O rio Tietê é o mais tradicional curso d’água do estado de São Paulo, não só por cortar sua capital, como também por atravessar, praticamente, todo o território paulista, desde os contrafortes da Serra do Mar até o rio Paraná, extremo oeste do estado.
Nasce no município paulista de Salesópolis, nos contrafortes da Serra do Mar, aproximadamente na cota 1.120m acima do nível do mar. Embora nascendo a menos de 22Km de distância, em linha reta do oceano suas águas percorrem mais de 3,7mil Km antes de serem lançadas ao estuário do Prata, através do rio Paraná.
Devido às obras de reversão, as águas de cabeceira são desviadas diretamente para o mar, gerando grande quantidade de energia nas usinas de Cubatão. Desemboca o rio Tietê no Alto Paraná, pouco à jusante do salto de Urubupungá, afogado pela barragem de Jupiá, que represa também as águas do Tietê nos seus últimos quilômetros de percurso, na cota aproximada de 220 m.
O comprimento total do rio é de 1,15m mil Km e seu desnível entre a desembocadura e as cabeceiras de pouco mais de 860m o que dá uma declividade média global de 74cm/Km. O grande desnível de seu curso tem sido aproveitado para construção de várias barragens destinadas à produção de energia hidrelétrica. A declividade do leito do rio Tietê é bastante variável, dependendo da natureza e características dos terrenos atravessados. No primeiro trecho, na Serra do Mar, ela é muito acentuada, reduzindo-se sensivelmente, à medida que o rio se aproxima do planalto paulistano; considerando-se unicamente o trecho à jusante da capital de São Paulo, até a desembocadura, a declividade média total baixa a menos de 50cm/Km; no trecho encachoeirado entre o fim da canalização do rio, no município de São Paulo até Salto de Itu, num percurso de cerca de 80Km, a declividade aumenta novamente atingindo cerca de 200cm/Km. Daí em diante, a declividade média cai a 30cm/Km.
Considera-se o rio Tietê dividido em quatro trechos:
Alto Tietê
Das nascentes até a cidade de Pirapora do Bom Jesus, com aproximadamente 250Km de extensão e 350m de desnível.
O Alto Tietê percorre em região de grande aglomeração populacional, tendo suas condições naturais intensamente modificadas pela ação humana; no trecho superior, corre ainda em corrente livre, correspondendo a região de cabeceira, tem larguras e profundidades reduzidas e elevada sinuosidade. No município de Mogi, já apresenta largura considerável e profundidades que ultrapassam, no período de estiagem, mais de 1,5m em média. No estirão metropolitano de São Paulo, o rio encontra-se com leito artificial, numa extensão de 26Km, em um canal com largura de 45m, largura esta aumentada para 56m após a confluência com o rio Tamanduateí; a profundidade normal do canal é de 5,7m.
À jusante do município da capital, numa pequena extensão corre o rio Tietê em corrente livre, com leito irregular, Em seguida, o curso d’água encontra-se represado por duas barragens, provida à de montante, de estação de bombeamento que inverte o sentido de escoamento das águas para o canal do rio Pinheiros, por onde é desviada quase toda da vazão natural.
Médio Tietê superior
Da cidade de Bom Jesus de Pirapora à cidade de Laras, onde atinge o remanso da barragem de Barra Bonita, tem 260Km de extensão e 218m de desnível. Abrange também dois subtrechos bem diferenciados: o de montante que vai da barragem de Pirapora até o Salto de Itu, em que o pouco as águas restantes após o bombeamento para a reversão de Cubatão desce abruptamente cerca de 150m em 80Km de percurso; corre o rio encachoeirado, entre gargantas e margens profundas, que em alguns pontos forma verdadeiros canions.
No trecho encachoeirado, entre Pirapora e Itu, como as vazões são reduzidas em estiagem a pouco mais de 1m3/s, as profundidades são extremamente baixas: o leito é rochoso, existindo numerosos saltos de pequena altura de queda livre. A declividade média nestes 80Km ultrapassa 2m/Km. Há, no trecho, pequenas barragens para produção de energia, consumida por particulares no local.
No subtrecho seguinte, o rio corre suavemente entre colinas elevadas e numerosas curvas, sem obstáculos de maiores proporções além de diversas corredeiras. A profundidade média no trecho entre Salto de Itu e Laras é da ordem de 2m, em estiagem normal, caindo em alguns estirões, a menos de 1,0m. As larguras neste mesmo estirão estão compreendidas entre 70 e 150m. O leito é bem sinuoso, com 4 ou 5 grandes meandros de fortes curvaturas.
