por Santin.
Não há como insistir em querer formar uma compreensão inteligível de ludicidade, porque ela a empobrece e talvez, a negue. A ludicidade pode ser vista em seus horizontes, quando ela se levanta e se poe antes e depois de criado e desfeito o planeta do brinquedo na fantasia de seu criador que brinca (SANTIN, 1993, p. 28).
A pesquisa apresentada, também aponta a importância do professor de Educação Física como um mediador junto a uma equipe multidisciplinar de saúde, promovendo atividades sistematizadas que irão contribuir para a promoção da saúde a crianças e adolescentes com câncer da Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (ACACCI).
Mediante essa reflexão, chegamos à seguinte pergunta: Como a atividade lúdica, assistida e orientada por um professor de Educação Física, pode auxiliar para a promoção de uma qualidade de vida melhor a crianças e adolescentes com neoplasia.
Nossa hipótese vai ao encontro com a idéia de que através da intervenção do professor de Educação Física crianças e adolescentes experimentem e explorem emoções como a alegria, energia, vitalidade, o prazer e o bem-estar. E também compartilhem experiências, festas, jogos e brinquedos, enfim, mergulhar nos elementos lúdicos e seus benefícios como um processo potencializador na recuperação e adaptação de crianças e adolescentes com neoplasia. Influenciando de forma positiva na vida desses sujeitos como um minimizador dos efeitos negativos dessa patologia, oferecendo consequentemente qualidade de vida para o paciente.
A formação acadêmica que um aluno de Educação Física recebe tem atribuições maiores que somente treinar uma equipe desportiva ou dar aulas de Educação Física no âmbito escolar e, a partir dessa afirmação, a justificativa dessa pesquisa é inserir o educador físico como mediador de uma equipe multidisciplinar de saúde que busque resultados para o tratamento de uma determinada patologia.
Toda a pesquisa foi aplicada na Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (ACACCI), essa instituição surgiu com um projeto no dia 15 de março de 1988, com o objetivo de fazer um trabalho assistencial à criança e adolescente com câncer e suas respectivas famílias (famílias essas, que em sua maioria são oriundas do interior do Espírito Santo ou até dos estados vizinhos. Como geralmente as famílias não têm nenhum parente que resida próximo ao hospital e não tendo condições para manter os custos da doença, como passagem, alimentação, moradia e outras despesas, elas são indicadas pelos próprios médicos para os serviços gratuitos oferecidos pela ACACCI) em tratamento oncológico no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória (HINSG) dando suporte necessário para a efetivação do tratamento. Na ACACCI são prestados serviços como alimentação, deslocamento, hospedagem, assistência material e financeira às famílias de baixa renda para aquisição de medicamentos, fraldas descartáveis.
Na ACACCI, as crianças/adolescentes são juntamente acolhidas com seus acompanhantes que hospedam o tempo que for necessário para o tratamento. A Casa da Família conta com uma ótima estrutura física e adaptada para os pacientes. Possui 03 pavimentos, no qual o terceiro encontra-se os quartos (que acolhem 03 famílias no máximo para cada quarto) e uma sala de TV.
No segundo pavimento há a disposição de mais quartos, a brinquedoteca, que foi muito bem planejada, organizada e estruturada, sendo a mesma dividida em área para adolescentes contendo mesa de totó, sinuca, videoke e computador. Na outra área, a infantil, podemos contar com brinquedos e jogos diversos para todas as faixas etárias, televisão, vídeo, mini-palco, área de pintura e outros. Ainda nesse mesmo pavimento encontra-se a sala de música, biblioteca e a capela.
E por fim, no primeiro pavimento encontramos o refeitório (com um amplo salão onde acontecem os eventos maiores), sala de visita, sala de administração da casa, almoxarifado, lavanderia, mini-parque. Tendo como objetivo acolher essas famílias, a ACACCI conta com a colaboração de voluntários para desenvolver suas atividades como recreação, artes, educação e outros.
Para a obtenção de recursos, a Associação conta com os colaboradores fixos e serviço de tele marketing; desenvolve campanhas como selo Compromisso com a Criança (selo adquirido pelas empresas), eventos como Campanha McDia Feliz, bazar e doações esporádicas de brinquedos, roupas, dinheiro, material escolar e outros.
A Instituição também recebe apoio de Prefeituras Municipais, Conselhos Tutelares, Ministério Público Estadual, Juizados da Infância e Juventude e do Programa Saúde da Família do Ministério da Saúde.
2 – REVISÃO DE LITERATURA
2.1 – QUALIDADE PARA A VIDA
Kluthcovsky e Takayangui (2007) através do seu artigo Qualidade de Vida, diz que a OMS (Organização Mundial da Saúde) abrange 03 aspectos necessários e fundamentais referente à sua conceituação sobre qualidade de vida, que são “a subjetividade (numa perspectiva individualizada), a multidimensional (idade, físicas, psicológica e social) e a bipolaridade (positiva como mobilidade e negativa como a dor).
Mas nem sempre aconteceu de forma tão abrangente o conceito de qualidade de vida como temos na atualidade. A única coisa que temos como certa e de consenso é que conceituar qualidade de vida não é tarefa fácil, e várias ciências estudam o conceito. As primeiras controvérsias desse assunto aparecem até mesmo em que data essa nomenclatura surgiu, se foi com Pigou em 1920 (onde sua preocupação estava nas classes menos favorecidas, mas não obteve muita aceitação), Johnson em 1964, presidente dos EUA na época, e dentre várias literaturas citam o aparecimento em outros momentos.
Kluthcovsky e Takayangui (2007) relatam-nos que, após a segunda guerra mundial, “qualidade de vida” passou a ser utilizada apenas associada ao simples fator de padrão de vida, relacionado a status, referindo-se a questões econômicas; porém, observou-se a necessidade de uma amplitude do seu conceito, agregando ai outros valores como o lazer, educação, saúde, bem estar.
Hoje outras abordagens já fazem parte também desse conceito, entraram então sentimentos e emoções como felicidade e liberdade, perceberam assim, a necessidade de abraçar o homem na sua totalidade humana, dando-lhe qualidade para a sua vida, seja no aspecto emocional, saúde, relação humana e outros e ainda como ressaltado nesse mesmo artigo, qualidade de vida esta interligada na esfera social, seja no aspecto cultural, econômico ou político e por fim, concluem que a qualidade de vida esta ligada a dimensão interdisciplinar.
Seidl e Zannon (2004) também citam que qualidade de vida é assunto para diversas áreas e, sob aspecto de saúde, devido à complexibilidade e necessidade desse tema, perceberam que a saúde pública precisa de emergir e tem emergido gradativamente, e de forma ainda mais abrangente, incluindo os aspectos políticos, econômicos e sociais (confirmando até mesmo no artigo citado anteriormente), vendo o homem não apenas como um doente, mas um homem inserido na sociedade, e que necessita de recursos para a obtenção e manutenção da saúde.
Abrindo mais o legue para o termo qualidade de vida, Nucci (2003) faz um passeio sobre a conceituação passando por sob uma visão história, filosófica e de saúde. Logo em seus primeiros escritos, lança para o leitor algumas perguntas e questionamentos fazendo uma critica a mídia sobre a falta de objetividade e reducionismo do abrangente significado desse termo. Sob um enfoque histórico, Nucci (2003) continua a nos dizer que Aristóteles, por exemplo, preconizava a “boa vida” (qualidade de vida) integrando virtudes, o bem maior e o bem supremo, indo ao encontro com o que já refletimos sobre a vida propriamente humana ou a vida espiritual. Continua a autora mencionando ainda que no Oriente, como a China, citado como exemplo, entende-se que qualidade de vida é um equilíbrio entre aquilo que está em constante mudança e aquilo que é estável, dessa forma tem a possibilidade de atingir a riqueza e plenitude da vida.
É sabido que o conceito de qualidade é muito abrangente, podendo ser entendido sobre algumas visões de diferentes modos, para o senso comum, por exemplo, qualidade de vida é ter bens materiais, ou uma realização profissional, é conseguir o seu sustento, e ainda tem aqueles que acreditam que é o relacionamento humano, e para outros é a ausência da doença.
Em se tratando de saúde e qualidade de vida, com os avanços das ciências médicas, a expectativa de vida para os pacientes com doenças até mesmo crônicas – como é o caso do câncer – tem aumentado, mas perceberam a necessidade de não somente prolongar a vida, mas sim a de, como objetivo principal, “acrescentar vida aos anos”, ou seja, mesmo em situação de morte eminente, devem oferecer para essa população qualidade para sua vida, isso inclui medidas de saúde pública para readaptar o individuo na sua realidade.
Segundo Hoerni (apud NUCCI, 2003, p.45), para um paciente com câncer, reflete as condições de uma qualidade de vida “[…] antes, durante e pós-doença, envolvendo a integridade anatômica e funcionalidade entre os planos físicos e mentais”. Já Kivács (apud NUCCI, 2003, p.45), nos diz sobre os efeitos de planejamento através de uma intervenção psicossocial.
Kligerman (1999) diz que os parâmetros biomédicos estão preocupados em diminuir o tumor, intervalo livre de doença e toxicidade, mas que é importante indicar terapias alternativas para melhorar a qualidade de vida do paciente, até mesmo apoiando assim as decisões médicas.
Vale abrir um parêntese sobre a necessidade dos governos de desenvolverem políticas públicas para os cuidados necessários com o paciente portador de uma doença crônica, inclusive em seu contexto social. Por exemplo, no caso aqui estudado, nos intervalos dos tratamentos, muitos pacientes voltam para suas casas, mas a realidade financeira muitas vezes pode dificultar a continuidade do tratamento, como a possibilidade de manter uma alimentação pertinente, o local que esse paciente repousa, condições de moradia, a falta de conhecimento dos acompanhantes em relação à doença, os meios de transportes que o paciente utiliza e outras. Não é utopia abraçar o homem nesse aspecto, mas sim uma necessidade do sujeito para o bom resultado, influenciando assim de forma significativa para o tratamento do câncer e, consequentemente, na qualidade de vida do paciente.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) os pacientes com o tumor têm alguns benefícios decorrentes das doenças, mas por vezes esses são desconhecidos, seja por falta de conhecimento ou divulgação, abaixo citamos alguns deles.
1 Amparo assistencial ao idoso e ao deficiente (Lei orgânica de assistência social)
2 Aposentadoria por invalidez
3 Isenção de imposto de renda na aposentadoria
4 Auxilio doença
5 Isenção de ICMS na compra de veículos adaptados
6 Isenção de IPI na compra de veículos adaptados
7 Isenção de IPVA para veículos adaptados
8 Quitação do financiamento da casa própria
9 Saque do FGTS
10 Saque do PIS
11 Passe livre
É necessário saber desses direitos para poder usufruí-los e, até mesmo para dar uma melhor qualidade de vida para o paciente, mas conforme já mencionado, acrescentar qualidade na vida é muito mais abrangente do que os direitos citados, são necessárias medidas de intervenção psicológica, social, educativa, lazer, econômica, política e outras.
2.2 – ATIVIDADE LÚDICA E O SER HUMANO
O lúdico
O principal objetivo dessa pesquisa não é analisar o lúdico enquanto conceituação, até mesmo porque, quanto à definição, é uma palavra pouco esclarecedora. Mas, o principal objetivo, é estudar enquanto manifestação, pois isso ocorre de forma abrangente, não se resumindo a um só elemento, e como citado por Santin (1996).
