22.7 C
Sorocaba
sábado, dezembro 21, 2024

Representações Sociais sobre o Imaginário Infantil

INTRODUÇÃO

Os contos de fada são a fórmula mágica capaz de envolver a atenção das crianças, despertando-lhes sentimentos e valores intuitivos, que clamam por um desenvolvimento justo, tão pleno quanto possa vir a ser, o do prestigiado intelecto. Em essência, os contos de fada podem ser vistos como pequenas obras de arte, capazes que são de envolver as crianças em seu enredo, de instigar a mente e comovê-las com a sorte de seus personagens. Causam impactos no psiquismo porque tratam das experiências cotidianas, e permitem que as crianças se identifiquem com as dificuldades ou alegrias de seus heróis, cujos feitos narrados expressam, em suma, a condição humana frente às provações da vida. Neste processo, cada criança representa suas próprias lições dos contos de fadas, que ouve sempre consoante ao seu momento de vida, e extrai das narrativas, ainda que inconscientemente, o que de melhor possa aproveitar para aí ser aplicado.

As histórias de fada atuam então, no emocional da criança e sua contribuição está em auxiliá-la a tomar decisões para a sua independência, acomodar os seus sentimentos de ambivalência, e lhe dar esperanças que seus esforços poderão lhe conduzir a um final feliz. Oferecendo significado em tantos níveis diferentes enriquece a existência da criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à multidão e diversidade de contribuições que esses contos dão à vida da criança. Para as crianças estes contos são muito mais significativos que outros quaisquer, pois são plenos de significados, com estruturas simples, histórias claras e personagens bem definidos em suas características pessoais (facilitando a identificação deles em bom ou mau, feio ou bonito etc.), e assim atingem a mente da criança, entretendo-a e estimulando sua imaginação, como nenhum outro tipo de literatura talvez seja capaz de fazer, além de facilitar a expressão de idéias.

Os contos de fadas são sempre atuais, muito embora estejam atrelados à realidade sócio-econômica da Europa medieval. Satisfazem porque mapeiam impulsos e temores conscientes e inconscientes e delineiam experiências reais. Lidam com problemas universais, atacam idéias preconcebidas e defendem causas perdidas. Analisando a questão desse contexto fica claro o porquê da preferência por estes tipos de estórias, pois para as crianças as respostas dadas pelos contos de fada são sugestivas, ou seja, permitem que cada criança direcione sua imaginação e criatividade. Deixam à fantasia da criança o modo de aplicar a ela mesma o que a estória revela sobre a vida e a natureza humana. A curiosidade, embora castigada, é incentivada. Mostram o despertar erótico, a iniciação sexual, a esperteza e a malícia. É feminista, abrindo espaço para a mulher comunicar suas idéias. Ao mesmo tempo em que defendem aspirações tradicionais, minam estes ensinamentos convencionais.

Desafiam idéias estabelecidas e levantam questões na mente do público. Apresentam uma justiça poética: o filho mais novo, mais tolo, mais desvalorizado pela família e pela comunidade é quem se casa com a princesa. Falam de medos, de amor, da dificuldade de ser criança, de carências, de auto descobertas, de perdas e buscas, da vida e da morte. Alia-se a isso o fato de que os significados mudam de acordo com a necessidade ou o desejo do leitor. São sempre atuais, também, porque se envolvem o maravilhoso partindo de uma situação real; lidam com emoções; passa-se em tempo e lugar indefinidos; as personagens são simples e vivenciam situações diferentes, resolvem conflitos nos quais buscam a cumplicidade da criança através do imaginário em que bruxas e fadas atuam como elementos mágicos.

De acordo com Warner (1999, p.311), “o conto de fadas, enquanto forma, lida com limites” e tais limites são “muitas vezes impostos pelo medo: um de seus temas fundamentais trata de um protagonista que parte para descobrir o desconhecido e vence seus temores”.

Para Bettelheim (1980), os contos de fadas são os mais indicados para ajudar as crianças a encontrar um significado na vida, pois, ao estimular a imaginação, desenvolver o intelecto, harmonizar-se com suas ansiedades e tornar claras suas emoções, são enriquecedores, satisfatórios e ajudam a aliviar as pressões conscientes e inconscientes.A fantasia facilita a compreensão das crianças, pois se aproxima mais da maneira como vêem o mundo, já que ainda são incapazes de compreender respostas realistas. Não esqueçamos que as crianças dão vida a tudo. Para elas, o sol é vivo, a lua é viva, assim como todos os outros elementos do mundo, da natureza e da vida. Falar sobre literatura infantil é sem dúvida, falar sobre a imaginação.

