Autor: Maria Fernanda Falk
1-Brasil
A raiva é uma doença muito delicada de ser tratada, pois tem um impacto social muito forte.
No sul do Brasil deve ser tratada diferencialmente que no restante do país.
Para a região sul citarei principalmente os métodos preventivos como meio de sustentar os baixos níveis já existentes.
A imunização em massa deve ser mantida como forma de não reincidência da doença em meio urbano, animais vindos de outras regiões, para ingressarem no estado deveriam possuir certificado de vacinação. Mantendo os animais domésticos vacinados a chance destes pegarem raiva de animais selvagens é muito menor, pois o número de suscetíveis baixa, diminuindo consequentemente o risco para humanos.
Na região sul, e em todo o país os profissionais que tenham contato constante com animais devem ser imunizados contra a raiva. Os caçadores em geral também, pois é maior a chance de um encontro destes com animais selvagens não vacinados.
Em meio rural, o fator econômico da perda de gado, conseqüente do ataque de morcegos deve ser fator de pressão aos meios públicos para que efetuem a imunização do gado.
Visto que com o tempo o número de animais selvagens (principalmente morcegos) acometidos por raiva tende a aumentar, a população rural deve ser orientada na maneira de construírem casas e estábulos para que os morcegos não possam penetrar. A reforma das casas já existentes deve ser financiada pelas prefeituras locais onde a população de morcegos for maior.
Todos os animais do país diagnosticados com raiva devem ser sacrificados, e os com suspeita devem ser capturados pelas autoridades competentes para uma possível confirmação.
Em todo o país a vacinação anual dos animais domésticos deve ser seguida e reforçada por campanhas de orientação.
A população deve ser informada que a doença é letal e não tem cura e que no caso de agressão de animais elas devem procurar imediatamente o sistema de saúde para que possam se tratar adequadamente, e o animal deve ser mantido sob observação.
No norte do país, onde os estados são menos afortunados a raiva ainda é motivo de algumas mortes, que poderiam ser evitadas. Nesta região a providência a ser tomada é melhorar as campanhas em dois pontos básicos:
Aumentar a cobertura territorial da vacinação, fazendo-a chegar aos pontos mais remotos, seja à cavalo, de barco ou helicóptero.
Orientar a população com linguagem acessível (indígena se necessário), para a importância de vacinarem animais domésticos, evitarem mamíferos selvagens, como macacos, e principalmente de procurarem ajuda médica ante a qualquer agressão de mamíferos que venham a sofrer.
Outro problema enfrentado no nordeste do Brasil é a raiva por raposas, estes animais que normalmente evitam os humanos e cães, quando doentes por raiva, perdem o medo e podem atacar caçadores e outras pessoas desavisadas. Como a vacinação para este tipo de animais ainda é “futuro” em nosso pais, podemos evitar maiores riscos orientando sobre as precauções e procedimentos a serem tomados.
A raiva em humanos, por morcegos hematófagos que alimentavam-se de gado, em campos que são destinados à plantação, é muito elevada. Quando um campo for passar por estas mudanças a população local deve ser avisada previamente para que sejam tomadas as devidas providências.
Os médicos veterinários, e profissionais de saúde em geral devem ser avisados da importância de notificarem os novos casos e suspeitas, só assim saberemos as proporções da doença e poderemos influenciar melhor o governo para atitudes mais drásticas em relação ao assunto.
Acredito que seguindo esta linha de atitude no Brasil, a raiva pode ser controlada e posteriormente, com medidas mais específicas, erradicada.
2-EUA
A raiva nos EUA é muito mais complicada que no brasil, pois houve uma mudança em seu perfil na metade do século, depois de tida como controlada, ela aos poucos foi se espalhando nos mamíferos silvestres (gambás, raposas, coiotes, guaxinins, coelhos, esquilos e outros roedores) e agora esta voltando aos animais domésticos e humanos.
No sudoeste dos EUA é comum a raiva por texugos e raposas. No Texas há também a raiva dos coiotes.
Nos EUA, o problema dos animais silvestres é muito maior, pois eles são muito populares entre as crianças e costumam freqüentar o quintal e as praças das cidades, mesmo as grandes metrópoles. Como já foi citado anteriormente, estes animais perdem o medo dos humanos quando rábidos e podem facilmente atacar crianças e outros animais domésticos.
Além disto há uma tendência mundial para um aumento no número de casos de raiva. Em 1993 o número de casos em animais foi especialmente alto, cerca de 40000 pessoas morrem no mundo a cada ano de raiva.
Também em 1993 em Massachusettes, foi encontrada raiva em animais silvestres, depois de 40 anos de ter sido encontrada só em morcegos. Nos guaxinins desta região ela está se espalhando rapidamente.