A tarefa de definir ou conceituar a ludicidade torna-se inviável porque não existem atividades especificas de brincar, não há o mundo do brinquedo como algo definitivamente dado. Além disso, o brinquedo não é um objeto, uma realidade manipulável, separável da ação de brincar. Brincar significa gerar a ludicidade pra criar o universo do brinquedo. Portanto, o mundo lúdico não está em algum lugar, não é uma instituição, não é uma atividade e não é real. Entretanto, ele pode acontecer a qualquer momento, a qualquer hora, em qualquer circunstância e em qualquer lugar desde que, simplesmente alguém decida querer brincar […] (SANTIN, 1996, p.28).
Santin descreve-nos que é inviável conceituar a ludicidade, porque transcende a materialidade, espacialidade e temporalidade; é uma ação que a qualquer momento pode acontecer, não tem hora e nem data marcada, simplesmente ela existe a partir do momento que ocorre uma vontade, e quando manifestada em nosso meio pode ser vista como uma coisa ridicularizada, como diz a lei da física “toda ação tem uma reação” e a reação de uma pessoa quando brinca é totalmente imprevisível, é espontâneo, é livre, é emotiva, pode parecer para quem não esta participando dessa atividade uma loucura, uma infantilidade, uma pessoa desocupada.
Santin (1996) nos diz ainda de forma filosófica e poética sobre a ludicidade.
Sim, a ludicidade é fantasia, imaginação e sonhos, que se constroem como um labirinto de teias urdidas com materiais simbólicos. A ludicidade é uma tecitura simbólica fecundada, gestada e gerada pela criatividade simbolizadora da imaginação de cada um. Brincar acima de tudo é exercer o poder criativo do imaginário humano construindo um universo, do qual o criador ocupa o lugar central, através de simbolismo original e inspirado no universo real de quem brinca. Os mundos fantasiosos do brinquedo revelam a fertilidade inesgotável de simbolizar do impulso lúdico que habita o imaginário humano (SANTIN, 1996, p.29)
A ludicidade trás consigo uma junção de valores individuais e particulares para cada indivíduo que a pratica, são experimentadas muitas sensações, até mesmo as frustradas, mas que além de tudo nos ensina a viver, perceber que nem sempre ganhamos, nem sempre trazemos a verdade, mas que podemos nos superar, repensar e recomeçar. O brincar nos leva a experimentar o corpo em “todas as nuances que compõem a melodia da vida” (SANTIN, 1996, p.33). E o que vivenciamos na nossa humanidade, é que nem sempre na formação dos acordes da vida as notas estão todas afinadas, mas mesmo assim é necessário gozar da existência, usufruir toda corporeidade.
Várias são as tentativas de conceituar a palavra lúdico, mas, antes de mais nada, antes desse limitar-se o lúdico ao simples fato de uma conceituação, é necessário ir além e experimentar e mergulhar nos efeitos da ludicidade para uma promoção de qualidade de vida para o ser humano.
É no brincar, e somente no brincar que o individuo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral. E é, somente sendo criativo que o individuo descobre o seu “eu” (WINNICOTT, 1975, p. 80).
Winnicott (1975) nos chama a atenção sobre a necessidade do brincar para uma descoberta do próprio ser, e isso de forma integral, ou seja, o individuo na sua totalidade humana, sem fragmentos, seja com ele mesmo ou com outrem, assim convidando a todo o individuo a experimentar dessa alegria, sem fazer qualquer tipo de exclusão, chama homens e mulheres, crianças e idosos para partilharem da mesma busca.
O que vivenciamos é um mundo imediatista, individualista e produtivista (materialista), com muita hora marcada, com muitas regras, dominações e repressão, exigindo que tudo aconteça de forma muito rápida (SANTIN, 1996). Estamos tão ligados nessa questão da produtividade, que o ser humano criou a necessidade de que as coisas têm que acontecer de forma quase instantâneas, e isso acaba afetando em outras áreas da vida. Exemplo dessa “pressa” humana, são algumas situações que temos como: comidas pré-preparadas, informações transmitidas via e-mail, a exigência da rapidez da própria imagem corporal – bastam algumas cirurgias que já estamos prontos, estamos em plena forma – e claro não podendo esquecer das substancias que o mercado oferece para a modelagem do corpo, o que uma pessoa iria passar por uma periodização na academia ela simplesmente pode fazer isso de forma mais rápida, mesmo sabendo do risco de prejudicar sua própria saúde.
Ressaltamos aqui, que todo avanço tecnológico tem seu espaço e sua importância, o grande problema é saber como utilizar de seus benefícios para o ser humano.
A herança que esse imediatismo deixa para o homem é a falta de tempo, com isso o ser humano esquece de fazer uma coisa simples e essencial que é o de viver e não apenas sobreviver, isso pode o torna uma pessoa mais séria, e o prejudica de aproveitar à vida de forma prazerosa e não apenas como cita Santin (1996) “parece que o homem da ciência e da técnica perdeu a felicidade e a alegria de viver, perdeu a capacidade de brincar, perdeu a fertilidade da fantasia, da imaginação guiada pelo impulso lúdico” (SANTIN, 1996, p.23). Esquecemos muitas vezes que brincar é fundamental para a saúde física, psíquica, mental e social, e com isso um indivíduo que perde essas capacidades e ignora tais importâncias desses aspectos, consequentemente acaba gerando alguns agravantes como cansaço, estresse e até mesmo doenças.
Sob os aspectos fisiológicos, o riso segundo Cardoso (S/D), ativa o sistema cardiovascular, elevando a freqüência cardíaca e a pressão arterial, dilatando as artérias tendo como resultado uma queda na pressão, aumentam o fluxo sanguíneo nos órgãos devido às contrações fortes e repetidas dos músculos das paredes do tórax, do abdômen e diafragma. Ainda segundo Cardoso, pessoas que sofrem de raiva, depressão e frustrações, alteram a sua função fisiológica para a negatividade, o contrário acontece no riso e o humor, onde “diminuem o estresse e ansiedade, reforça a imunidade, relaxa a tensão muscular e diminuem a dor”, no sistema imunológico, o riso auxilia a aumentar a quantidade de células que ajudam contra infecção (células T no sangue).
O brincar segundo Schwartz (2004), vem de encontro a esse mundo imediatista, quando o homem brinca se torna uma extensão desse mundo, torna-se um representante máximo, sem regras de dominação, sem produtividade econômica, sem limites e sem controle.
A autora acima salienta ainda a importância do brincar, fazendo uma comparação do lúdico com uma obra de arte “[…] Assim é a construção de uma obra de arte, ora não temos tempo para isso, diria o intelectual mal avisado!” (SCHWARTZ, 2004, p. 75).
Marinho (in: SHWARTZ, 2004) menciona que o brincar é direito do homem para a vida inteira, mas o que nos deparamos na sociedade é que esse direito está restrito apenas para as crianças, ao homem adulto cabe somente o direto de produzir e reproduzir, novamente entra a questão das regras e dominações, isso levando a acreditar que o trabalho ou outras coisas são as mais importantes.
O homem, por vez, esquece que ele pode agregar a ludicidade na sua rotina de vida até mesmo para uma valorização do próprio corpo, aquele que tem que experimentar sensações de prazer, alegria, liberdade, bem estar, uma vez que isso influencia de forma significativa na sua qualidade de vida, contribuindo para suas próprias necessidades existenciais. A essência lúdica não esta restrita somente a diversão, assim como diz Marinho (apud SHWARTZ, 2004) atividade lúdica é muito mais que tudo isso, é, por si só, um ato de “rompimento”.
O lúdico além de sua relação de conhecimento humano do próprio ser, traz consigo uma esfera de relacionamento inter-pessoal, aquele que é capaz de interagir com o meio, ativando a criatividade, a liberdade, estimulando o contato humano, aguçando nossos sentidos de tocar, ouvir, falar, ver, lembrando-nos da importância de respeitar o limite do próximo e de todo o ambiente.
Huizinga (apud SANTIN, 1996, p.13) diz ainda que é através e pelo jogo (uma das possibilidades do conteúdo lúdico) que a sociedade emerge e se desenvolve. Destacando ainda, a importância do lúdico para o homem ao utilizar a expressão Homo Ludens talvez no mesmo nível de Homo Sapiens, teria então um lugar especial na nossa nomenclatura.
É interessante ressaltar que, através de estudos desse mundo tão fascinante que envolve o lúdico, podemos aceita-lo até mesmo como uma questão filosófica. Porém, Santin analisa as posições de estudo e questiona se a filosofia e as ciências em geral conseguiriam tratar o lúdico sem descaracterizá-lo “enquadrando nos moldes da racionalidade” (SANTIN,1996, p.14)
2.3 – O CÂNCER
O câncer, tumor ou neoplasia são palavras utilizadas para descrever um grupo muito grande de doenças, caracterizadas por células aberrantes e descontroladas do nosso organismo. A palavra neoplasia (neo = novo, plasia=crescimento) indica que houve um crescimento inesperado ou não programado de célula (RIBEIRO e BARALDI, 1991)
Goldman e Ausiello dizem que:
Sob o aspecto celular, as células tumorais podem ser caracterizadas por um crescimento descontrolado, tanto pelo aumento dos sinais de crescimento, como pela perda dos pontos de freios normais, pela ultrapassagem da senilidade ou da morte celular programada, e pela incapacidade de reparar lesões do DNA e erros de replicação que levam a instabilidade genética (GOLDMAN E AUSIELLO, 2005, p.1282)
As células são partes microscópicas vitais que formam nosso corpo. Estas compõem o cabelo, a pele, o sangue, e outros tecidos do organismo. Toda a produção e até mesmo a eliminação das células ocorrem de forma bem controladas, porém o câncer é exatamente o descontrole, comprometendo o funcionamento das células normais e interferindo no funcionamento do organismo, e se não houver o combate dessas células anormais, consequentemente elas destruirão nosso corpo. (RIBEIRO e BARALDI, 1991)
Ribeiro e Baraldi (1991) dizem que a neoplasia pode ser classificada em dois tipos:
* Benigno = o tumor só se desenvolve em um determinado local, não invadindo outros lugares do nosso corpo.
* Maligno = o tumor dissemina-se para outras partes do corpo e formam novos tumores (esse processo denomina-se metástase)
Fatores como causas do câncer.
Os fatores de risco de neoplasias segundo Goldman e Ausiello (2005), são tabaco, álcool (que causam tumores epidermóides da cavidade oral, faringe, esôfago e laringe), riscos ocupacionais, poluição ambiental (na água e no ar, foram identificados cancinórgenos), agentes medicinais, radiação, dieta e nutrição, agentes infecciosos e suscetibilidade genética.
Goldman e Ausiello (2005) relatam que as ciências relacionadas às oncogêneses estavam voltadas para a compreensão dos mecanismos moleculares e suas aplicações no tratamento clínico (p. 1290), porém com os avanços tecnológicos e preocupação com incidência do câncer, perceberam que eram necessárias medidas no nível de saúde pública, ou seja, para o combate e prevenção do câncer são importantes medidas e esforços em conjuntos.
2.3.1 – Câncer infantil
O câncer infantil é diferente em relação à incidência dos adultos, acredita-se que para esse, o surgimento seja combinações de alterações no meio ambiente junto com uma predisposição genética. Segundo o INCA existem particularidades do câncer infantil, como, por exemplo, a probabilidade de cura é de 70% se diagnosticadas precocemente e com tratamento especializado.
