Não adianta fazer exercício de futurologia. Qual será o tema? Certamente algo ligado ao mundo que nos cerca, às questões que interferem diretamente no nosso dia a dia, na nossa condição de seres humanos, o que significa que o leque é amplo: vai da água ao efeito estufa, da biodiversidade ao pluralismo (ideológico, étnico etc.), da ditadura (e ainda há tantas no mundo!) à liberdade ou à falsa liberdade, do homem que pensa por si à massificação de conceitos e ideias etc., etc., etc. Parece desnecessário dizer que o aluno que leu jornais e revistas durante o ano todo está em situação melhor do que a do aluno que não leu…
O fato é que, qualquer que seja o tema, é preciso desenvolvê-lo bem e escrever o texto na modalidade culta da língua portuguesa. Sobre esse segundo tópico já falamos um pouco no último texto, mas não custa (re)lembrar que, quando se trata de comunicação formal, impõem-se a sintaxe a grafia padrão. Outro ponto importante é o do vocabulário, que deve ser amplo e adequado.
Mas vamos ao tema em si, ou melhor, ao seu desenvolvimento, o que começa pela compreensão do que se pede. Imagine que a banca ofereça um texto (ou mais de um) como base inicial de reflexão para a elaboração da dissertação… Xi! Bem, é preciso deixar claro que uma dissertação é a defesa de uma tese, de um ponto de vista. Por incrível que pareça, muitos alunos ainda creem (e muitos professores ainda dizem) que não se deve expor o ponto de vista na redação.
Ora pipocas! Se se pede uma dissertação, ou seja, se se pede a apresentação do ponto de vista, de quem será esse ponto de vista? Do bispo? Do vizinho? É óbvio que o aluno DEVE expor o ponto de vista DELE. Para que isso seja feito de modo satisfatório, é preciso — obviamente — que o aluno tenha ponto de vista, o que pode parecer redundante, mas deixa de ser (redundante) quando se constata que muita gente não tem opinião alguma sobre coisa alguma ou, pior, tem a opinião do pai, do tio, da mãe etc. Na hora de defender essa “opinião”, falta argumento, falta base sólida para assentar as razões pelas quais se tem este ou aquele ponto de vista. Numa dissertação, é FUNDAMENTAL ter argumentos convincentes, que, por isso mesmo, não podem ser ilógicos. Em outras palavras, meu caro, forçar a barra não leva ninguém a canto algum.
Mas voltemos ao tema, ou melhor, à apresentação do tema, que, como já vimos, muitas vezes começa com um texto (ou mais) sobre determinado assunto. Se eu não entendo o que se discute ali ou se acho que ali se discute X, mas na verdade se discute Y, corro o risco de escrever sobre X e… É como entregar um bolo de cenoura a quem pediu um de coco. Por mais gostoso que seja o bolo de cenoura… Já entendeu o que acontece com quem faz isso, não? Vamos lá, sem rodeios: zero!
Outra bobagem histórica é crer que o aluno deve “acertar” o ponto de vista do examinador. Ai de mim se eu defender o ponto de vista X e o examinador for defensor do ponto de vista Y… Nada disso! Examinador que faz isso é desonesto, para dizer o mínimo. O que se julga é COMO o candidato costura seus argumentos, como os comprova, como lhes dá razão de ser na cadeia que o leva ao ponto de vista X ou Y. Quem diz, por exemplo, que a pena de morte diminui a criminalidade precisa provar que isso é verdadeiro. Uma bela prova pode ser a apresentação de índices de criminalidade pré e pós pena de morte, em países que a adotaram. Um aviso aos navegantes: não houve diminuição dos índices de criminalidade nos países que adotaram a pena de morte, portanto esse argumento é FURADO. Antes que me esqueça, é fundamental mostrar respeito aos direitos humanos, o que não significa (o que pensam os ignorantes) que respeitar direitos humanos é defender a prática de crimes ou o direito de quem quer que seja de cometer atos bárbaros. Devagar com o andor, senão o zero pode começar aí…
A dissertação exige uma conclusão clara, isto é, o leitor deve saber qual é o ponto de vista defendido pelo redator do texto. Esse ponto de vista pode até ser do tipo “depende da situação” (ou algo que o valha), mas tem de ficar expresso no texto e, sobretudo, tem de ficar apoiado no que se apresentou na argumentação.
Por fim, uma orientação importante: não faça paráfrase do(s) texto(s) apresentados pela banca para o desenvolvimento do tema. Não sabe o que é paráfrase? Lá vai, em palavras simples: é dizer outra vez, com outras palavras, o que já está no texto. O examinador agradece sua boa vontade, mas a dispensa: ele já leu (e entendeu) o texto que apresenta ao candidato. Para ser bem claro: não se ponha a fazer da sua redação a “tradução” do(s) texto(s) apresentado(s) pela banca. Tome esse(s) texto(s) como ponto de partida para a elaboração do seu texto, em que será apresentada a SUA opinião sobre o tema. E não se esqueça de que não se aceitam versos (assim como não se aceita narração).