Desde a sua colonização, a América Latina sofre uma exploração: suas riquezas naturais sempre foram retiradas do seu seio.
Segundo Galeano “a terra, seus frutos e suas profundezas, ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos; o modo de produção e a estrutura de classes de cada lugar foram determinados, de fora, por sua incorporação à engrenagem universal do capitalismo; a historia do subdesenvolvimento da América Latina integra a historia do desenvolvimento do capitalismo mundial”.
O cenário em que se desenvolvem as lutas de classes na América Latina forjou-se ao longo de três séculos de exploração colonial e de um período menos longo, porém mais predatório, de dominação imperialista européia e, depois, norte-americana. O latifúndio, a monocultura de exportação e as formas pré-capitalistas de exploração da mão-de-obra ainda constituem considerável parcela da realidade agrária de muitos países latino-americanos.
A industrialização, concentrada em alguns setores de interesse do capitalismo internacional e realizada tardiamente, em uma época em que a economia mundial já se encontrava dominada pelo grande capital monopolista, não permitiu um desenvolvimento autônomo, e tornou os países latino-americanos extremamente dependentes dos pólos econômicos mundiais, principalmente norte-ameriano, e, conseqüentemente, das flutuações e crises do capitalismo internacional.
Suas classes dominantes são constituídas por oligarquias agro-exportadoras ou grandes comerciantes e banqueiros aliados ao capital internacional, ou por fraca burguesia, até hoje incapaz de levar adiante um projeto nacional desenvolvimentista. O crescimento demográfico acelerado tornou mais agudos os problemas de sobrevivência de grande parte da população do continente.
A instabilidade política, decorrente do quadro de subdesenvolvimento e miséria de vastas regiões da América Latina, aumenta o papel político-institucional das Forças Armadas, em geral conservadoras, e torna a região vulnerável a toda sorte de manobras do imperialismo, desde os programas de ajuda econômica até golpes de Estado, realizada por elites militares educadas em centros de treinamento de oficiais norte-americanos.
A falta de canais políticos de decisão e participação popular levou tanto a episódios de luta armada por parte de militantes do povo, seja sob a forma de ditaduras reacionárias, seja criando regimes progressistas. Nesse quadro, marcado pela violência, pelo militarismo e pelo autoritarismo, fracassou os movimentos burgueses liberais de caráter reformista, que perderam as suas força ideológica.
Nem as ditaduras militares reacionárias ou progressistas, nem o reformismo burguês foram capazes de resolver os problemas fundamentais da América Latina. E a cada avanço do movimento popular, o imperialismo responde com táticas que vão do terrorismo e da repressão policial até o abrandamento das formas autoritárias, mas sem perder o controle da situação política.
Contudo, na América Latina e outras áreas, nas quais os interesses norte-americanos tinham um espaço social e econômico relativamente escasso para penetrar sem uma ameaça de revoluções socialistas, os EUA optaram sempre pela formação de uma aliança com as oligarquias locais extrativistas ou agro-exportadoras.
Em alguns casos, as empresas norte-americanas foram responsáveis diretas pela exploração econômica da monocultura exportadora, como Guatemala, Honduras ou Cuba. Na América Latina, a estratégia da Unidade hemisférica era também um apoio importante às oligarquias políticas locais.
O Chile foi o único país latino-americano em que o governo norte-americano apoiou políticas reformistas. Em 1964, Eduardo Frei, um líder democrata-cristão, opunha-se à Unidade Comunista-Socialista que apoiou Salvador Allende em duas ocasiões (Allende venceu somente em sua terceira eleição, em 1970, devido à insuficiente política reformista da Democracia Cristã que atraiu para o campo popular parte dos radicais e dos democratas cristãos).
A política norte-americana foi contra: Perón na Argentina (apoiando e promovendo o golpe de Estado de 1955); Vargas no Brasil (conduzindo o movimento pelo impeachement que foi detido em parte com o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954); a Revolução na Bolívia, em 1952, sob a liderança do MNR (apoiando a reconstrução de um Exército Nacional que tomará o poder em 1961, através de um golpe de Estado) ; Jacobo Arbens na Guatemala (a invasão ao país foi organizada pela CIA em 1954); a Revolução Cubana em 1958-59 (a princípio, os liberais americanos apoiaram o levante Castrista, mas adotaram a estratégia do confronto com o Governo de Fidel Castro depois da reforma agrária e da nacionalização de companhias petrolíferas).
Na década de 60, estas iniciativas diplomáticas e subversivas atingiram um novo nível com o golpe de Estado no Brasil, em 1964. Logo após os acontecimentos no Brasil, na Argentina tentou um novo golpe militar em 1966. Depois de avanços e retrocessos, o ciclo autoritário argentino culminou no golpe de Videla, em 1976. O ciclo autoritário latino-americano continuou na Bolívia em 1971, no Uruguai e no Chile em 1973.
Merece destaque o fato de que, na metade da década de 70, somente México, Venezuela e Colômbia apresentavam regimes democráticos na América Latina.
Os movimentos populares ampliam a sua base social. A Revolução Cubana e a experiência socialista do Chile são dois marcos das lutas populares na América Latina e assinalam dois processos históricos distintos e que tiveram, também, soluções diferentes.
O futuro da América vai depender fundamentalmente dos rumos que tomarem os seus movimentos sociais. O continente, inquieto e explosivo, é um campo aberto aos processos revolucionários dos povos, no sentido da sua emancipação social e da sua redenção como homens.