A declividade média do Médio Tietê Superior é de 87cm/Km, sendo reduzida a 20cm/Km, entre o Salto do Itu e Laras. A bacia que este trecho drena é de 9.920Km2, estando localizada na mesma, algumas cidades importantes como Jundiaí e Sorocaba.
Médio Tietê Inferior
Da cidade da Laras até a corredeira de Laje. Encontra-se praticamente todo canalizado, por uma série de barragens de aproveitamento múltiplo. Quando o rio corria livremente, era atravessado por numerosas corredeiras originadas pelo cruzamento de diversos travessões basálticos, não havendo, porém, nenhuma grande queda no trecho.
A largura do Médio Tietê, oscilava então em torno de 150m e suas profundidades médias em estiagens era da ordem de 2m, exceto nos travessões rochosos, onde baixavam, por vezes em longos estirões, a menos de 0,5m; a declividade média do rio, entre a cidade de Laras e a corredeira de laje era de cerca de 23,5cm/Km, valor bastante baixo, sobretudo considerando-se a existência dos rápidos referidos.
A área drenada pelo Médio Tietê e de 42.277Km2, havendo na sua bacia numerosas cidades importantes, entre as quais: Americana, Araraquara, Bauru, Botucatu, Campinas, Jaú, Limeira, Lins Piracicaba, Rio Claro e São Carlos.
O principal afluente do Médio Tietê é o rio Piracicaba, com 185Km de extensão desde a confluência de seus formadores o rio Jaguari e Atibaia. No baixo rio Piracicaba as larguras variam de 30 a 50m e a profundidade média entre 1,5 e 2,0m. Em seu estirão de jusante tem suas águas represadas pela barragem de Barra Bonita, atingindo o remanso, com o reservatório cheio, a ponte da SP-191 em Santa Maria da Serra, a cerca de 60Km da foz.
Baixo Tietê
Da corredeira de Laje até a foz no rio Paraná, com 240km de extensão e 98m desnível.
Apresenta fraca sinuosidade, larguras consideráveis, que vão de 150m a mais de 300m. É cortado por duas grandes cachoeiras: salto de Avanhandava, com 19m de queda, no Km 210 e o salto de Itapura, próximo a desembocadura e afogado pela barragem de Jupiá, no rio Paraná. A declividade média do trecho é de 42cm/Km, sendo que à jusante do salto Avanhandava baixa a menos de 23cm/Km.
O Baixo Tietê drena uma área de 13.646Km, em sua bacia contribuinte há apenas uma cidade de maior importância: Andradina.
O rio Tietê é atualmente navegável no trecho do remanso da barragem de Jupiá (40Km) e no trecho entre a barragem de Nova Avanhandava e do remanso da barragem de Barra Bonita, formando um estirão contínuo de 443Km de extensão já em utilização.
A hidrovia Tietê-Paraná oferece condições técnicas de navegação comparáveis às hidrovias internacionais. Os gabaritos adotados nas obras e canais de navegação são similares ou, até mesmo em alguns casos, mais favoráveis do que os de hidrovias estrangeiras que já apresentam tráfego intenso. É o caso, por exemplo, do Alto Sena, na França, que movimenta 16 milhões t/ano ou o rio Escaut na Bélgica, cujo transporte atinge 8 milhões t/ano. O canal do norte, na França, interligando a bacia do Sena com as regiões de Lille e Dunquerque, concluído no final da década de 60, tem eclusas com apenas 6,0m de largura e 90,0m de comprimento, apenas 30% da área das eclusas do rio Tietê.
As obras de canalização do rios Tietê e Paraná foram, na maior parte, realizadas sem previsão de utilização imediata da hidrovia.
Estudos comprovaram que os comboios de empurra, sistema criado pelos norte-americanos, oferecem vantagens econômicas. Daí a necessidade de adaptar as eclusas do rio Tietê, projetadas na década de 50 de acordo com a navegação européia, onde se utilizam embarcações isoladas.
Os comboios-empurra exigem alguns requisitos particulares como construção de muros guias retilíneos alinhados com os muros de ala das eclusas, certa altura livre sobre o nível de água e raios de curvatura do canal de navegação compatíveis com seu comprimento.
