Na verdade é impossível nós medirmos, ou mesmo imaginarmos, o quanto é diferente a percepção dos sentidos entre os humanos e os cães. Não só os nossos peludos possuem uma quantidade diferente de células receptoras para cada um dos sentidos (visão, olfato, tato, paladar, e audição), como a própria percepção dos cães é diferente. No entanto existem algumas estatísticas e evidências coletadas através de experiências, que podem servir como referência para nos ajudar a compreender um pouco melhor como deve ser estes universo espetacular dos sentidos dos cães.
A Visão:
Através de testes é possível identificar que os cães possuem uma visão periférica cerca de 10 vezes mais sensível do que os humanos, enquanto que a sua visão para coisas muito próximas não é nada boa. Uma razão para isto é o próprio posicionamento dos olhos do cão, normalmente mais laterais e afastados que os nossos, aumentando assim a visão periférica, mas diminuindo a sobreposição das imagens captadas por cada olho, que nos dá a sensação de profundidade. Para efeito de comparação “curiosa”, a maioria das raças de cães tem um ângulo de visão de 250 graus, enquanto que nós, míseros humanos, possuímos um ângulo de visão de cerca de 190 graus. Na verdade, o ângulo de visão de cada raça varia bastante em função do formato da cabeça e o posicionamento dos olhos no crânio. Cães com focinhos mais finos tendem a possuir os olhos posicionados mais à frente, e portanto possuem uma visão binocular mais apurada do que seus companheiros que possuem focinho mais largo, com os olhos posicionados mais lateralmente, com uma visão periférica melhor.
Os olhos dos cães são mais sensíveis à luz, e portanto eles conseguem “enxergar” muito melhor do que nós em ambientes com muito pouca luminosidade (mas eles não enxergam em ambientes totalmente escuros como muitos acreditam), isso se deve não só a maior quantidade de celulas receptoras de luz (as células bastões) e de uma camada refletora de luz, que fica atrás da retina, chamada “tapetum lucidum”, como também pela sua grande capacidade de dilatar as pupilas para uma maior entrada de luz.
Ao contrário do que muitos acreditam, os cães podem perceber certas cores e não só enxergam em preto, branco, e cinza. Bom, pelo menos teoricamente, já que os olhos dos nossos amigões também possuem células cones (mas em muito menos quantidade que as bastões) que são responsáveis pela percepção das cores no nosso ambiente.
O Olfato:
Sem dúvida nenhuma este é o principal sentido para um cachorro.
O ser humano tem cerca de 5.milhões células receptoras de odores, enquanto que muitas raças possuem mais de 220 milhões destas células. Isso poderia nos levar a crer que os cães podem “cheirar”, mais ou menos, 44 vezes melhor do que nós, mas isso não é tudo. Cada célula olfativa possui uma espécie de pelinho, chamada cília, que é na verdade uma protuberância na membrana da célula, responsável por captar as moléculas que causam o odor e transmitir esta informação para a célula, que por sua vez manda a mensagem para o nervo olfativo, e este para o cérebro (ufa). Bom, cada uma das nossas míseras 5 milhões de células olfativas tem cerca de 6 a 8 cílias. Cada uma das 220 milhões de células olfativas do peludo possui nada mais, nada menos que qualquer coisa entre 100 e 150 cílias.
Sé nós pudéssemos retirar toda a membrana nasal que existe dentro do focinho do nosso cachorro, e a esticássemos, veríamos que ela é bem maior de toda a pele que cobre o corpo do peludo. Um cão tem em média 7 metros quadrados de membrana nasal, enquanto que nós, míseros meio metro quadrado.
Testes de laboratório já provaram que algumas raças de cães são capazes de identificar uma determinada substância diluída na proporção de 1 para 1 milhão.
Além disso os cães podem mover suas narinas, facilitando a capacidade de perceber os cheiros e de onde eles vem. Eles também possuem uma estrutura óssea no focinho que nós humanos não temos (no nariz, é claro), que formam uma câmara que “aprisiona” as moléculas do odor, fazendo com que o cão possa “sentir” o cheiro por mais tempo, o que facilita, sem duvida nenhuma na hora em que ele deve seguir algum rastro. Isso sem contar que o bulbo olfativo (parte do cérebro dedicado à interpretação dos odores) dos cães e muito maior do que o nosso.
Para melhorar ainda mais, os cães possuem um órgão chamado de Jacobson (cientificamente falando é uma área vomero-nasal) que possibilita que os nossos companheiros possam sentir o gosto, isso mesmo, o gosto, dos cheiros. Esta é uma idéia incrível para nós humanos.
Existe o registro de um Bloodhound (famosos farejadores de odores humanos), que seguiu o cheiro de uma pessoa por 182 quilometros! Será que o camarada tinha tomado banho? :
A Audição:
Provavelmente você já ouviu dizer que um cachorro escuta 4 vezes mais do que os humanos. Mais uma vez isso não é bem verdade, e os nossos amigos peludos demonstram que também na audição nos superam e muito. A afirmação de que um cão ouve 4 vezes “melhor” do que nós, vem do fato de que os peludos identificam sons tão claramente quanto nós, mesmo eles estando quatro vezes mais longe da fonte do barulhinho. No entanto os bichões conseguem perceber e ouvir sons que são absolutamente inaudíveis para nós, principalmente nas freqüências mais altas.