A partir dos cinco anos, a criança percebe que os contos de fadas não fazem parte da realidade externa, mas deixa-se seduzir por eles porque se harmonizam com sua realidade interna. Ela sabe que “a verdade dos contos de fadas é a verdade de nossa imaginação” (Bettelheim, 1980, p.148).

Pretende-se neste trabalho demonstrar a importância dos contos de fadas, tanto para o desenvolvimento do imaginário como para a aprendizagem. Pois através dos contos de fadas a criança aprende o valor do respeito da bondade, a sensação de tristeza, de alegria, etc. Resgata o percurso histórico da literatura infantil e dos contos de fadas, demonstrando como se desenvolveu ao longo dos anos. Este estudo e pesquisa estruturam-se em três partes:

A primeira refere-se ao percurso histórico da literatura infanto-juvenil, relatando a origem e a história dos contos de fadas. Na segunda parte relata a influência dos contos de fadas no desenvolvimento infantil. E na terceira parte fala da criança e o cognitivo relacionado ao seu desenvolvimento e aprendizagem.

E a quarta, por fim, irá tratar da pesquisa das representações sociais da importância dos contos de fadas para o crescimento e desenvolvimento infantil harmônico e holístico.

Como trabalho de Iniciação científica terá a intenção de revelar as representações dos contos de fadas dos docentes da educação infantil e sua importância para o desenvolvimento da criança; não somente como contribuição para o aprendizado da leitura e escrita, e além do entretenimento e prazer para a criança, mas a sua importância para o desenvolvimento psíquico, contribuindo para a resolução de problemas internos, constituição da subjetividade e de uma personalidade sadia.

O objetivo central da pesquisa a ser realizada é recolher as representações sociais do professor de Educação Infantil, sobre os contos de fadas. Para atingir esse objetivo central, selecionamos as seguintes questões a serem pesquisadas: a análise do percurso histórico da literatura infanto – juvenil com a origem da literatura infantil; a história dos contos de fadas e sua relação com o imaginário infantil; a valorização dos contos de fadas em prol do desenvolvimento do imaginário infantil; a criança, o cognitivo, a aprendizagem e o seu desenvolvimento associadas às contribuições da teoria das Representações Sociais para melhor compreensão do pensamento dos educadores que se dedicam a este segmento de ensino.

ABORDAGENS METODOLÓGICAS

Em um primeiro momento, nossa pesquisa se direcionará a uma extensa revisão bibliográfica, em banco de teses, dissertações, artigos e livros editados sobre os contos de fadas. Para Alves-Mazzotti dois aspectos são tradicionalmente associados à revisão da bibliografia pertinente a um problema de pesquisa: a análise de pesquisas anteriores sobre o mesmo tema e ou sobre temas correlatos e a discussão do referencial teórico. Estes são orientados pelo paradigma do pesquisador. O paradigma que será utilizado é o do Construtivismo social em abordagens fenomenológicas.

Em um momento seguinte, adotar-se-á a aplicação de um questionário perfil com o objetivo de conhecer melhor os educadores que serão pesquisados. (iniciais, idade, formação acadêmica, tempo de experiências na educação de crianças, formação continuada)

Depois será aplicada a teoria das representações sociais em sua abordagem processual e estrutural. As RS concernem aos conhecimentos do senso comum. A pesquisa em RS constitui um trabalho de contextualização, que sistematiza pertenças, vivências, valores, comunicações. Não são análises neutras e assépticas. Traduzem as relações indivíduos e sociedade, mundo material e simbólico, dissociações entre o subjetivo e o objetivo, o qualitativo e o quantitativo, o coletivo e o individual. Os grupos sociais são responsáveis pela criação e circulação das representações de determinados objetos e atitudes. Atende ao conhecimento prático e à maneira como os atores sociais apreendem as ocorrências do dia a dia. É produto e processo de uma realidade externa É constantemente transmitido pela tradição, educação e comunicação social.