Para o rio Tietê, onde a navegação está sendo implantada, o ideal será preparar a via para o sistema de comboios como já vem sendo feito no Alto Paraná. Por essa razão foi adotada como embarcação-tipo, um comboio de empurra com dimensões máximas compatíveis com as das câmaras das eclusas concluídas.
POLUIÇÃO DO TIETÊ
Interesses políticos, falta de articulação entre governos e de visão administrativa estão prejudicando o andamento do projeto de despoluição do Rio Tietê. Nos últimos 16 anos, o governo estadual, por meio da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), realizou obras de rebaixamento e alargamento da calha do rio, o que permitiu maior vazão e, conseqüentemente, maior dispersão dos elementos tóxicos despejados no rio. Além disso, reduziu a poluição industrial – das 1.160 indústrias poluidoras identificadas em 1992, apenas 200 continuam poluindo o rio. E estações de tratamento inauguradas nos últimos dez anos ampliaram de 4 m3 para 11 m3 por segundo o volume de esgoto tratado na região metropolitana.
Foram R$ 3 bilhões investidos com uma previsão de, no fim de 2007, fazer a mancha de poluição do rio recuar 160 quilômetros. Meta difícil de ser alcançada porque mais de metade dos municípios da região metropolitana ainda despeja esgoto in natura no rio e mais de 250 prefeituras da área da Bacia do Tietê pouco ou nada investiram na proteção do rio, como, por exemplo, na contenção da erosão. Na visão estreita de muitos prefeitos, a participação no Projeto Tietê apenas fortalece uma bandeira política do PSDB. Como resultado, a mancha de poluição recuou 120 quilômetros – até a altura de Porto Feliz -, 40 quilômetros a menos do que o esperado.
Na região mais rica e desenvolvida do País, somente a cidade de Biritiba Mirim trata 100% do esgoto coletado. Dos 34 municípios que compõem a região metropolitana, 19 não tratam o esgoto, que é lançado nos córregos e rios que deságuam no Tietê. Diariamente, 690 toneladas de esgoto são lançadas no rio mais importante do Estado.
Em 1992, esse abuso produzia uma mancha de poluição que começava em Itaquaquecetuba, próximo da nascente do rio, e se estendia até Anhembi, nas vizinhanças da Represa de Barra Bonita. Hoje, como mostrou reportagem publicada domingo no Estado, a pouco mais de 100 quilômetros da capital, o índice de oxigênio nas águas do Tietê dobrou e a pesca voltou a fazer parte das atividades de municípios como Porto Feliz, Cabreúva e Anhembi.
É uma vitória, mas os resultados poderiam ser muito melhores se todos os prefeitos dos municípios da bacia do rio tivessem colaborado.
Em São Caetano, por exemplo, cidade que tem um dos melhores índices de qualidade de vida do País, 100% do esgoto é coletado e despejado in natura no rio, mas o tratamento só começará a ser feito no segundo semestre – um atraso injustificável para um município rico e que tem em sua vizinhança uma estação de tratamento de esgoto da Sabesp com capacidade suficiente para atender à demanda.
Em alguns casos, a pressão da opinião pública tem levado governos locais a tentar recuperar o tempo perdido. Guarulhos, por exemplo, sustentou durante anos uma disputa sem propósito com o governo do Estado e com a Prefeitura de São Paulo, porque se recusava a tratar seus dejetos, despejados in natura no rio. A atitude da administração da terceira cidade mais populosa do Estado anulava trabalhos de saneamento, inclusive a despoluição de 42 córregos, feita em conjunto pela Sabesp e pela Prefeitura da capital. Agora, a prefeitura de Guarulhos promete construir estações de tratamento de esgoto e utilizar a unidade que a Sabesp instalou em São Miguel Paulista.
Assim como as prefeituras têm de fazer o que lhes cabe na coleta e tratamento do esgoto, os consumidores também precisam arcar com os custos da conexão das redes domésticas à rede pública, evitando o despejo irregular em galerias pluviais ou córregos. O valor da conta de água e esgoto aumenta, de fato. Mas o custo de não fazer as ligações, em termos de saúde pública e qualidade de vida, é muito maior.
No segundo semestre, o governo estadual iniciará a terceira etapa do Projeto Tietê, que consistirá na universalização.