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domingo, dezembro 22, 2024

RESUMO: LIVRO A SANGUE FRIO

A Sangue Frio (In Cold Blood, no original) é um livro escrito por Truman Capote e publicado em 1966. Relata o brutal assassinato de uma família na cidade de Holcomb, localizada no no interior do estado do Kansas, nos Estados Unidos da América, da idéia inicial do crime até a execução dos assassinos.

Enredo
Em 15 de novembro de 1959, quatro membros de uma respeitada família da pequena cidade de Holcomb, oeste do Kansas, foram assassinados. Herb Clutter, o patriarca da família, tinha 48 anos e era um fazendeiro muito estimado na comunidade. Bonnie Clutter, sua esposa, era três anos mais nova e sofria de “problemas psicológicos”. O casal vivia com os dois filhos mais novos, Kenyon e Nancy, ainda adolescentes. Os quatro foram amarrados e amordaçados (Herb também teve a garganta cortada); depois, foram mortos a tiros de espingarda.

O crime abalou a até então pacata cidade de apenas 270 habitantes. A polícia passou a procurar incansavelmente os criminosos, que haviam levado da casa apenas um rádio da marca Zenith, um par de binóculos e 40 dólares.

O livro descreve minuciosamente a reação dos moradores da cidade, a investigação policial e os passos dos criminosos durante a fuga, bem como a história pregressa dos mesmos. Poucos meses depois do crime, Richard Hickock e Perry Smith são presos pela chacina. Condenados à morte, em 14 de abril de 1965 eles são enforcados.

O trabalho de Capote
Truman Capote chegou a Holcomb um mês após o crime. Ele entrevistou familiares das vítimas e dos assassinos, recolheu documentos oficiais, leu cartas e diários, observou, assistiu ao enforcamento dos criminosos. O autor tornou-se bastante próximo de Perry Smith, com quem teria tido um relacionamento amoroso. Com as informações coletadas, o autor escreveu um “romance não-ficcional”, considerado a primeira obra do New Journalism.

Em 25 de setembro de 1965, a revista The New Yorker publicou o último dos quatro capítulos escritos por Capote sobre o assassinato da família Clutter. Batendo recordes de vendas da revista, em janeiro de 1966 o romance saiu em formato de livro.

Em 2005, o filme Capote, com Philip Seymour Hoffman (Vencedor do Oscar de melhor ator pela interpretação de Truman Capote) conta o desenvolvimento do livro como foco principal do filme.

Comentários

Milton Ayres
artista plástico

Quando li pela primeira vez “A Sangue Frio”, de Truman Capote, uns 25 anos atrás, não sabia muito bem do que se tratava. Era adolescente e gostava de ler livros policiais. Mesmo assim, lembro-me que fiquei bastante chocado ao saber que o crime descrito por Capote tinha realmente acontecido nos Estados Unidos duas décadas antes. Só isso.

Hoje, depois de assistir ao filme “Capote”, que retrata muito bem a personalidade e o estilo jornalístico-literário do escritor, e de reler sua obra-prima, consigo enxergar o livro de outra maneira. Confesso que no começo da leitura achei-o muito prolixo. Suas descrições beiravam o exagero. Mas todas as características da personalidade de Capote juntas (vaidade, inteligência, egocentrismo) fizeram com que seu livro pretensamente inaugurasse uma nova categoria literária, o romance jornalístico, e se tornasse um best-seller nos EUA.

Não podemos negar seu virtuosismo literário nem a maneira como ele descreve cada situação, cada personagem e cada cenário. O autor passa mais da metade do livro descrevendo os assassinos, as vítimas, as pessoas mais próximas a eles e as situações presentes e passadas relacionadas ao caso, antes de finalmente revelar como foi a tal execução a sangue frio. E após descrever o crime brutal, ele ainda passa mais um quarto do livro falando sobre a prisão e o processo criminal até finalmente chegar ao cumprimento da pena capital.

