Quem cita muito acaba não tendo personalidade
Outro dia recebi um e-mail contendo um texto com dicas para escrever melhor. Uma delas dizia que “quem cita muito acaba não tendo personalidade”. Concordo que citações de outros autores em excesso são ruins, deixam o texto muito artificial e sem característica própria.
Por outro lado existem possibilidades de citações, e até a utilização de passagens inteiras, que são extremamente divinas, e faço uso delas para explicar algumas de minhas opiniões e visões sobre os mais diversos assuntos.
Quando alguém pergunta se eu acredito em Deus, por exemplo, eu poderia teorizar sobre filosofia, idéias e finalmente chegar no cerne da questão, mas, para facilitar minha vida, utilizo uma passagem do poema “O Guardador de Rebanhos”, de Fernando Pessoa.
É uma idéia tão completa que não preciso sequer fazer adições antes sou depois desse trecho, o qual compartilho aqui com vocês:
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda hora,
E minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Pra que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e luar,
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si-próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda hora.
Fernando Pessoa