Possuem a objetivação (nomeação das representações e a ancoragem (relações desta forma nos contextos sociais e ideológicos em que elas aparecem – leitura e reflexão dos teóricos da educação) como referencias de interação e interdependência entre a estrutura social, cultural e os aspectos mentais. A ancoragem relaciona-se dialeticamente à objetivação. O reconhecimento do núcleo central (base comum das representações representa os valores) e dos elementos periféricos (parte operacional das representações) é a abordagem estrutural proposta por Abric e grupo de Midi.

Considerando a relevância deste conhecimento recorro-me a Alves-Mazzotti (1994), e ao estudo das representações sociais que é um caminho para atingir este propósito, na medida em que pesquisa justamente como se formam e como funcionam os sistemas de referência que utilizamos para classificar pessoas, grupos sociais e acontecimentos da vida cotidiana. Por suas relações com a linguagem, a ideologia e o imaginário social constituem elementos essenciais à análise dos mecanismos que interferem na eficácia do processo educativo. O nosso relacionamento com os fatos do cotidiano constrói universos consensuais onde novas representações são elaboradas e comunicadas. Formam teorias do senso comum que constroem a identidade grupal e o sentimento de pertencimento do indivíduo ao grupo.

Conforme Madeira, (1991) o processo de construção de significado se dá com base em atributos culturais que se inter-relacionam e que são inerentes a uma determinada sociedade, circunscritas a um espaço e tempo históricos. A compreensão de subjetividades requer que se busque relacioná-la às condições sociais em que estas foram produzidas procurando ir além da mera descrição de fatos. A realidade cotidiana possui um caráter intrínseco que é interpretada pelos homens e subjetivamente dotada de sentido para eles. Ela se constrói no pensamento e na ação de homens comuns.

Madeira, (1991) e Jodelet (2001) citam que as representações sociais relacionam-se ao senso comum mostrando que os indivíduos vão construindo e atribuindo sentidos aos objetos de sua experiência desenvolvendo uma forma de pensamento social que se funda na cultura,ao mesmo tempo, que a atualiza.

As representações sociais estão tanto na vida das pessoas quanto no mundo. Alcançar a representação social é um exercício de interpretação que se dá ao objeto. È preciso um olhar antropológico, em perspectiva integradora (Jodelet, 2003). Na sociedade a partir do conhecimento mais amplo permite ir e vir de um olhar entre os grupos específicos e o conjunto da sociedade.

Para Alves Mazzotti (2005) a teoria das Representações Sociais é adequada para analisar e justificar as praticas docentes porque investiga como se forma e como funciona os sistemas de referência que utilizamos para classificar pessoas, grupos sociais e acontecimentos do dia -a- dia .

A segunda parte será formulada de acordo com as estratégias sugeridas por Abric (1994, 1989) Flament (1989, apud CAMPOS, 2003) e Vergés (2005) dentre outros em uma abordagem estrutural. Nesse quadro teórico dizer que uma representação social é conhecida corresponde a dizer que seu núcleo central e seu sistema periférico são conhecidos.. A pesquisa em Representações Sociais assume a perspectiva estrutural a partir da equipe de Aix-em-Provence e seus colaboradores segundo a qual as representações são vistas como um sistema sociocognitivo particular composto de dois subsistemas: o núcleo central e o sistema periférico. Este corresponde à base comum, consensual das representações que resulta da memória coletiva. Seus fundamentos são os valores associados ao objeto representado. O sistema periférico refere-se aos outros elementos gerando uma flexibilidade ancorada a uma realidade imediata.

É o sistema periférico que permite a elaboração de representações relacionadas à história e às experiências pessoais do sujeito. Para Abric (1994) é preciso reconhecer os componentes da RS que são: conteúdo, estrutura e seu núcleo central. Sugere três etapas: levantamento do conteúdo da representação; pesquisa da estrutura e do núcleo central (NC) a organização do conteúdo em um sistema de categorias, subsistema temático identificando as relações e a hierarquia entre os elementos componentes e a verificação da centralidade que são elementos inegociáveis. Conhecido o conteúdo da RS restam para completar a análise construir uma argumentação sobre como estes componentes se relacionam ao contexto, às atitudes, aos valores e às referências dos sujeitos.