No condado de Cumberland houveram 28 casos de raiva em 1994, 117 em 95 e já foram reportados 9 casos em 1996, destes 5 eram gatos os outros eram raposas e guaxinins. Em Sampsom região vizinha dois cães rábidos já foram notificados.
Aproximadamente duas pessoas morrem de raiva nos EUA a cada ano, algumas adquirem a doença fora do país.
Os departamentos epidemiológicos esperam um aumento para os níveis de raiva em relação ao ano de 1995.
Outro aspecto importante são os altos custos da doença, a lei nacional obriga aos proprietários de animais domésticos que os vacinem ao custo de 5$ US. Mas o estado gasta de 230 milhões a 1 bilhão de dólares anuais para prevenir a raiva.
Em New Hampishire a exposição em potencial à um único gato rábido levou ao tratamento 650 pessoas com um custo de 1.5 milhões de dólares para o estado.
Outros custos da raiva são:
Trauma psicológico em humanos.
Eutanásia de animais de estimação.
E a perda de pesquisas importantes sobre animais silvestres durante novos surtos.
Em 1995 a raiva nos EUA atingiu níveis históricos e o custo para preveni-la em humanos está se tornado cada vez maior.
Neste país onde as campanhas são já bem sucedidas as providências a serem tomadas são um pouco mais específicas que no Brasil.
As pesquisas sobre diferentes vacinas orais para as diversas espécies silvestres devem ser intensas. Deve-se procurar uma vacina para a cruza do lobo com o cão, visto que a vacina oral usualmente aplicada para os cães não imuniza esta espécie híbrida muito popular no país.
As pessoas devem ser alertadas sobre cuidados para o caso de uma agressão por animal. E devem ser instruídas para evitar o acúmulo de lixo, pois os silvestres de pequeno porte vêem em busca de alimento fácil aproximando-se das casas. Os cães devem ser mantidos acorrentados e quando possível soltos nos quintais com cercas que delimitem o seu perímetro, evitando a saída do cão e a entrada de algum “intruso”.
Assim como no Brasil nos EUA os morcegos também são motivo para preocupação, além destes transmitirem raiva à animais domésticos eles transmitem aos humanos ( hematófagos ou não), a importação de animais silvestres nos EUA é proibida, exceto para certos zoológicos ou para fins de pesquisa. Em 1994 permissões federais impróprias foram emitidas para importar morcegos oriundos das tumbas egípcias, para serem comercializados como animais de estimação raros, estes animais não se sujeitaram à quarentena, e alguns exemplares foram soltos e acasalaram-se com as espécies locais. Acreditam alguns pesquisadores que assim pode-se desenvolver um variante da doença, como a que sofreu uma menina de 4 anos de Washington, no último caso de raiva humano reportada (março de 1995). Mesmo dizendo que não foi agredida pelo morcego a menina contraiu um variante viral da raiva, que foi também encontrada no morcego.
Por estes motivos, acredito que a raiva nos EUA só será erradicada se for feito um controle muito rígido dos reservatórios, que mantém e transmitem a raiva, além do controle das fronteiras (especial mente com o México), a caça aos pequenos mamíferos (texugos, guaxinins e raposas) deve ser estimulada. E talvez, para que o país se torne área livre, seja necessário eliminar os reservatórios.
A vacina oral para animais silvestres já existe, e está sendo utilizada, mas há sérias limitações: não se sabe o número exato de iscas que se deve deixar disponível em cada área, cada vacina oral é específica para cada espécie e não se pode garantir que o animal certo “morderá a isca”, fora ser um procedimento caro onde não se podem comprovar os resultados à curto prazo.
Acredito que um incentivo governamental em pesquisas no sentido de garantir a vacinação da maioria dos animais silvestres iria garantir 50% do êxito no processo de tornar uma área livre do vírus da raiva os outros 50% dependem da continuação dos processos vacinais e campanhas de esclarecimento já existentes.
3-Ilhas Comores
Neste país como no Brasil, a falta de recursos e a condições socio-econômicas pesam muito no fator de controle e erradicação das doenças.
O fato de haverem casos de raiva humana, em duas das quatro ilhas, significa que a doença está bem espalhada em animais domésticos e silvestres. O procedimento inicial a ser tomado deve ser o mesmo nas quatro ilhas.
Com campanhas de vacinação intensiva em cães e gatos, e a concientização da população sobre as características mortais do vírus, e sobre a necessidade de procurarem atendimento médico com rapidez no caso de agressão por animais, e outras informações importantes, poderemos dar passos positivos no caminho do controle.
Vacinar profissionais que lidem com animais e caçadores é imprescindível.
E finalmente estimular a caça a mangosta, que constitui o reservatório principal do vírus.