Ainda segundo o INCA, os tipos mais comuns de neoplasia infantil são: leucemia (glóbulos brancos), tumores do sistema nervoso central e linfoma (sistema linfático). Também acomete crianças o neuroblastoma (tumor de gânglios simpáticos), tumor de Wilms (tumor renal), retinoblastoma (tumor da retina do olho), tumor germinativo (tumor das células que darão origem às gônadas), osteossarcoma (tumor ósseo), sarcomas (tumores de partes moles).
É muito importante estar atento a algumas formas de apresentação dos tumores da infância.
• Nas leucemias (70% dos casos de câncer infantil): pela invasão da medula óssea por células anormais, a criança se torna suscetível a infecções, apresenta palidez, tem sangramento e sente dor óssea.
• No retinoblastoma: um sinal importante de manifestação é o chamado “reflexo do olho do gato”, embranquecimento da pupila quando exposta à luz. Pode se apresentar, também, através de fotofobia ou estrabismo. Geralmente acomete crianças antes dos três anos de idade.
• O Tumor de Wilms e o neuroblastoma podem apresentar-se como uma massa palpável no abdome, muitas vezes, notadas pelos próprios pais.
Tumores sólidos podem se manifestar pela formação de massa, podendo ser visível e causar dor nos membros, sintoma, por exemplo, freqüente no osteossarcoma (tumor no osso em crescimento), mais comum em adolescentes.
• Tumor de sistema nervoso central tem como sintomas dor de cabeça, vômitos, alterações motoras, alterações cognitivas e paralisia de nervos.
Assim como nos adultos, o tratamento do câncer infantil está baseado em três modalidades: A cirurgia, quimioterapia e radioterapia, e em algumas situações nas combinações das três.
Conforme Ribeiro e Baraldi (1991) as formas de tratamento são.
? Cirurgia
O médico cirurgião, nesse caso, tenta extirpar todo ou pelo menos parte do câncer. A dificuldade se encontra, por vezes, na localização, pois o tumor está tão aderido às partes normais, que acaba, por não ter alternativa, retirando também tecido normal. A conseqüência dessa ação poderá ocasionar uma limitação definitiva, como impossibilidade de correr jogar futebol, pular corda, sendo necessário um longo período de recuperação, para cicatrizar o local onde o tumor foi removido.
? Quimioterapia
Esse tratamento é feito com drogas especiais que destroem as células cancerosas. Podem ser administrado por via endovenosa, intramuscular, ou via oral, chegando à corrente sanguínea para combater essas células onde quer que estejam, é administrada em intervalos e por um período prolongado. Existem vários tipos de drogas e uma das funções do pediatra oncologista é exatamente decidir quais as drogas que devem ser dadas para as crianças com câncer.
? Radioterapia
Sua ação é simples, fontes de irradiação ionizastes do tipo do raio-x emitem partículas de alta energia que possuem a propriedade de destruir as células tumorais. A irradiação pode ser usada isoladamente ou em combinação com cirurgia ou quimioterapia.
O avanço da ciência e da tecnologia tem proporcionado uma condição mais favorável tanto no diagnostico como no tratamento do Câncer, intensas pesquisas estão sendo feitas, e muito progresso com certeza ocorrerá nesses próximos anos, portanto, sem discriminação para com as crianças com câncer não devem ser vistas como portadoras de uma doença fatal, mas sim como uma doença que necessita de um tratamento prolongado para ser completamente curado (RIBEIRO e BARALDI, 1991).
A procura da cura dessa doença, não está restrita simplesmente pelo fator biológico, mas também através da totalidade humana das crianças e dos adolescentes, isso inclui de forma social, psicológica, afetiva, proporcionando qualidade de vida para o paciente mesmo em estado de risco.
A união de saberes e esforços se faz necessário, e a Educação Física entra nesse contexto de pesquisa, como uma proposta para dar qualidade de vida a essas crianças através do lúdico, proporcionando a criança, além dos benefícios que citaremos adiante, o direto em si de brincar, sempre respeitando os seus limites físicos e psíquicos.
2.3.1.1 – O Câncer infantil e suas conseqüências.
Ceccim (1997), diz que, mediante ao diagnóstico confirmando a doença, saber que uma criança/adolescente está com câncer não é nada fácil, mudam–se os hábitos de vida de todos os envolvidos. Para família, além do sentimento eminente da perda, ocorre às dificuldades que são desde as questões relativas às mudanças na dinâmica familiar á perda do trabalho. A criança e o adolescente passarão por momentos nada confortáveis, um processo muito delicado e doloroso, consequentemente o período de sua infância passa a ser diferente de uma infância de uma criança saudável, algumas modificações e alterações serão necessárias a essa etapa do tratamento, chegando a expor a criança e sua família a diversas situações estressantes, que se somam à possibilidade de internação.
Essas implicações trazem prejuízos por uma hospitalização prolongada, ocasionando além da dor física, a dor psicológica da separação dos amigos, dos brinquedos, da professora de escola, dos animais de estimação e passa a conviver com profissionais que até o momento não conhecia, colocando em suas mãos a responsabilidade de sua saúde (Viegas 1999). Além dessas conseqüências psicológicas, os tratamentos para o combate ao câncer trazem muitas conseqüências físicas para os pacientes, como feridas na boca, perda de peso, náuseas, deficiência do sistema imunológico, vômitos, dores musculares, alopecia hematomas e outros efeitos colaterais resultantes do tratamento.
“Observa-se que, além das dificuldades que a própria doença traz, as condições de hospitalização podem afetar a totalidade da criança, de forma que os seus desenvolvimento físico, emocional e intelectual fiquem comprometidos” (PEDROSA et al.,2007, p.?) e, ainda no mesmo artigo, os autores citam que é muito importante elaborações de projetos que tenham o lúdico como forte ações como efeitos para minimizar sofrimentos psicológicos.
Podemos verificar através dos autores, Pimentel et al. (2004) em seu artigo, fala sobre a importância do brincar, e trazem três problemas que a criança e o adolescente enfrentam decorrente do câncer. A primeira se refere o lado dos sentimentos (depressão, raiva, revolta, insegurança, perda, desespero, e outros). Posteriormente nos fala das relações sociais que os pacientes enfrentam, da ignorância das pessoas que muitas vezes leva ao isolamento. Esses insipientes, não conhecem os detalhes dessa doença, criam um preconceito, acarretando a rejeição e consequentemente o próprio afastamento. O ultimo fator citado, diz respeito da doença e suas conseqüências como efeitos fisiológicos, colaterais, mutilações.
Mediante a toda essa dimensão de transformação, como oferecer para essas crianças e adolescentes uma qualidade na vida através da ludicidade?
2.4 – VIVÊNCIA LÚDICA COMO PROPOSTA PARA MINIMIZAÇÃO DOS EFEITOS DO CANCER EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES.
Como citado anteriormente, ludicidade é divertimento, é alegria, é brincadeira, é experiência corporal, é liberdade, é criatividade, é respeito mutuo, é um ato de rompimento. Emoções e sensações essas que, mesmo que a criança e o adolescente estejam em situação de enfermidade, eles tem o direito de vivenciar todas as coisas que o lúdico oferece. Schwartz (2004) diz ainda que a contemplação e alegria são categorias existenciais necessárias, que fundamentam partes dos sentimentos e emoções que pacificam qualquer organismo desconfortável ou mesmo doente. Refletindo essa afirmação de desse mesmo autor, o ser humano necessita de explorar seu contexto humano, e o lúdico traz consigo essa possibilidade, seja para a criança, seja o adolescente, e felicidade e alegria, é uma busca eterna que o homem faz durante sua existência.
Através das conseqüências da doença, crianças e adolescentes com câncer conhecem a morte muito de perto, até mesmo com exemplos de algumas pessoas que faziam o tratamento com ele e que já faleceram, isso causa um impacto emocional muito grande, e uma das propostas do lúdico é minimizar esse impacto, incentivando troca de sentimentos existentes devido sua realidade de saúde. Segundo Emerique (apud SCHWARTZ, 2004, p.4) “[…] o lúdico poderia, então, ser ocasião de se lidar com a segurança e o incerto, o medo e a coragem, a perda e o ganho, o prazer e o desprazer, o sério e o cômico, a objetividade e a subjetividade, enfim, uma oportunidade de ensinar e aprender sobre a vida […]”.
Pimentel (et al., 2004) citam a recreação como proposta terapêutica, minimizando em algumas partes, as perdas que a crianças têm, através da alegria, da festa, da vitalidade, isso trazendo satisfação pra criança e afasta os sentimentos negativos que a doença traz consigo, tornado o tratamento mais humanizador. Ao brincar a criança adquire outras habilidades, seja na parte motora, seja na parte de aprendizagem, e ainda prepara o paciente para as diversas situações que podem acontecer, e menciona também a importância de pessoas capacitadas para elaborar as estratégias como um mediador de atividades como artes, dramatização, fantoches, datas festivas, boneco paciente, contos.
A aplicação de recursos lúdicos transforma-se em um potencializador no processo de recuperação da capacidade de adaptação da criança hospitalizada, diante de transformações que se darão a partir de sua entrada no hospital (Pimentel et al., 2004, p.?)
Por fim, esse artigo conclui que o lúdico promove o bem-estar, traz o paciente para sua realidade, catalisa o processo de recuperação e, consequentemente, melhorando assim a qualidade de vida por aceitar a doença e seu tratamento.
Trucon (S/D) menciona que a falta de uma possibilidade de brincar, tem efeitos negativos na vida das crianças e dos adolescentes. Complementa dizendo que os cientistas de várias áreas investigam a filosofia e psicologias da ação do brincar com os efeitos resultantes no corpo e comportamento quando uma pessoa utiliza-se do lúdico. E os resultados já começam a dar frutos, sabe-se que quando se brinca as células cerebrais formam mais e mais conexões sinópticas, estimulado as funções cerebrais. Afirma Cardoso que investiga-se que quando ocorre o riso, são liberadas endorfinas (transmissores neuroquímicos) na qual minimizam a sensação de dor e promovem o bem estar e sensações prazerosas.
De acordo com o artigo Diversão em Movimento, pesquisa que foi realizada durante o período de 2004 a 2005 no Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira, refere-se a um projeto lúdico para crianças hospitalizadas na enfermaria oncologia pediátrica, onde foram analisados sessenta pacientes portadores de neoplasia maligna. Utilizou-se de vários recursos lúdicos como livros, brinquedos, papeis, lápis e constataram no final dessa pesquisa, que as crianças ao brincarem iam se conhecendo melhor, elas reconheciam suas limitações, construíam o seu mundo, gostavam mais do ambiente que estavam, respeitavam as regras. E, um dado muito importante, elas ganhavam a autoconfiança, tornando o ambiente hospitalar menos angustiante, fazendo do lúdico um efeito positivo como um método de aceitação para o tratamento.
Vários são os autores que se propuseram a estudar o lúdico e seus efeitos, Cely (apud SANTOS, 1997) diz que o brincar é uma necessidade essencial para o desenvolvimento da criança e do adolescente na sua totalidade, enfim em qualquer ambiente, em qualquer circunstância da vida. Outro autor que cita de forma clara a importância do lúdico é Oliveira (2004), onde diz que o lúdico traz a possibilidade de trabalhar o cognitivo, o psicomotor e o afetivo-social, afirma que “Seguramente o jogo traduz a mais autentica manifestação do ser humano em toda a sua plenitude” mais adiante, complementa dizendo que.
[…] as atividades em forma de jogo são as que mais podem facilitar o desenvolvimento da criança, em virtude da riqueza de oportunidades que o lúdico oferece. O jogo é um recurso metodológico capaz de propiciar uma aprendizagem espontânea e natural. Concorre para a descoberta e minimiza a atmosfera predominantemente artificial […] sendo, portanto, reconhecido como uma das atividades mais significativas – senão a mais significativa (OLIVEIRA, 2004, p. 74).