Há também um quê de análise psicológica e sociológica na obra. A descrição da personalidade dos criminosos, a análise do ambiente social em que foram criados e a influência negativa que receberam na prisão em contraponto com a vida pacata, regrada e honesta das vítimas cria a tensão psicológica necessária e a disputa entre o bem e o mal, imprescindíveis a um bom romance. Por fim, não menos importante que a documentação da história, é a questão da pena de morte, que, em função do tal relato detalhado, nos parece ser a única pena cabível.

Pesquisando posteriormente a vida do escritor, descobri nela similaridades com a vida do criminoso Perry Smith – família ausente, alcoolismo etc. Soube também do envolvimento que tiveram. Isso me fez tirar outras conclusões. É como se Truman Capote se identificasse com o bandido e tentasse expurgar todo seu lado ruim (o homossexualismo não aceito, a vaidade excessiva e o egocentrismo) através da danação do personagem criminoso. É como se ele próprio trilhasse os mesmos passos de Perry até o cadafalso para obter a redenção de seus pecados. Dizem que ele estava presente nas execuções e que chorou. E sabe-se também que depois deste livro ele não produziu mais nada de valor, entregou-se ao álcool e morreu. O que me leva a crer que, depois de vivenciar tudo isso tão intensamente, talvez tenha lhe faltado sangue frio suficiente para continuar vivendo.

Niara de Oliveira
Jornalista

Em torno de 80% dos livros que li na vida foram não ficção. O problema é entre todos escolher o melhor, o favorito. Mas posso apontar um que marcou especialmente.

Como já disse, sou muito óbvia e isso está ficando cada dia mais evidente no meu gosto literário. São poucos os jornalistas que tem gosto pela leitura e escrita que não tem A Sangue Frio de Truman Capote em suas estantes e memórias.

Me refiro não só ao novo estilo literário inaugurado, mas ao estímulo que essa obra de Capote é a todos os jornalistas que sonham (mesmo que secretamente) em se tornarem escritores. Ele provou que é possível escrever um romance não ficcional, baseado em fatos reais — precisamente e minuciosamente baseado em fatos reais.

Em 1959 o casal Herb e Bonnie Clutter vivia com os dois filhos mais novos, Kenyon e Nancy, ainda adolescentes, na pequena cidade de Helcomb no interior do estado do Kansas, EUA. Os quatro foram amarrados e amordaçados (Herb também teve a garganta cortada) e mortos a tiros de espingarda.

A brutalidade do crime impressiou tanto Capote que ele imediatamente começou a tentar convencer a revista The New Yorker a lhe enviar ao local para cobrir o impacto do crime sobre a pequena cidade e sua população. Para investigar e colher as informações e depoimentos que precisaria, levou junto sua amiga de infância Harper Lee. Eles chegaram a cidade um mês após o crime.

Quando os assassinos são capturados, julgados e condenados à morte, Capote passou a visitá-los na prisão e o que começou como um artigo de revista transforma-se no projeto de um livro que consumiu cinco anos e meio da vida de Capote. Ele chegou a pagar um advogado de defesa para recorrer das acusações e manter os réus vivos apenas para continuar escrevendo sua história.

Richard Hickock e Perry Smith (os criminosos) foram enforcados em 14 de abril de 1965 e em setembro o quarto capítulo In Cold Blood (título original) foi publicado e fez a The New Yorker bater recorde de vendas. Só em janeiro de 1966 o romance foi publicado em formato de livro.

O resultado não é apenas a obra-prima de Capote mas um dos melhores livros que já li, que, além de criar um gênero de literatura inteiramente novo fez dele o mais famoso escritor dos Estados Unidos.

Só li A Sangue Frio depois de formada, bem no finalzinho do século passado. Me achava incapaz de escrever uma crônica e colocar meus sentimentos num texto ou de contar qualquer outra história de uma forma que emocionasse as pessoas. Me resumia a relatos, reportagens de fatos onde tentava me manter o mais invisível possível atrás das palavras. Foi Truman Capote quem começou a mudar isso em mim.

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