Sobre ricos e pobres
Falar sobre desigualdade social no Brasil é banal. É algo tão evidente e enraizado que o assunto parece repetido e sem sentido. O Brasil é, infelizmente, um país onde os ricos são protecionistas. Agem como um sindicato, evitando qualquer medida que faça com que eles percam dinheiro ou tenham que dividi-lo.
“No Brasil, os ricos ajudam os ricos e ficam cada vez mais ricos; e os pobres ajudam os pobres e ficam cada vez mais pobres”. Fausto Wolff, jornalista e escritor.
Há muitos exemplos práticos desses no dia-a-dia. Na empresa em que trabalho há um estacionamento no prédio. É pago, mas só para quem não é gerente ou possui cargos mais altos. Irônico? Alguém que ganha menos paga, e, quem ganha mais, não paga. Parece um exemplo bobo, mas é parte de um todo um sistema que é construído para a desigualdade.
Eu estava em um restaurante e, por acaso, acabei escutando a conversa de um grupo ao meu lado. O mais velho deles, aparentando uns 30 e falando sobre as cotas para pobres nas universidades públicas, disse que “reservar cotas para pessoas carentes empobrece a qualidades do ensino, já que esses pobres não têm bagagem suficiente para estudar num curso superior”. Universidades públicas, que, teoricamente, são feitas para o pobre, são usadas pelos ricos. E quem paga a conta? Desnecessário falar. E os pobres se endividando em financiamentos para estudar em universidades particulares.
Desde FHC o governo se fala em desigualdade e planos para acabar com ela, e esse discurso agora é repetido no governo Lula. Mas como dividir algo que está na mão de poucos, e muitos desses “poucos” são políticos ou pessoas com total influencia sobre esses? Frases de efeito como “no Brasil existe uma máquina azeitada de desigualdade” são bonitas, mas que efeito elas tem para combater esse sistema perverso?
O fato é que no Brasil nunca existirá igualdade se essa medida não partir de quem possui as riquezas: os ricos. E esses, não parecem nada querer dividir o pedaço do bolo que eles carregam, mesmo que esse bolo seja tão grande a ponto de estragar por falta de barriga para comê-lo.
Enquanto o governo vai discursando sobre como fazer isso, e os ricos vão agindo para evitar que isso aconteça, a coisa continua como cantava o infelizmente falecido Chico Science: “a situação, sempre mais ou menos, sempre uns com mais, outros com menos”.