O ouvido humano pode captar sons que estão numa faixa de vibração entre 20 e 20.000 ciclos por segundo, enquanto que os cães alcançam sons entre 18 e 40.000 ciclos por segundo. Ah, mas é claro que isso não é tudo. Tal como as narinas caninas que se movimentam, captando melhor os cheiros, as orelhas dos peludos também se movimentam, facilitando a percepção da origem dos sons e a captação dos mesmos. Um estudo realizado no Instituto de Fisiologia Pavlov, na Rússia, provou que um cão pode localizar a origem de um som em impressionantes 6 centésimos de segundo. É mole?! E você já reparou que as orelhas do nosso amigão parecem ser totalmente independentes? Enquanto uma procura um som á frente, a outra pode estar virada para trás, ou mais para a direita, ou mais para esquerda. E se você acha que as orelhas do seu cachorro servem só para ouvir, repense as suas convicções. Tal como em nós humanos, o aparelho auditivo também serve para dar equilíbrio ao cachorro, mas diferente de nós, as orelhas caninas também possuem um papel fundamental na comunicação entre os cães. Orelhas eretas e voltadas para frente indicam um cachorro confiante e até dominante. Um cachorro com orelhas “achatadas” na cabeça indicam um bichinho cordato e submisso. Elas ainda podem dizer se o cachorro está pensando em atacar, ou fugir de medo.
Com um aparelho auditivo tão bem dotado, eu não posso deixar de pensar em quantos sons desagradáveis os nossos cachorros estão expostos no dia a dia, sem que a gente perceba. Barulhinhos de motores, estáticas, ruídos parecidos com o de uma unha arranhando uma folha de papel, ou um quadro negro… Uí! Dói só de pensar!!!!
Só como curiosidade: Os gatos ouvem sons até 45.000 cps; os morcegos até 98.000 cps, e os golfinhos até 130.000 cps!
É bom lembrar sempre que embora todas as raças possuam o mesmo potencial genético para ativar seus sentidos, a seleção feita pelos homens ao longo de vários séculos, faz com que determinadas raças tenham determinado sentido mais apurado do que outras, por exemplo, os Terriers tem uma audição muito favorecida, enquanto que os Hounds possuem uma maior capacidade para identificar cheiros, ou possuem uma visão mais aguçada.
O Tato:
O sentido do tato é provavelmente o primeiro dos sentidos a funcionar em um filhote. Um pequeno canino, de apenas 2 dias de vida já pode sentir a proximidade do corpo da mãe e chora e rasteja para junto dela se por ventura ele rolar para longe. O sentido do tato também é responsável por uma das sensações mais importantes para estreitar os laços entre o seu peludo e você. Um belo carinho faz bem não só ao cão como a gente também. Não há quem não relaxe e se sinta melhor ao fazer carinho em um peludo. Especialmente se o cão em questão estiver com a pele saudável e possuir um pêlo macio e gostoso. Um cão privado do toque e dos carinhos (principalmente cachorros que passam muito tempo trancados em seus canis e que não têm contato com pessoas ou outros cães), desenvolvem um comportamento medroso, arredio, e as vezes até agressivo.
O contato físico é tão importante para a maioria dos cães, que para eles o carinho ainda é a melhor forma de recompensa para uma boa ação.
Igual a nós humanos, um carinho ajuda a reduzir a pressão sanguínea, o estresse e a freqüência cardíaca, além de ajudar a baixar a temperatura da pele. Também para os cães, carinho pode ser um santo remédio!
O Paladar:
Parece que pelo menos nesta área nós vamos sobressair sobre as habilidades dos nossos queridos e amados peludos! Quando o assunto é escolher entre um vinho tinto francês de primeira linha, ou um “vinagresinho” de fundo de quintal, o ainda entre um medalhão de lagosta ao molho de laranjas, ou um pedaço de pão velho, nós somos muito mais exigentes e bem dotados.
Enquanto que nós possuímos cerca de 9.000 papilas gustativas (aquelas bolinhas na nossa língua), os cães possuem apenas cerca de 1.700.
No caso dos cães, as papilas gustativas estão mais concentradas no fundo da língua do que na ponta (será que isso explica porque eles engolem tão rápido um biscoitinho?), e nossos peludos são capazes de reconhecer os 5 sabores básicos, como o doce, o salgado, o amargo, o ácido, e o neutro como a água. Tal como nós, eles também possuem preferências, como por exemplo, por sabores salgados e doces. Definitivamente a maioria não gosta dos sabores amargos e também não gosta de extremos como pimenta e coisas mentoladas, a não ser, é claro, quando você usa algum produto com estes gostos para tentar dissuadi-los a roer o seu móvel mais bonito.
Também é sabido que os cães preferem comida morna à gelada, e com textura mais macia e úmida do que dura ou seca.
Ainda falando da boca do cachorro, você sabia que o cachorro também tem dente-de-leite, que cai antes da chegada dos dentes definitivos. Um filhote normalmente começa a trocar os dentinhos aos 3 meses e meio de idade e já costuma ter todos os seus dentes definitivos até o sétimo mês de vida!