Levinzon (apud KISHIMOTO, 1996) diz que quando a criança brinca, ela adquire “poderes” para enfrentar qualquer situação e obstáculos da vida real, adquirindo a autoconfiança e preparando-as para a vida adulta. Peller (apud KISHIMOTO, 1996) exemplifica que quando a criança passa por uma situação hospitalar, por exemplo, e ao brincar de médico com uma boneca, ela acaba invertendo os papeis da sua realidade, isso tem efeito benéfico reduzindo traumas e ainda, deixa-o mais preparado para quando for necessário voltar.
Paulo Junior e Barbosa (2001), no artigo em que trata da Importância do brincar na formação infantil, citam o olhar Piagetiano relacionado ao desenvolvimento, que a criança ao executar a ação de brincar, ela passa a interagir com o ambiente, trabalha sua imaginação, se capacita para deparar com os desafios do meio físico e social de sua vida. Podemos transferir essa reflexão para as adaptações que as crianças e adolescentes deverão realizar decorrente da doença, tanto na integração social que se fará necessário com outras pessoas, até o momento desconhecidas, tais como os médicos, enfermeiros, funcionários, voluntários e até mesmo com outras crianças em situação similar a sua, e quanto na parte cognitiva. Ressaltando aqui, a necessidade de uma metodologia de trabalho sistematizada, planejada, organizada, que influenciará de forma significativa na qualidade de vida para esses pacientes.
Segundo Friedmann (1992), a brincadeira possibilita interação social, da criança com seus pares e com adultos. Na interação a criança descobre e interioriza na sua personalidade os valores, costumes, formas de pensamento e comportamento do grupo que está inserida. A interação social que se dá na brincadeira é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança.
Há a possibilidade de trocar papéis uns com os outros, experimentar outras perspectivas, pontos de dista diferentes dos seus, aprender a colocar-se no lugar dos outros (FRIEDMANN, 1992), o que atualmente é chamado pela psicologia como empatia. Para Baron-Cohen (2004) empatia é a habilidade natural de se colocar na perspectiva do outro, compreendendo sentimentos e emoções alheios e a resposta afetiva adequada a esses.
Pela brincadeira, a criança expressa seu modo de pensar, suas hipóteses, estratégias de resolução de problemas; expressa também como se relaciona com seus pares, como lida com os objetos. Agindo sobre os objetos a criança vai conhecendo, descobrindo o mundo (FRIEDMANN, 1992; PETTY & PASSOS, 1996).
Na brincadeira tem-se acesso a maneira como a criança raciocina. No jogo pode-se fazer com que a criança perceba seus erros de raciocínio, a partir de situações-problema a serem resolvidos, que seus esquemas cognitivos são inapropriados e que outros mais apropriados precisam ser construídos (PETTY % PASSOS, 1996).
Para Petty & Passos (1996) o adulto tem um papel importante na brincadeira, é ele que deve fazer com que o jogo torne-se interessante, motivador, desafiador, ao invés de uma tarefa a ser feita obrigatoriamente. Outra função do adulto nesse contexto é fazer que o conteúdo escolar seja compreendido pela criança e as dificuldades decorrentes dele possam ser superadas.
Segundo Cunha (1992), a brincadeira nos possibilita o desenvolvimento de habilidades, como a atenção, a concentração dentre outras e o reequilíbrio emocional, assim traz benefícios à saúde física, emocional e intelectual.
Kishimoto (1997) comenta que a brincadeira permite a criança expressar-se, ser criativa, ter liberdade de ação. Pela brincadeira a criança desenvolve a saúde mental e corporal, socializa-se, explora o ambiente, expõe seus pensamentos, cria modos de expressar-se, desenvolve a autonomia. A criança pequena, que ainda não domina a linguagem faz uso, interage com o ambiente onde está inserida. Há também um desenvolvimento da linguagem, pois a criança relata sua experiência, ouve o que o colega tem pra dizer. (KISHIMOTO, 1997).
Para Vygostky, os objetos materiais e a cultural influenciam nossa forma de pensar e o nosso desenvolvimento intelectual (apud KISHIMOTO, 1997). Para Piaget o conhecimento é construído no indivíduo a partir da ação que ele exerce sobre o ambiente. (apud KASTRUP,1999. p.85-86). Pela lógica subjacente à ação o indivíduo vai construindo a cognição (KASTRUP,1999). Segundo Piaget, sujeito e objeto não são dados a priori, mas constituem-se assim, na ação, no nosso caso, no brincar, na exploração do ambiente (KATRUP, 1999. p. 86)
A Brinquedoteca
Segundo Almeida (1999), o surgimento da brinquedoteca aconteceu nos Estados Unidos, em Los Angeles no ano de 1934, na cidade da Califórnia. Já no Brasil apareceu um modelo no Nordeste, utilizando os brinquedos como suporte pedagógico. Vários são autores que se propuseram a conceituar a brinquedoteca, para Negrine (1999) brinquedoteca é mais que um espaço físico no qual todo o material lúdico como televisão, vídeos, laboratório de informática, brinquedos, criação de brinquedos, ficam a disposição da criança, do adolescente e, até mesmo, de pessoas de outras faixas etárias. Nela se desenvolve as brincadeiras, sendo manifestadas e experimentadas o lúdico de forma expressiva e intensa, pois é um espaço onde a alegria, festa, divertimento, confraternização, partilha e amizade sua função pode ter caráter pedagógico, social, comunitária além de outros; sendo também um espaço de pesquisa (laboratório) para uma equipe interdisciplinar.
Ela é planejada conforme o seu público alvo, podendo ser desenvolvida em bairro, escola, clinica e outros, como cita Santos (1999), e essa parte estratégica de desenvolvimento conta com profissionais de diversas áreas como psicólogos, médicos, enfermeiros, sociólogas.
Viegas (1992) nos diz que a brinquedoteca tem um papel importante no desenvolver da ação das crianças no lúdico citando: “A brinquedoteca as faz renascer, lhes dá alegria, o brincar e os brinquedos estimulam suas fantasias, descobrem amigos, é lugar cheio de história, música, desenhos, teatro.” (VIEGAS, 1992,p. 102).
2.4.1 – O papel mediador do professor de Educação Física com crianças e adolescentes com câncer: um novo desafio.
Já sabemos dos inúmeros benefícios que a atividade lúdica traz para essa específica população em estudo. A idéia central agora é analisar o papel da Educação Física frente a esse desafio, frente a essa proposta.
Nos hospitais ou em casas de apoios, encontramos vários funcionários relacionados à área da saúde, em muitas literaturas sempre citam a importância da equipe multidisciplinar como médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, e outros profissionais, mas percebemos que raramente foi citado o profissional de Educação Física.
Quanto à competência e atuação, segundo o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), no ano de 2002 afirma textualmente sobre a intervenção do profissional e suas competências, dentre elas, citando a recreação em atividade física. Art. 5- RECREAÇÃO EM ATIVIDADE FÍSICA
Intervenção: Diagnosticar, identificar, planejar, organizar, supervisionar, coordenar, executar, dirigir, assessorar, dinamizar, programar, ministrar, desenvolver, prescrever, orientar, avaliar e aplicar atividades físicas de caráter lúdico e recreativo, objetivando promover, otimizar e restabelecer as perspectivas de lazer ativo e bem estar psicossocial e as relações sócio-culturais da população. RESOLUÇÃO CONFEF nº 046/2002
Ludicidade como percebemos é expressão e práticas corporais. Carmo Junior (2004) diz que “[…] a Educação Física foi dada, como dádiva, a responsabilidade de referenciar os conteúdos das práticas corporais e nelas firmar um compromisso”. Entendemos compromisso esse, não apenas como uma disciplina ou profissão, como citado pelo próprio Junior, mas uma Educação Física estimuladora de um corpo que fala, um corpo que tem desejos, um corpo que chora e que ri.
Sabemos que a Educação Física trabalha com a motricidade humana, onde constantemente o homem está em movimento, seja através de gestos, seja através de habilidades refinadas ou grosseiras, e muitas vezes o próprio corpo traduz esse “alfabeto”, são chamadas práticas corporais. Através dessas práticas, o homem é capaz de comunicar-se com o meio, e tratando-se de crianças e adolescentes com câncer, o educador físico pode contribuir muito com essa linguagem corporal, através de atividades como jogos, dinâmicas, dança, teatros e outras inúmeras expressões.
O professor de Educação Física deve oferecer para esses sujeitos atividades /práticas corporais diversificadas tendo como objetivo a expressão lúdica, e não simplesmente um auxílio para passar o tempo. As atividades que devem preencher as carências de afeto, auto-estima, auto-realização, dando prazer, compartilhando emoções, reduzindo o sofrimento que elas passam devido sua realidade e minizando assim o estresse, e isso consequentemente melhorando assim sua qualidade de vida.
Vale ressaltar que as atividades propostas pelos educadores físicos para essa população carecem ser bem planejada e direcionada. As atividades devem respeitar a individualidade e limitação de cada paciente, usar sempre de atividades criativas, não apenas reprodutivas, aguçando nessas crianças e adolescentes o desejo de viver mesmo sobre risco de vida, além de aperfeiçoar e utilizar de atividades cognitivas, afetivas, motoras. Estimulando sempre o contato mútuo, a cooperação, a solidariedade, a partilha.
Por meio do artigo Vivências Lúdicas no Hospital , tomamos conhecimento que, no primeiro semestre do ano de 2000, profissionais da área de Educação Física, entre eles alunos e professores, desenvolveram uma intervenção sócio-educativa através de vivencias lúdicas no Hospital das Clínicas em Minas Gerais com crianças hospitalizadas, conta-nos que através desse projeto, muitos outros nasceram. Para citar um exemplo temos o projeto Compromisso Social da Educação Física com crianças que passam por tratamentos hospitalares. Da primeira experiência aqui citada, os autores compartilharam que ocorreu uma troca de conhecimento entre ambas as partes, despertaram a criatividade e uma integração entre pais e profissionais do hospital, ocorrendo uma interrupção. Posteriormente, em 2004, foram convidados a retornar os trabalhos para um público mais direcionado, que foram as crianças atendidas pela clinica de Hematologia.
Mediante a vivencia lúdica que desenvolveram, perceberam que para a criança esse momento era especial e fundamental, pois as mesmas tornavam-se sujeitos de decisões, desenvolveram a autonomia., comportaram-se como sujeitos que repensam as suas ações e aprende a respeitar regras construídas coletivamente pelo grupo. Destacaram a Educação Física como representante de um momento de experiências e conhecimento, de integração concreta com o contexto hospitalar, onde as atividades precisavam ser planejadas e organizadas dentro da realidade, e perceberam que muito mais de uma ocupação de tempo, naquele momento crianças e adolescentes eram convidados a experimentar e vivenciar a alegria, o prazer, o relacionamento humano, a descobertas, auxiliando assim no tratamento.
O trabalho acima menciona ainda que “A Educação Física é entendida a partir de uma concepção abrangente, comprometida com as vivencias lúdicas diversificadas e construídas coletivamente que podem ser desenvolvidas enquanto meio e fim educacionais”.
Carmo Junior (Apud SCHWARTZ, 2004, p.80) diz quanto ao papel do educador.
