Ruptura para construção de nova ordem política e social.
O termo “revolução” apareceu durante o período do Renascimento (entre os séculos 14 e 16). A palavra teve origem nas ciências naturais e foi empregada como uma referência ao movimento lento, regular e cíclico dos astros e estrelas.
Foi somente no século 17 que o vocábulo assumiu um significado político, servindo para caracterizar acontecimentos que provocam mudanças na ordem social de um determinado país ou nação. Em sua origem, o uso político do termo revolução tinha o mesmo significado original, ou seja, serviu para indicar o “retorno a um estado antecedente de coisas, a uma ordem pré-estabelecida que havia sofrido abalos”.
Revolução, portanto, caracterizava um período marcado por perturbações na ordem social. Após um determinado período de tempo, porém, essa mesma ordem social tenderia inevitavelmente a se restabelecer. A Revolução Inglesa de 1688, por exemplo, recebeu essa denominação porque representou o fim de um período marcado pela eclosão de uma guerra civil e posterior restauração da monarquia.
A Revolução Americana de 1776 e a Revolução Francesa de 1789 também foram concebidas como movimentos tipicamente revolucionários, mas, nestes dois casos, o termo já tinha perdido o significado original. Revolução deixou de ser referência a um movimento de restauração e passou a representar a possibilidade de construção de uma nova ordem social.
Independência americana
Dentro do pensamento político moderno, o termo revolução ganhou novos significados a partir da ênfase ou valorização dada a determinado fator (político, social ou econômico). Vejamos o exemplo da Revolução Americana de 1776, cuja conseqüência mais importante foi uma mudança política que assinalou a independência dos Estados Unidos.
A par da ruptura com as instituições políticas do governo colonial britânico, as relações e a estrutura sócio-econômica da nação americana não sofreram abalos nem modificação alguma. Por conta disso, alguns autores preferem chamar o caso americano mais propriamente como “guerra de independência” ou “guerra de libertação nacional”.
Revolução Francesa
A Revolução Francesa de 1789, por outro lado, é considerado o movimento revolucionário mais significativo da história moderna. Ao contrário do caso americano, na França revolucionária a ruptura política com as instituições do antigo regime (que representavam o poder da monarquia absolutista) foi um acontecimento tão intenso que contribuiu para modificar o significado do termo revolução.
A filósofa Hannah Arendt, por exemplo, assinala que: “só se pode falar de Revolução, quando a mudança se verifica com vistas a um novo início, quando se faz uso da violência para constituir uma forma de governo absolutamente nova e para tornar real a formação de um novo ordenamento político, e quando a libertação da opressão visa pelo menos à instauração da liberdade”.
O filósofo alemão Karl Marx também considera a conquista da “liberdade” um elemento constitutivo e essencial da revolução, mas, além disso, acrescenta ao conceito alguns elementos relacionados com a justiça social. Para Marx, portanto, só se pode falar de revolução quando ocorre uma ruptura com a velha ordem política, social e econômica; e em seu lugar são estabelecidos novos padrões de relações sociais que têm por princípio assegurar a liberdade e a igualdade social entre os homens.
Uso da violência
O termo revolução recebeu significados bastante variados porque os critérios para caracterizar um movimento como propriamente revolucionário, ou não, depende da perspectiva teórica ou filosófica dos autores que são estudados. Conseqüentemente, a área de pesquisa sociológica tornou-se suscetível a apresentar variações de interpretações para distinguir os movimentos revolucionários de outros fenômenos, como, por exemplo, um “golpe de Estado”.
A socióloga contemporânea Theda Sckopol, por exemplo, contribuiu decisivamente para a conceituação de um movimento revolucionário. Sckopol considera a ocorrência de uma revolução somente quando há o emprego da violência para derrubar as autoridades políticas do poder, substituindo-as por outras, que se encarregarão, numa etapa imediatamente posterior, de efetuar mudanças no sistema político como um todo, nas relações sociais e na estrutura econômica.
A existência de uma forte motivação ideológica está presente neste conceito de revolução. Com base nesses pressupostos teóricos, Sckopol considera a Revolução Francesa (1789), a Revolução Russa (1917) e a Revolução Chinesa (1949) como os casos mais emblemáticos de movimentos revolucionários bem-sucedidos, ou seja, que atingiram todas as etapas de ruptura e construção de uma nova ordem social.
Fonte: Uol
Autor: Renato Cancian