Para atender a este objetivo será pedido que nomeiem quatro palavras que melhor caracterizam a importância dos contos de fadas para o desenvolvimento do imaginário infantil. Estas palavras serão colocadas em uma planilha do Excel e serão computadas a sua frequência e seu peso, relacionados à sua ordem de aparição (vermelho para a primeira evocação, azul para a segunda evocação, verde para a terceira evocação e amarelo para a quarta evocação). Será calculada a média ponderada destas aparições e a sua ordem média. Depois elas serão colocadas em um gráfico de dispersão onde serão determinados o seu núcleo central e seus elementos periféricos.

Para finalizar será realizada uma entrevista conversacional gravada com a concordância dos sujeitos, com o objetivo de melhor aprofundar e articular as redes de sentido que modelam diferentes objetos correlatos. Estas entrevistas transcritas integralmente serão analisadas em suas enunciações objetivando a identificação de valores e modelos presentes no processo discursivo tendo em vista pertenças e referências.

O número de sujeitos a serem entrevistados será de 10% dos professores pertencentes a uma escola pública e a uma escola particular na comunidade de Barbacena que se dedicam à Educação Infantil.

BIBLIOGRAFIA

ALVES-MAZZOTTI, A.J. Representações Sociais: aspectos teóricos e aplicações à educação. Em Aberto, Brasília, DF, ano 14, nº61, jan./mar.1994.

——————————. GEWANDSZNAJDER F. O método nas Ciências Naturais e Sociais. Pesquisa Quantitativa e Qualitativa. São Paulo. Ed. Pioneira-Thomson Leraning, 2001.

ABRIC, J:C:A Abordagem estrutural das Representações Sociais. In: MOREIRA, S, P, OLIVEIRA. D.(Orgs) Estudos Interdisciplinares de Representação Social

BERGER, P E LUCKMANN, T.A. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Petrópolis, Vozes, 2002,22ªEd.

___________________________Os fundamentos do conhecimento na vida cotidiana. Tratado de Sociologia do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 22ªedição, 2002.

BETTELHEIM (1980), BRANDÃO, Zaia (org.) A crise dos paradigmas e a educação. São Paulo: Cortez, 1994.

FARR, Robert. Representações sociais: a teoria e sua história. IN Textos em Representações Sociais. 7ªed. GUARESCHI, Pedrinho A. JOVCHELOVITCH, Sandra. Petrópolis: Vozes, 2002.

GATTI, Bernadete A. A construção da pesquisa em educação no Brasil. Brasília: Líber, 2002.

JODELET, D. Representationes sociales: contribuición a um saber sociocultural sin fronteras. In: Educação e Cultura Contemporânea. Vl, n2(ag /dez.2004) RJ. Universidade Estácio de Sá,Mestrado em Educação 2004.

____________Seminário sobre representações Sociais IN: Programa de Mestrado em Educação da Universidade Estácio de Sá, Mestrado em Educação, 2001.

JOVCHELOVITCH, S. (Org.) Textos em Representações Sociais. 2 ed.Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.;

MADEIRA, M.. Representações Sociais: pressupostos e implicações. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília: n.171, v.72, maio/agosto,1991.

_______________Representações Sociais e educação.: importância teórico-metodológica de uma relação. IN MOREIRA, A.S.P. (Org.) Representações Sociais: teoria e prática. João Pessoa EDUFPB, 2001.

________________JODELET, D.Representações Sociais da AIDS: a busca de sentidos..Natal,EDUFRN,1998.

MOSCOVICI, S. Representações Sociais: investigação em psicologia social. Petrópolis, Vozes, 2003.

SÁ, C.P. Construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998.Warner (1999, p.311).

Outros trabalhos relacionados

SUICIDIO – PIONEIRISMO DE ÉMILE DURKHEIM

O primeiro estudo sociológico sobre o suicídio foi elaborado pelo cientista social francês Émile Durkheim, em 1897. O interesse de Durkheim no suicídio como...

CORPORATIVISMO

Doutrina política prevê sociedade organizada em associações Na passagem do século 19 para o século 20, o termo corporativismo ganhou novo significado e serviu para...

ADOÇÃO POR HOMOSSEXUAIS 2/2

Para ver a primeira parte desse trabalho clique aqui conceito e natureza jurídica O termo adoção se origina do latim, de adoptio, significando em nossa língua,...

CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL

Código de Ética do Assistente Social Resolução CFESS n. 273, de 13 de março de 1993 Princípios Fundamentais • Reconhecimento da liberdade como valor ético central e...