O olho do educador é seu espírito e o seu olhar é terno, eterno é a capacidade de sentir. Ver além da retira é sorver a alma do ensinando, é unir saber e sabor, é quando o instrumento do ensino torna-se mais humano e menos instrumental. Parece magia ver o aluno escrever, soletrar, postular, desenhar, cantar, dançar, acertar o alvo[…],em cada frase, uma prontidão, um corpo, um referencial estético, sem prejuízo da razão, sem a pulverização das idéias
A priori poderíamos pensar e ler essa frase do Junior apenas para o âmbito escolar, mas educar vai além dos muros escolares, podemos fazê-lo em casa, na comunidade, na sociedade e porque não em hospitais ou casas de apoios. É importante e essencial olhar para essas crianças e adolescente e dar-lhes esperança, motivação para a luta, dizer-lhes através da educação que por mais complicado que seja a sua situação, elas são pessoas, são humanas, devem e merecem experimentar os seus anseios. A Educação Física, proporciona isso, todo esse movimento dinâmico humano, tratando o homem como ser total, um ser corporal e psíquico, respeitando o seu limite orgânico ou sua frágil anatomia, não apenas trabalhar com corpos saudáveis dotados de várias habilidades motoras, mas um corpo que é capaz de expressar principalmente naquilo que sente.
A importância do professor capacitado e direcionado para essa área lúdica é muito grande. Negrine (1999) cita que no ambiente do brincar, como em uma brinquedoteca, o profissional que está ali envolvido deve ser mais do que um animador, deve ser observador e um investigador. O autor ainda se refere a três pilares necessários para esse profissional que são a formação teórica, formação pedagógica e a formação pessoal. Menciona ainda que nesse espaço é imprescindível profissionais qualificados, e não apenas viver exclusivamente de voluntários, pois nesse ambiente são praticadas atividades de desenvolvimento, aprendizagem, conhecimentos e habilidades.
O papel da Educação Física, independente do seu campo de atuação, deve levar ao homem a experimentar sua humanidade, não apenas formar homens fortes em musculaturas desenvolvidas, em torná-los mais ágeis em habilidade, formar homens mais flexível através de articulações biomecânicas ou preocupar-se apenas com o desempenho técnico. Tendo isso como parâmetros centrais, chega a ser preocupante no sentindo da alienação, não é querer descaracterizar a profissão, até mesmo porque a aptidão física, desenvolvimento de habilidades através de esportes são pertinentes a sua prática, mas dever ser meios e não os fins.
Oliveira (1994) diz que a Educação Física precisa ocupar seu espaço de Educação, deve incluir-se nas Ciências Humanas e Sociais, ela precisa perceber que sua função não é adestrar pessoas, mas torná-los mais humanos, percebendo que elas não são objetos, e que precisa despertar nas pessoas não apenas para o rendimento máximo, mas sim para o seu melhor enquanto pessoa humana. Além de desenvolver o seu afetivo e intelectual, libertando o homem da busca da individualidade e perceber mais do que os desejos da imortalidade ou a busca da perfeição (imagem corporal). Também é preciso experimentar sua essência, e respeitar e saborear assim seu corpo e o corpo do outro, mesmo que esse esteja numa situação de risco.
Lembramos que a Educação Física faz parte de uma cultura, mas também da política. Ela é um jogo, é esporte, é ginástica, é ludicidade, enfim é movimento humano. Tem conhecimentos médicos (mas não cura ninguém) e é capaz de produzir campeões, mas se o seu principal objetivo não for o homem como um ser humano, pouco disso ou nada terá validade. Precisamos de corpos sadios em mentes sadias.
2.5 – EDUCAÇÃO FÍSICA NO CENÁRIO DA SAÚDE
Algumas perguntas e reflexões rondam a Educação Física, levando-nos a questionar e refletir de forma filosófica, antropológica e em nível de saúde, acerca de seus objetivos e seus valores.
Perguntas como: Seria por fim a finalidade da Educação Física formar homens com músculos fortes e desenvolvidos? Seria a Educação Física, apenas mais uma disciplina escolar limitada para quatro (04) modalidades de esporte (vôlei, futebol, handebol e basquete)? Seria Educação Física técnicas de treinamentos para atletas de alto rendimento?
A formação acadêmica de um aluno de Educação Física tem atribuições maiores do que treinar uma equipe desportiva ou atuar no âmbito escolar. Quando se pensa em Educação Física relacionada à área esportiva, restringimos muito o seu campo de atuação para academias, hotéis, clubes, escolas, são reducionismos que encontramos, pois sua área de atuação é bem mais abrangente. Esse quadro tende a se transformar e ampliar, tendo em vista que com a nova legislação que prevê a formação de graduados (bachareis) em Educação Física. Concretizamos essa afirmação tendo por base o currículo mínimo exigido nos cursos superiores de graduação, onde temos mais de 40% das materiais relacionadas à área de biomédica, como cita Oliveira (2004), e a outra porcentagem se destina a formação geral, profissional e pedagógica.
Falando no âmbito de saúde, Bagrichevsky e Estevão (2004) fazem uma reflexão bem interessante sobre os sentidos da saúde e a Educação Física. Os autores afirmam a importância positiva da atividade como uma minimizadora de patologias como apresentam algumas literaturas, mas principalmente fala-nos exaltando a importância de medidas em conjunto, e não apenas em ações individuais e isoladas de ciências para a obtenção da saúde.
Mencionam ainda, esses autores, a relevância de políticas públicas que visem às necessidades da população para obtenção e manutenção dessa saúde. Fazendo uma crítica do sonho da imagem corporal fruto de produtos mercadológicos sobre influencia da mídia. A mídia, por fim, materializa a obtenção de saúde através do consumo de seus produtos, reduzindo o significado do termo saúde. Dizem ainda, que toda essa massificação de ideais desse processo de busca da perfeição corporal, não é exatamente assunto saindo “do forno”, mas sim uma tradição de culturas, citando como exemplo as questões hedonistas.
Trabalhar para a obtenção da saúde é necessário uma junção de fatores políticos, econômicos e culturais, e não apenas de fazer uma transferência de responsabilidade para um indivíduo, salientando para o mesmo a importância do exercício físico. Os governantes não oferecem condições para que tal procedimento aconteça, e um indivíduo que mal consiga pagar suas contas básicas em cada mês (realidade da maioria da população) do que ele dirá na hipótese de freqüentar academias ou consumir produtos ofertados pelas industrias.
Percebamos também que a saúde não pode ser restringida simplesmente ao fator biológico de um sujeito, aquele que está bio-fisologicamente doente ou não, e muito menos deixar exclusivamente para a ciência médica atuar de forma isolada de outras ciências humanas e sociais, sobre essa questão. Carvalho (2001) nos diz que
A saúde não é um objeto, um presente. Portanto, ninguém pode dar saúde: o médico não dá saúde, o profissional de educação física não da saúde, a atividade física não dá saúde. A saúde resulta de possibilidades, que abragem as condições de vida, de modo geral e, em particular, ter acesso a trabalho, serviço de saúde, moradia, alimentação, lazer conquistados […] tem saúde quem tem condições de optar na vida (CARVALHO, 2001, p. 14).
Palma (2001), diz que o sentindo da saúde esta relacionada a uma esfera social que influencia significativamente na saúde do individuo, pois o homem é um ser de relacionamento, inserido e atingindo diretamente em qualquer decisão, seja a mesma governamental ou não.
Sobre o aspecto conceitual da palavra, a OMS (Organização Mundial de Saúde) diz que saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou de enfermidade, apesar de que muitas literaturas criticam esse conceito, principalmente no que está relacionado ao “bem-estar físico”.
Cita Oliveira (2004), que o aluno de Educação Física ao interessar, valorizar e aprofundar na área biomédica, ele tem a capacidade de fazer uma pesquisa formidável, citando ainda parte desses discursos sobre conhecimento em aparelho circulatório, osteologia, neurologia e outros. O que esta faltando é incentivo e interessante dos alunos para explorar essa área, frisando ainda a importância do diálogo entre as áreas (médicas com as de educação física), respeitando o espaço de cada uma.
Já mencionamos que a Educação Física trata o homem em movimento, enquanto ser individual e social. A Educação Física vive em função e para o homem abrangendo partes afetivas, psicomotor e intelectual (Oliveira, 2004). Mas, é necessário sempre avaliarmos o tipo de atividade que estamos desenvolvendo com as pessoas que procuram o profissional de Educação Física, e colocá-los sempre em primeiro plano, percebendo suas necessidades e anseios e que não temos apenas seres biologicamente procurando nossos serviços, mas, ao contrário, seres humanos, dotados de sentimentos como raiva, alegria, tristeza, ansiedade. Carvalho (2001) diz que
Ao se propor um programa de atividade física, não poderia ele ser um programa cujo conteúdo priorizasse a relação atividade física e saúde, a atividade visando à saúde, mas proposta seria fundamentada na idéia de que é o conhecimento e a experiência do homem com a cultura corporal que possibilitam a ele manifestar-se, expressar-se visando à melhoria da sua saúde (CARVALHO, 2001, p.11).
Nessa contextualização, o homem em busca desse sentido de saúde, transcende o seu físico e o biológico, e o coloca em um lugar de um ser mais humano e mais social, aquele que é capaz de experimentar sua corporeidade sem tirar a sua originalidade e sua essência.
Historicamente percebemos a busca do homem de sua imagem corporal, como citado por Palma (2001, p. 27), “[…] o corpo é hoje, ao mesmo tempo, “consumidor” e objeto de consumo”, atingindo-nos muitas vezes esse pensamento. No entanto, cabe ao homem perceber qual é verdadeiramente o sentido do seu próprio corpo.
O homem tem o poder, através dos avanços tecnológicos, de escolher as alterações da própria imagem. Vale ressaltar aqui, que não estamos fazendo uma apologética nem fazendo uma contestação, mas sim analisando e refletindo até que ponto essas transformações influenciam no homem, e quais são os reais objetivos para tais transformações. No dia-a-dia massifica-nos a mídia sobre a necessidade de um corpo estrutural, um corpo perfeito. Alguns profissionais da área de Educação Física muitas vezes incorporam essas idéias em seu cotidiano. Palma nos fala das diversidades de ginástica que surgem a cada dia, faz uma lista enorme de serviços e produtos e questiona se é para melhorar a qualidade ou é apenas mais uma submissão das estratégias mercadológicas.
Incontáveis são as literaturas que trazem os benefícios das atividades físicas como uma contribuição importante para a saúde, mas, não muito distante da mídia, se analisarmos, dessa forma, reduziríamos também o conceito de saúde. Minayo (apud PALMA, 2001, p.29) conceitua saúde dizendo que “Saúde é o resultado das condições de alimentação, habitação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra e acesso aos serviços de saúde”
Enfim, lembramos do que já foi dito anteriormente, Educação Física isoladamente não dá saúde, e nem outra ciência. A atitude mais sábia seria a comunhão das ciências, onde cada uma respeitaria o saber da outra, e empregando uma dialética entre essas a fim de proporcionar a saúde para o homem, além de transferir esses conhecimentos para o principal alvo, o próprio homem enquanto ser biológico, psíquico, social, afetivo, assim acrescentando qualidade na vida humana.
3 – OBJETIVOS
3.1 – OBJETIVO GERAL
Investigar os efeitos da atividade lúdica orientada no tratamento do câncer, como forma de promoção da qualidade de vida dos portadores dessa patologia.
