“A ADULTERA”
Dados biográficos essenciais do autor:
Manoel de Oliveira Paiva nasceu em Fortaleza em 12 de julho de 1861. E faleceu em setembro de 1892.
Estudou no Seminário do Crato, no Cariri cearense, indo em seguida matricular-se na Escola Militar, no Rio de Janeiro, onde tinha o número 21. Voltando a Fortaleza, torna-se um defensor dos escravos e um entusiasta pela causa republicana. Como jornalista participa do grupo do jornal “O Libertador”, porta-voz da Sociedade Libertadora Cearense. Como escritor participa da fundação do Clube Literário, em 1886, marco inicial do Realismo cearense. Essa entidade edita a revista “A Quinzena” onde Oliveira Paiva publica vários contos. Ao falecer de tuberculose com pouco mais de 30 anos, em 29 de setembro de 1892, deixou A Afilhada, romance publicado em folhetins no jornal “O Libertador”, e o romance Dona Guidinha do Poço.
O livro de Manuel de Oliveira Paiva. Dona Guidinha do Poço (Três, 1973) apresenta como personagens principais: Margarida, a dona guidinha do poço e o Major Joaquim Damião. E como personagens coadjuvantes os escravos e retirantes.
Caracterização física e psicológica da (s) principal (ais):
Margarida, a dona Guidinha do Poço: tinha o preto do olho amarelo, com a menina esverdeada, semelhando um tapuru. Era feia, baixa, entroncada, carrancuda, ao menos enfadonha. (p. 23 e 29)
Joaquim: homenzarrão, alto grosso, natural de Pernambuco, uma boa alma. (p.23)
Resumo da Obra: Margarida, rica herdeira de abastado fazendeiro, casa-se com Damião, rapaz pobre, bem mais velho do que ela, e o casal instala-se na fazenda “Poço da Moita”, embora possuíssem casa na vila de Cajazeiras, onde passavam temporadas.
Estavam casados há vários anos, quando chega á fazenda o Secundino, jovem praciano e sobrinho do marido, que desperta na Guidinha uma paixão incontida, que a leva ao adultério. Damião descobre a infidelidade da esposa, propõe o desquite, mas esta cheia de orgulho e despeito, manda assassiná-lo e é presa enquanto o amante e cúmplice fogem.
COMENTÁRIOS:
O romance baseia-se em um caso verídico que aconteceu
Na cidade de Qixeramobin, onde Maria Francisca de Paula Lessa, a Guidinha do Poço, casada com o coronel Domingos Vitor de Abreu e Vasconcelos manda-o matar. Um romance solidamente construído, a partir de um fato real, ocorrido em Quixeramobim, em 1852, mostrando a figura feminina central, sua insatisfação difusa, seu lado viril, o adultério – visão regional de um paradigma da segunda metade do século XIX..
Narrado em terceira pessoa, o romance nos Mostra o que aconteceu no Poço da Moita, relatando uma história de paixão e morte que destaca o fenômeno climático da seca.
Mas também, apresenta uma rica linguagem regional, o falar da região traz o homem e também sua fala para dentro do enredo.
A seca e o regionalismo margeiam o tempo todo o trágico acontecimento que sucedeu no Poço da Moita. (LIMA, 2005).
Dona Guidinha do Poço, divide-se em cinco Livros.
Livro I (o amor despontando); o Livro II (o amor se consuma em posse); o Livro III (a paixão cega); o Livro IV(o drama), o Livro V (desenlace).
O tempo cronológico é marcado por flash backs, representado em dias, meses e até, por vezes, horas.
Além disso, o tempo psicológico soma-se um tempo cósmico, cíclico, marcado pelas estações. Assim o Livro I é o da seca, em março; no Livro II vêm as chuvas de abril e maio; o Livro III, o mais extenso, cobre as quatro estações – primavera, verão, outono, inverno e novamente as chuvas; o Livro IV retorna à primavera e o Livro V, ao verão.
As alterações da natureza, a vegetação, os animais, as aves, as luas, se sucedem.
Secundino traz as chuvas e a felicidade; o amor acompanha a primavera e eclode no verão. Ironicamente, contrariando-a: é primavera quando Quimquim descobre a traição da mulher.
Enfim, tempo social, ritual, marcado pelas festas, eventos e casamentos, aniversários, comemorações no plano familiar; missas e festas de santos, feiras e vaquejadas, profano e eleições.
O presente é o tempo da Queda, do pecado e o futuro, incerto.
O tempo da ruptura – a morte. (COCO, p. 135-136).
Guidinha do Poço tem um fim trágico como à personagem que a inspirou. Apontada como a mandante do assassinato, de seu marido, ela é confinada na prisão, e, abandonada por todos, Contempla solitária pela janela as raras nuvens que o vento quente e árido do sertão impede juntar-se, talvez uma tênue metáfora da não concretização de seus intentos. (p.254)
O autor usa uma linguagem colorida em que se intercalam construções vernáculas e palavra e expressões regionais dando a prosa um cunho culto e popular.
BIBLIOGRAFIA
COCO, Pina. Tempos/s, narrador/es, narrativa/s: Uma leitura de Dona Guidinha do Poço. Disponível em . Acessado em 09/02/08.
LIMA, batista de. Caminhos para o poço de dona Guidinha. Disponível em: . Acessado em 17/03/08.
PAIVA, Manuel de Oliveira. Dona Guidinha do poço. São Paulo: Três, 1973.