3.2 – OBJETIVO ESPECÍFICO
1 Analisar como a ludicidade pode minimizar os efeitos das enfermidades causadas pelo câncer
2 Identificar os processos de relações e interações sociais das crianças a partir das atividades lúdicas
3 Analisar a importância do professor de Educação Física na mediação das atividades lúdicas;
4 Compreender os efeitos da atividade lúdica sobre o ser humano
4 – METODOLOGIA
O presente estudo é de natureza qualitativa, pois busca entender dentro de um processo social, os efeitos da atividade lúdica para minimizar os efeitos das enfermidades causadas pelo câncer em crianças e adolescentes da ACACCI.
Quanto aos objetivos, a metodologia é descritiva, expõe as características de determinada população. Tem por objetivo descrever um fato ou fenômeno. Residem no desejo de conhecer uma comunidade, seus traços, seus problemas. Afirma Gil (2002, p.45) que “[…] pesquisas descritivas salientam-se aquelas que têm por finalidade estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, estado de saúde, física e mental etc”.
É exploratória, pois tentamos alargar conceitos como qualidade de vida, saúde, homem, lúdico e atuação dos profissionais de educação física. Para tanto fizemos levantamentos em fontes secundárias, aplicação de questionários e observação informal, visando promover maior conhecimento do tema para um estudo mais amplo e despertando o interesse de pesquisadores para que continuem esses nossos primeiros passos. Segundo Gil (2002, p.44), “As pesquisas Exploratórias tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vistas na formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”.
Sobre os procedimentos técnicos, trata-se de um trabalho de pesquisa-ação, já que a nossa pesquisa tem um foco no processo social com a tentativa de uma participação das pesquisadoras e pesquisados na preparação das atividades ministradas e além de tentar atingir de soluções imediatas ao problema diagnosticado.
Thiollent citado por Gil (2002, p.55) define a pesquisa-ação como:
Um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
A fase Exploratória do início do desenvolvimento dessa pesquisa ocorreu ao visitarmos a ACACCI, foi aonde naquele contexto de brincar das crianças e adolescentes incluímos de forma intervencionista o papel do professor de Educação Física. Primeiro identificamos o campo de investigação e as expectativas dos interessados. Esta etapa foi realizada por meio de relatórios observacionais analisados de forma reflexiva nos momentos presenciais promovidos durante esse processo.
Os momentos reflexivos foram dialogados entre professor/alunos da disciplina, onde provocou a formulação do Problema em concomitância com a realidade encontrada na ACACCI como campo de intervenção.
Entretanto para a construção da hipótese, necessário se fez, o resgate fundamentado teoricamente historizado já por vários autores(as) em relação à problemática e a proposta.
A coleta de dados começou a se estruturar a partir do primeiro contato que tivemos com os sujeitos eleitos como co-participantes do desenvolvimento dessa pesquisa. Sendo assim, ao diagnosticarmos, desenvolvermos, problematizarmos de forma rotineira – crianças e adolescentes com câncer e lúdico – conseqüentemente uma reflexão se fez presente em todos os momentos de intervenções que promovemos na ACACCI.
A Análise e Interpretação dos Dados ocorreriam mediante os relatórios escritos por nós relacionados às nossas práticas e experiências que vivenciávamos e assim, encaminhados semanalmente a nossa orientadora. Momentos esses muito pertinentes, pois provocavam uma reflexão em relação as nossas ações, as quais podiam relacionar, refletir, analisar a real possibilidade de transformarmos os conhecimentos teórico-práticos que nós vivenciamos durante o processo de formação.
Elaboração do Plano de Ação
A pesquisa-ação concretiza-se com o planejamento de uma ação destinada a enfrentar o problema que foi objeto de investigação. Isso implica a elaboração de um plano ou projeto que indique: quais os objetivos que se pretende atingir; a população a ser beneficiada; a natureza da relação da população com as instituições que serão afetadas; a identificação das medidas que podem contribuir para melhorar a situação; os procedimentos a serem adotados para assegurar a participação da população e incorporar suas sugestões; e a determinação das formas de controle do processo e de avaliação de seus resultados. (GIL, 2002, p.146-147).
Nesse sentido o nosso plano de ação desde o início ocorreu o diálogo construtivo junto com os pacientes, através das observações deixou rastros da importância de oferecer o lúdico para esses sujeitos. Portanto, o diagnóstico do perfil das crianças e dos adolescentes foi de grande peso para nossas ações futuras. Com o objetivo de Investigar os efeitos da atividade lúdica em crianças e adolescente do câncer urgiu a aplicação de um questionário, esse composto por 03 perguntas, e respondido por 15 pessoas, e outro questionário composto por uma pergunta e respondido por 04 funcionárias da ACACCI, isso para maior fidedignidade da nossa análise dos dados.
Para o questionário 01, o objetivo principal era perceber as reações que as crianças/adolescentes sentiam ao brincar mesmo com sua realidade de saúde, e analisar a importância do professor de Educação Física como mediador dessas atividades juntamente com o questionário 02.
O Segundo foi para análise do trabalho desenvolvido pelas pesquisadoras/ estagiárias direcionado para funcionários que foram envolvidos nesse processo durante a intervenção.
Durante a execução do projeto/plano interventivo, utilizamos diversos materiais como brinquedos, televisão, vídeo, bambole, material reciclável (para construção de brinquedos e incentivo à criatividade), corda, cones, bola, cola, barbante, tesoura, giz, tinta guache, pinceis. Ao longo do projeto realizamos avaliações sistemáticas do desenvolvimento do mesmo: as atividades programadas, e demais aspectos que envolveram o atendimento as crianças e adolescentes.
Os métodos avaliativos usados foram momentos sobre as atividades lúdicas e o desempenho quanto aos comportamentos desse população, momentos esses acontecidos sempre ao final de cada intervenção.
Ao longo de nossa pesquisa tivemos contato com aproximadamente 50 paciente/pesquisados, porém o questionário foi aplicado apenas a 15 pessoas/sujeitos. Sendo que a cada ida (nossa) a instituição (aos sábados e domingos) estavam presente apenas de 7 a 10 pacientes, que estavam hospedados na instituição. Esse número de 50 sofreu uma rotatividade muito grande devido à realidade do tratamento de cada criança e adolescente: hora elas estavam hospitalizadas; hora eram liberadas pelos médicos para irem para casa; e outras vezes, ainda, ficavam em tratamentos que necessitavam ir ao hospital diariamente (e como são do interior e ou não tem condições financeiras, nem familiares que possam ajudar) hospedavam-se na ACACCI, isso acabou afetando significantemente a quantidade de pacientes/sujeitos a cada intervenção. A variação da idade também foi muito grande, em média, ficávamos na faixa etária de 12 anos, com poucas crianças de colo. O número de adolescentes foi bastante expressivo, chegando a um número aproximadamente
de 15 pacientes.
Quanto ao local da pesquisa, foi realizada na ACACCI (Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil), instituição apresentada na introdução desse trabalho.
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados para a presente pesquisa foram questionários, observações das atividades aplicadas e fotografias.
5 – RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS.
Com base na intervenção aplicada no período de março a novembro de 2007 na ACACCI, observamos fatores importantes para a nossa pesquisa nos quais mencionaremos nos resultados, nas análises e discussão dos dados obtidos.
Na maioria dos casos, as crianças/adolescentes eram oriundas do interior do Estado do Espírito Santo ou até mesmo de estados vizinhos. Como o câncer é uma doença crônica, a necessidade da freqüência no hospital é muito grande (quando não internadas) então dessa forma, a ACACCI oferece todo o serviço de hospedagem e outros também já mencionados na parte introdutória.
De modo geral, o perfil das crianças e adolescente foi sempre dócil, sensível, frágil (biologicamente falando, até mesmo decorrente da própria patologia) inteligente, e demonstrava sempre muita carência e fácil convívio, em alguns momentos esses temperamentos eram alterados. Uma coisa sempre chamava muito a atenção, que era a luta diária pela vida, mesmo sem entender os motivos de serem “diferentes”, observamos que na sua essência não tinham nada de diferente de uma criança ou adolescente comum, construíam sonhos, faziam planos, falavam de seus desejos, anseios, de sua sexualidade, alguns diziam que quando crescessem iriam ser voluntários da ACACCI, enfim, a esperança era sempre manifestada, apesar de que alguns desses pacientes já até faleceram. Mas observamos que nosso trabalho proporcionou momentos de humanização e prazer conseqüentemente ajudando na promoção da qualidade de vida.
Iniciamos as nossas pesquisas na Associação produzindo uma proposta de trabalho através de um plano interventivo e o apresentamos à Instituição. Nesse plano, nosso objetivo geral foi de minimizar o impacto psicossocial provocado pela doença e pelo tratamento, por meio de desenvolvimento de atividades lúdicas regulares junto às crianças e adolescente com neoplasia através de jogos, oficinas de brinquedos, música, teatro, recreação, ginástica, passeios. Promovendo dessa forma momentos recreativos e interativos das crianças e adolescentes com os familiares e comunidades da ACACCI.
Durante a pesquisa, ocorreu uma aproximação de todos os envolvidos no processo, contribuindo dessa forma para uma melhor integração das pessoas e conseqüentemente uma melhor socialização e humanização. Falando em socialização, muitas atividades nos levavam para esse fator importante, aconteceu de forma clara a partilha, tanto das dificuldades de cada um, tanto de coisas materiais e até mesmo de alimentos (como foi no caso de um piquenique que fizemos). E, para as crianças e adolescente novatos, as brincadeiras proporcionavam uma integração bem espontânea, rápida e fácil com outros pacientes mais antigos.
As atividades aplicadas foram bem diversificadas e envolventes, a alegria, o diálogo, a amizade foram bem manifestadas em todas as atividades lúdicas, observando-se através das oportunidades de contato com as brincadeiras, tendo um resultado bastante positivo. Resultado esses, que ao trabalharmos com os recursos lúdicos, significou oferecer para o paciente uma alternativa para lidar com as emoções suscitadas pela sua situação, um conhecimento de si, construindo pontes entre pacientes, funcionários, acompanhantes e pesquisadoras. Ocorreu Sempre um diálogo se realmente eles queriam participar das atividades, podendo o paciente optar por atividades que gostavam, e assim ocorreu todo o processo.
É interessante e importante ressaltar aqui a presença do acompanhante. Todas as vezes que os pacientes estavam desenvolvendo uma atividade, pediam a presença do seu familiar para participar daquele momento, ou seja, estavam gostando tanto da atividade que gostariam que seus acompanhantes também usufruíssem daquela alegria, como demonstram os depoimentos abaixo.
Paciente “G”.
– Vou chamar mainha pra participar também. Participa aqui mainha.
Acompanhante “B” (ao telefone).
– Foi muito legal a comemoração do dias das Mães aqui na ACACCI, teve a brincadeira da “Caxandra”, até dancei funk e rimos muito.
Como já mencionado, a ludicidade é manifestação de alegria, um momento de brincadeira, de divertimento, mas, também é relacionamento interpessoal, é expressão corporal, é criatividade entre muitas outras coisas boas.
Podemos confirmar essas afirmativas através das análises dos dados e fazendo uma discussão sobre os mesmos tendo como respaldo todo embasamento teórico demonstrado textualmente nessa pesquisa.
Abaixo alguns exemplos das atividades executadas durante o estágio que está registrado em nossos diários de campo (relatórios).
ATIVIDADE 1 – Esse final de semana foi mais uma experiência nova, novas crianças, novos adolescentes, e a sensação de estar nesse local, é como se fosse sempre a primeira vez. Temos que conquistar, temos que respeitar, temos que amar, e estar nesse local é uma coisa diferente do que já vivenciei , está sendo muito bom, tenho aprendido particularmente muito com as crianças e os adolescente. Cada uma com sua limitação, dificuldade, com seu carinho, umas mais quietas, outras mais agitadas. Mas sempre muito carinhosas tenho percebido essa reciprocidade de carinho.
No sábado a atividade foi à confecção dos ovos de páscoa. Utilizamos ovos de galinha (fizemos um pequeno furo em cada ovo para retirarmos a gema e a clara), tinta guache, pincel, papel selofone, fita, e muita criatividade, eu levei pronto de casa cartões com cara de coelhos, porque achei que o tempo não seria suficiente para confeccionar na ACACCI, por isso levei pronto, e realmente no sábado foi corrido.
No domingo da páscoa, apenas acabamos de enfeitar os ovos e fazer o sorteio do amigo “choco”. Por um momento achei que não aconteceria envolvimento por parte dos acompanhantes, mas professora, para minha surpresa, elas ficaram muito animadas, quando entreguei o papel para elas tirarem o nome das pessoas, foi muito legal. Ocorreu um envolvimento de todas as pessoas que estavam na ACACCI, até as “tias” da cozinha e o guarda participaram, foi muito legal. Para a execução da brincadeira reunimos todos no refeitório e fizemos à entrega dos ovos, bombons e os recados. Por fim perguntei se todos haviam gostado do domingo de páscoa, e a resposta do sim foi unânime.
ATIVIDADE 2 – SÁBADO: Nesse dia nossa atividade foi externa, fomos ao shopping e assistimos um filme. É bem interessante esse contato das crianças e adolescente com o ambiente diferente, pois se estão na ACACCI estão no hospital (esse por ultimo é sempre).
Quando retornamos para a brinquedoteca, desenvolvemos atividades com jogos cognitivos como dama, quebra cabeça e baralho, atividades essas que estimulam a imaginação, raciocínio, memória, trazendo benefícios e melhorando a qualidade de vida das crianças e adolescentes.
DOMINGO: No primeiro horário trabalhamos com as crianças (14 as 15:30), fizemos atividades com bola, era bola ao gol, cada criança arremessava a bola com o objetivo de acertar o gol, isso ia acontecendo uma de cada vez, foi uma brincadeira bem divertida, houve muita gargalhada e descontração, precisou de utilizar a imaginação das crianças para acertar, e também na sua honestidade (lúdico como uma ferramenta na formação do caráter) pois o jogador tinha q esperar sua vez sem ultrapassar e ter paciência. Desenvolvemos nessa atividade a coordenação motora e a orientação espacial.
Outra atividade foi à brincadeira cantada, a escolhida “Escravos de Jo”, as crianças precisavam usar a agilidade e atenção, quem errava imitava alguma coisa definida pelo grupo.
No segundo momento trabalhamos com os adolescentes (02), decidimos em conjunto jogar sinuca e toto, jogo esses que precisam de atenção, noção de espaço, mas não deixando de acontecer muito envolvimento.
ATIVIDADE 3 – COMEMORAÇÃO DO DIA DAS MÃES NA ACACCI.
Sábado: horário – 13:30 as 18:00
Infelizmente no sábado não tivemos uma boa noticia, duas crianças que eram da ACACCI vieram a falecer, isso abalou muito a todos, Ednéia e eu não chegamos conhecer uma, mas a outra criança, chegamos a ficar com ela uma vez. O clima estava péssimo no sábado, mães chorando,e as crianças sempre perguntando o que estava acontecendo, conseguimos esquiva-las de tal noticia até o momento que estávamos lá, depois não sei o q aconteceu. Mas todos tentavam esconder isso das crianças/adolescentes.
No sábado fizemos os preparativos para a comemoração do dia das Mães, ensaiamos o teatro, as poesias (foram 02), as músicas que iriam ser cantadas, tiramos fotos e preparamos alguns detalhes e o local.
Domingo: 13:30 as 17:00
No domingo foi muito especial, chegamos e preparamos o local, com bolas, cartaz e colocamos as cadeiras em frente ao palco, comecei agradecendo a presença das mães,crianças, adolescentes, governanta e da secretária.
A programação foi:
1º Teatro (com as próprias crianças)
2º Poema lido por uma adolescente (ela nunca tinha nem entrado na brinquedoteca, muito tímida)
3º Fizemos a brincadeira da “caxandra” (esse foi um dos momentos que elas gostaram , foi bem dinâmico, envolvente e engraçado)
4º Musica – Foi uma adolescente cega e outro adolescente que cantaram as músicas no videoke. (foi bem emocionante esse momento)
5º Volta da Caxandra
6º Poema – Adolescente Cega que fez também, foi muito legal.
7º Diálogo: Deus, criança e o anjo (mãe)
8º Slide: Nesse momento passamos várias fotos com as crianças, mães, pessoas que trabalham ali e colocamos de fundo uma mensagem do dia das mães.
9º Agradecimentos.
O interessante foi ouvir os comentários pelos “bastidores”. Todos comentavam sobre à tarde e riam, dizendo que gostaram muito, teve uma mãe que recebeu um telefonema e ela comentou com a pessoa de tudo que aconteceu lá.
Conforme informamos na metodologia, utilizamos também questionários como coleta de dados. O primeiro questionário foi composto por 03 perguntas, e respondido por 15 pessoas.
QUESTIONÁRIO – 01
1 – QUAL O SEU SENTIMENTO QUANDO VOCE BRINCA?
2 – E QUANDO A GENTE (TIA NÉIA E TIA NARINHA) ESTÁ AQUI PARA BRINCAR COM VOCES, O QUE VOCE SENTE?
3 – QUANDO VOCES SAEM DAQUI VOCES CONTINUAM A BRINCAR? ENSINAM O QUE VOCES APRENDERAM PARA OUTRAS PESSOAS?
QUESTIONÁRIO – 02
Quantidade de funcionários: 04 (sendo 02 brinquedistas e 02 governantas)
1 – O TRABALHO DESENVOLVIDO PELAS ESTÁGIÁRIAS FOI SATISFATÓRIO, CONSEGUINDO ATINGIR AS EXPECTATIVAS? SIM ( ) NÃO ( )
Conforme as respostas abaixo, como resultado dos questionários, podemos concluir nas respostas que as crianças gostavam de brincar porque naquele momento elas se sentiam felizes, e alegres. E sabemos que a alegria é um sentimento que desencadeia produção de substâncias que aumentam a imunidade, e é uma procura constante do ser humano.
Conforme mostras das respostas dos pacientes abaixo:
PACIENTE K
1) GOSTO DE BRINCAR PORQUE TO ALEGRE
2) COM AS TIAS É MELHOR, SOZINHO DESANIMA.
3) PINTAR COM OS AMIGOS, ASSISTE DVD.
PACIENTE A
1) POR QUE FICO ALEGRE, NÃO TO TRISTE, QUANDO TO TRISTE EU NAO BRINCO
2) FAZ COMPANHIA, NÃO FICA BOM QUANDO ELAS NAO TAO, GOSTO MUITO
3) BRINCO DE ADEDONHA, DESENHO, CANTO.
PACIENTE D
1) GOSTO, O TEMPO PASSA RAPIDO, FICO FELIZ.
2) GOSTO, PORQUE TÊM COMPANHIA, BRINCADEIRAS LEGAIS.
3) ÀS VEZES, PORQUE TEM POUCA CRIANÇA.
PACIENTE T
1) GOSTO PORQUE APRENDO MUITAS COISAS.
2) AS TIAS TRAZEM BRINCADEIRAS QUE AGENTE RI MUITO.
3) SIM, CARRINHO.
PACIENTE C
1) GOSTEI DA FESTA DE ANIVERSARIO QUE FIZEMOS
2) ELAS ANIMAM
3) NÃO, PORQUE MORO NA ROÇA.
Nesse contexto de alegria, de festa, de aprendizagem, de amizade, são manifestados sentimentos vitais, e percebemos que esses pacientes estavam vivos e não era em momento algum poderíamos trata-los como “coitadinhos”, delimitamos regras, limites, e respeito com o próximo. E analisamos assim, que a promoção da qualidade de vida também passa por esses momentos. Percebemos que conseguimos levar as crianças ao um fator muito importante, vivenciar o momento com coisas que realmente faziam bem para aqueles pacientes.
O câncer, conforme já mencionado anteriormente, é uma patologia que desencadeia um desgaste emocional muito grande, por isso a proposta lúdica foi justamente minimizar esse efeito, ocasionando ai uma “troca” de papeis, se a criança ou adolescente estiver triste, oferecer o lúdico para ficar alegre, do sério o cômico, fazendo com que de alguma forma as perdas que esses sujeitos têm sejam reduzidas ao máximo. Como as conseqüências que o câncer trás é raiva, revolta, depressão, medo, angústia, isolamento, conseguimos reverter os papeis tendo como base as respostas . Influenciando assim em aspectos biopsico-soiais (afirmação essa enraizada na revisão de literatura e nossas observações sistematizadas), conseqüentemente melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
Através das fotos, também percebemos a satisfação das crianças de estarem brincando. Nesse momento, ocorreu muita felicidade, descontração e interação. As atividades propostas causavam um bem-estar, podendo assim experimentar, a partilha, o riso, a confraternização, diminuindo os sentimentos ruins que essa doença trás consigo.
As fotos, conforme mencionado na metodologia serviram como análise dos dados. Porém, por parâmetros da Instituição, essas fotos não puderam ser ilustradas nessa pesquisa, em virtude de normas existentes da ACACCI, na qual respeitamos, mesmo com liberação dos pais e acompanhantes responsáveis não tornaremos público.
As fotos correspondem a algumas atividades que fizemos como teatros (nessa encenação ocorreu um envolvimento muito grande, uma capacidade de assimilação e estimulou a criatividade e para quem assistiu foi um “grande espetáculo”), brincadeiras com dinâmicas de relacionamento interpessoal. Uma dessas foi “reconheço o animal”, onde as crianças de olhos vendados escolhiam um companheiro que estava no circulo, sentava na frente dele e ele tinha que imitar um animal, a pessoa de olhos vendados tinha que reconhecer a voz e dizer de quem era. Outras fotos que temos também foram das comemorações de aniversários, esses momentos eram muito festejados por eles, pela sua luta diária pela vida. Todos comemoravam juntos, com muita alegria, festa, música e comidas.
Com relação à mediação do professor de Educação Física, os pesquisados disseram, através da resposta número dois, que quando as professoras estavam presentes o ambiente era melhor, levavam atividades prazerosas, não deixavam ficar desanimados como podemos perceber nas respostas e através das fotos.
ACOMPANHANTE “L”.
– AINDA BEM QUE VOCES CHEGARAM, PACIENTE ”V” TÁ TÃO TRISTE.
A intervenção das pesquisadoras foi um diferencial bastante significativo, a priori muitas pessoas envolvidas no processo achavam estranho um professor de Educação Física naquele local trabalhando com corpos tão anatomicamente frágeis, mas no decorrer das atividades foram percebendo a seriedade do trabalho e dando confiança e crédito para as professoras/acadêmicas que através de propostas sistematizadas conseguiram alcançar os objetivos dessa pesquisa.
Salientamos assim, a importância de atividades e professores comprometidos com o lúdico, não fazendo apenas um simples passatempo ou uma ocupação, mas um local que manifestasse a totalidade humana dentro de suas nuances, e que percebam que uma brinquedoteca (ou um espaço lúdico) não pode apenas sobreviver de voluntários, embora esses exerçam um trabalho aplausível e digno de todo respeito.
Através do questionário 02, junto com o complemento da pergunta do questionário 01, podemos analisar o papel das pesquisadoras junta a esses sujeitos, tendo também uma aprovação de 100% pelos funcionários da ACACCI. Onde os funcionários disseram estar satisfeito com o trabalho desenvolvido pelas professoras de Educação Física.
A confiança adquirida pelas estagiárias foi acontecendo em “doses homeopáticas”, na medida em que as atividades eram propostas, as funcionárias da ACACCI percebiam a seriedade do trabalho. No começo ocorreram alguns questionamentos, acreditávamos ser normal ate mesmo pelo público particular e delicado, mas foram dando-nos oportunidade também de mostrar que não estávamos ali para simplesmente adquirir um diploma ou que estávamos por obrigação, mas verdadeiramente estávamos atrás de uma pesquisa séria e inédita na área de Educação Física em nível de Espírito Santo.
6 – CONCLUSÃO
Ao termino dessa pesquisa, trazemos a certeza que a atividade lúdica tem papel fundamental na essência humana, iniciando sua atuação desde o nascimento até mesmo em morte iminente. O lúdico potencializa o homem não sob no âmbito individual de suas necessidades, mas até mesmo enquanto homem inserido na sociedade.
Essa pesquisa trabalhou com um público envolvente de carinho, de esperança, de solidariedade, de amizade, de percepção de valores e de ética. Partilhamos as tristezas das perdas, partilhamos o choro, mas fundamentalmente partilhamos à alegria, a felicidade, as festas, os desenvolvimentos e conhecimentos adquiridos.
Analisamos que, mesmo com uma doença crônica, a criança e o adolescente não deixam de sonhar, e até mesmo utilizam-se desses sonhos para enfrentar sua realidade. Todo esforço se faz necessários para que a ação do brincar torne-se uma realidade. O lúdico promove a continuidade da experiência de vida do sujeito.
Conclui-se, portanto, que através das práticas lúdicas temos efeitos minimizadores para auxiliar no tratamento ao câncer. Pelas brincadeiras as crianças e os adolescentes desenvolvem a saúde integral, socializa-se, explora o ambiente, expõe seus pensamentos, criam modos de expressar-se, desenvolve a autonomia. Concluímos que através do lúdico, temos uma melhora da qualidade de vida, mesmo no ambiente hospitalar ou em casas de apoio, quando eles brincam tornam esse ambiente menos angustiante.
Observa-se o importante papel sistematizado do professor de Educação Física frente a essa população através de planos interventivos e de vivências relacionadas, ao olhar, tocar, proporcionar situações, movimentar a criança/adolescente, estar igualmente mobilizado com suas emoções, seus pensamentos e, de forma lúdica, influenciando seu comportamento e seu desenvolvimento.
Percebemos a necessidade da Educação Física de buscar e conquistar seus espaços pertinentes enquanto área da saúde. Percebendo que as possibilidades da área são bem abrangentes, mas que essas possibilidades surgirão através de pesquisas e identificando os valores e objetivos desta área de conhecimentos. Não apenas aquela vista em academias ou escolas, mas uma Educação Física que abrace o homem em todas as suas nuances, agregando-se até mesmo nas ciências humanas e sociais. Comprometendo-se os profissionais com seus deveres para uma Educação Física de movimento humano e dizer não a uma alienação de corpos perfeitos.
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8 – ANEXOS
8.1 – ANEXO 01
QUESTIONÁRIO 01
1 – QUAL O SEU SENTIMENTO QUANDO VOCE BRINCA?
2 – E QUANDO A GENTE (TIA NÉIA E TIA NARINHA) ESTÁ AQUI PARA BRINCAR COM VOCES, O QUE VOCE SENTE?
3 – QUANDO VOCES SAEM DAQUI VOCES CONTINUAM A BRINCAR? ENSINAM O QUE VOCES APRENDERAM PARA OUTRAS PESSOAS?
PACIENTE A:
1) GOSTO DE BRINCAR PORQUE TO ALEGRE
2) COM AS TIAS É MELHOR, SOZINHO DESANIMA
3) PINTAR COM OS AMIGOS, ASSISTE DVD
PACIENTE B:
1) POR QUE FICO ALEGRE, NÃO TO TRISTE, QUANDO TO TRISTE EU NAO BRINCO
2) FAZ COMPANHIA, NÃO FICA BOM QUANDO ELAS NAO TAO, GOSTO MUITO
3) BRINCO DE ADEDONHA, DESENHO, CANTO.
PACIENTE C
1) GOSTO, FICO MAIS FELIZ.
2) GOSTO, PORQUE É MELHOR.
3) NÃO, PORQUE SÓ CONVERSO.
PACIENTE D
1) GOSTO, O TEMPO PASSA RAPIDO, FICO FELIZ
2) GOSTO, PORQUE TEM COMPANHIA, BRINCADEIRAS LEGAIS.
3) AS VEZES, PORQUE TEM POUCA CRIANÇA
PACIENTE E
1) GOSTO, PORQUE FICO FELIZ
2) GOSTO, FICA MELHOR, EU ATENTO VOCES.
3) SIM, CARRINHO.
QUESTIONÁRIO – 02
1 – O TRABALHO DESENVOLVIDO PELAS ESTÁGIÁRIAS FOI SATISFATÓRIO, CONSEGUINDO ATINGIR AS EXPECTATIVAS? SIM ( ) NÃO ( )
Funcionário “C”
( X ) SIM ( )
Funcionário “E”
( X ) SIM ( )
Funcionário “S”
( X ) SIM ( )
Funcionário “L”
( X ) SIM ( )
8.2 – ANEXO 02
MODELO – CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIMENTO I
Em cumprimento ao protocolo de pesquisa, apresento a ASSOCIAÇÃO CAPIXABA CONTRA O CANCER INFANTIL, o projeto de pesquisa “O LÚDICO COMO PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA A CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM CÂNCER NA ACACCI: O PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA” de autoria das alunas Ednara Nepomuceno e Ednéia Oliveira Santos, como recomendação para a realização do trabalho de conclusão de curso de graduação (bacharelado) em Educação Física, pela FACULDADES INTEGRADAS SÃO PEDRO – FAESA.
O objetivo da pesquisa é investigar os efeitos da atividade lúdica orientada no tratamento do câncer, como forma de promoção da qualidade de vida dos portadores dessa patologia. Desse modo, a pesquisa será desenvolvida nas dependências da ACACCI (podendo a mesma ocorrer em outro ambiente externo) por meio da observação participante com gravações, entrevistas e registros em diário de campo.
Os dados terão tratamento ético, com garantia de proteção dos nomes dos sujeitos e autorização da participação das crianças e adolescentes pelas famílias. O trabalho será realizado a partir de negociações com os sujeitos, no decorrer do estudo. Os dados/resultados da pesquisa serão apresentados no texto do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e poderão ser utilizados para publicação, congressos e outros eventos. Por isso, solicito sua autorização por meio da assinatura deste Termo de Consentimento:
8.3 – ANEXO 03
MODELO – CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIMENTO II
Em cumprimento ao protocolo de pesquisa, apresento aos pais/responsáveis pelas crianças e adolescentes da ASSOCIAÇÃO CAPIXABA CONTRA O CANCER INFANTIL, o projeto de pesquisa “O LÚDICO COMO PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA A CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM CÂNCER NA ACACCI: O PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA” de autoria das alunas Ednara Nepomuceno e Ednéia Oliveira Santos, como recomendação para a realização do trabalho de conclusão de curso de graduação (bacharelado) em Educação Física, pela FACULDADES INTEGRADAS SÃO PEDRO – FAESA.
O objetivo da pesquisa é investigar os efeitos da atividade lúdica orientada no tratamento do câncer, como forma de promoção da qualidade de vida dos portadores dessa patologia.Desse modo, a pesquisa será desenvolvida por meio da observação participante com gravações, entrevistas e registros em diário de campo.
Para garantir o tratamento ético dos dados, o nome das pessoas que participaram da pesquisa, será mantido em sigilo, e serão utilizadas apenas as iniciais dos nomes, preservando, sobretudo, a integridade do grupo. Os dados/ resultados da pesquisa serão apresentados no texto do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e poderão ser utilizados para publicação, utilizados em congressos ou outros. Por isso, solicito sua autorização por meio da assinatura deste Termo de Consentimento:
Eu, _______________________________________________, responsável pelo ___________________________________________(nome do menor), da ASSOCIAÇÃO CAPIXABA CONTRA O CANCER INFANTIL, autorizo sua participação no projeto de pesquisa “O LÚDICO COMO PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA A CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM CÂNCER NA ACACCI: O PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA” de autoria de Ednara Nepomuceno e Ednéia Oliveira Santos – FAESA, concordando com os procedimentos acima apresentados.
Assinatura:____________________________________RG:___________________
Telefone:________________________________________ Data: ____________________
8.4 – ANEXO 04
PLANO DE INTERVENÇÃO
Tema: O lúdico como promoção da qualidade de vida a crianças e adolescentes com neoplasia: O papel do professor de Educação Física.
FAESA – FACULDADES INTEGRADAS SÃO PEDRO
INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO
CURSO EDUCAÇÃO FÍSICA
Curso: Educação Física
Alunos:
Ednara Nepomuceno
Ednéia Oliveira Santos
Período: MARÇO a JUNHO / AGOSTO A NOVEMBRO
Local: Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (ACACCI)
Público Alvo: Crianças e adolescentes com câncer
OBJETIVO GERAL
Minimizar o impacto psicossocial provocado pela doença e pelo tratamento, por meio de desenvolvimento de atividades lúdicas regulares junto às crianças e adolescente com neoplasia
OBJETIVO ESPECÍFICO
* Desenvolver atividades lúdicas através de jogos, música, teatro e recreação.
* Estimular a criatividade através das oficinas de brinquedos
* Desenvolver coordenação motora por meio de circuitos.
* Promover momentos recreativos e interativos das crianças e adolescentes com os familiares e comunidades da ACACCI.
CONTEÚDO
Jogos, oficinas de brinquedos, música, teatro, recreação, festival de cinema, dança, ginástica, passeios
METODOLOGIA
A dinâmica do estágio dar-se-á por encontros semanais, que acontecerão nos finais de semana: sábados e domingos nos horários de 08h às 11h; podendo se estender caso a programação para o encontro seja mais extensa.
As crianças e adolescentes receberão atendimentos distintos, ou seja, terão horários diferenciados com duração de uma hora e meia para cada grupo. O horário de ambos deverá ser definido com a instituição atendendo a sua demanda.
As atividades desenvolvidas serão: vivencia de jogos; construção de brinquedos durante as oficinas de brinquedos; ouvir e cantar música; encenar e assistir teatro; festival de cinema; vivenciar dança e ginástica; e passeios.
Para o desenvolvimento das atividades serão utilizadas as dependências da ACACCI: brinquedoteca, salão externo, auditório, e também realizaremos trabalhos no hospital infantil.
Os passeios acontecerão de forma integrada ao cronograma da ASSOCIAÇÃO.
RECURSOS MATERIAIS
Brinquedos diversos, televisão, vídeo, bambole, colchenete, material reciclável, corda, cones, bola, cola, barbante, tesoura, giz, tinta guache, pinceis.
11 – AVALIAÇÃO
Ao longo do projeto realizaremos avaliações sistemáticas do desenvolvimento do mesmo: as atividades programadas, e demais aspectos que envolvem o atendimento as crianças e adolescentes. Avaliaremos também os participantes ao longo das atividades.