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quinta-feira, dezembro 26, 2024

UBIRAJARA – JOSÉ DE ALENCAR

UBIRAJARA – JOSÉ DE ALENCAR

Em sintonia com o objetivo de definir a nacionalidade, que no Brasil coincide com a independência do país, o romance indianista, com muita idealização, vai investigar o nosso passado histórico em suas origens mais intocadas, como é o caso de Ubirajara.

O subtítulo da obra — “Lenda Tupi” – esclarece que Alencar remontará ao Brasil pré-colonial em que o índio, sem ter tido contato com a civilização européia, ainda se encontra em seu estado natural.

A narrativa tem a finalidade de revelar a origem dos índios ubirajaras e se passa no encontro entre o Tocantins e o Araguaia.

No primeiro capitulo (“O Caçador”), temos o jovem caçador araguaia Jaguarê, que aspirava à conquista da fama de guerreiro imbatível. Ele está no meio da mata, procurando novos desafios. Essa oportunidade, porém, não ocorre, pois quem ele encontra é a belíssima virgem Araci, “estrela do dia”, filha de ltaquê, chefe da nação tocantim.

Nesse encontro, eles mantêm um breve diálogo e ela lhe diz : “O mais forte e valente [guerreiro] me terá por esposa.” Ele não se alista, mas pede que ela mande pretendentes para combatê-lo.

Quando ela parte, Jaguarê, ao cruzar com Pojucã, guerreiro tocantim, começa uma luta titânica na qual o araguaia sai vencedor. Como era costume entre os povos primitivos, Pojucã segue como prisioneiro de guerra para a nação araguaia onde seria executado nos rituais antropofágicos.

Com este feito heróico, Jaguarê torna-se o guerreiro Ubirajara, “senhor da lança”, e herda de seu pai, Camacã, o posto de chefe dos índios araguaias.

Após essa conquista, Ubirajara busca uma outra: a da esposa. Embora o jovem guerreiro já tivesse a virgem Jandira, sorriso de mel, prometida como sua esposa, ele não conseguia se esquecer de Araci. Assim, afirma à sua prometida que não merecia seu amor. E pede que ela seja a esposa do guerreiro prisioneiro. A virgem, filha de Magé, não aceita tal proposta, pois o amava, e foge para a floresta. Em seguida, o herói parte para a nação tocantim.

Lá ele é recebido com todas as honras de hóspede ilustre. Os índios acreditavam que um hóspede era um enviado de Tupã.

Assim, seguindo as tradições, Ubirajara senta-se na taba do chefe ltaquê junto com os mais bravos guerreiros e os anciões para fumar cachimbo, compartilhado entre todos os presentes.

Como “a lei da hospitalidade não consentia que se perguntasse o nome ao estrangeiro que chegava, nem que se indagasse de sua nação”, Ubirajara passa a ser chamado de Jurandir, “aquele que veio trazido pela luz do céu”.

Depois de ter sido recebido com todas as honras, Jurandir pede ao grande chefe ltaquê que lhe conceda Araci como sua esposa. O chefe tocantim aceita e Jurandir, conforme as tradições daquele povo, deixa sua condição de estrangeiro para pertencer à “oca de ltaquê, e devia, como servo do amor, trabalhar para o pai de sua noiva”. Além disso, ele deveria disputar com os outros guerreiros tocantins a posse de Araci.

Assim fez o guerreiro apaixonado, mas uma visita inesperada vem temperar a vida do par romântico: Jandira, a virgem araguaia, noiva de Jurandir, aparece com uma faca para ameaçar Araci.

O guerreiro chega no exato momento para impedir uma tragédia, amarra Jandira e faz dela escrava de Araci: “— Jandira é tua escrava. Não lhe dês a liberdade. Ela tem a astúcia da serpente e seu veneno.”

Araci dá a Jandira uma lição de moral, explicando-lhe os valores da cultura indígena: “Araci está alegre; porque o amor do guerreiro voltou-se para ela; e Jandira vai fazê-la companheira de sua glória e mãe de seus filhos. Quando a esposa de Jurandir não tiver mais beleza para seu guerreiro, ela consentirá que Jandira durma em sua rede.”

Chega o dia em que os guerreiros devem combater para conquistar Araci. Durante os rituais de combate, a noiva canta: “Araci ama o mais forte e mais valente. Ela pertencerá ao vencedor que vencer a bravura dos outros guerreiros, como venceu a vontade da esposa.”

Jurandir passa por provas de força e astúcia, vencendo a todos os guerreiros. Então o chefe tocantim lhe diz: “Quando o estrangeiro chegou à cabana de ltaquê, ninguém lhe perguntou quem era e donde vinha. (…) Mas agora o estrangeiro saiu vencedor do combate do casamento e conquistou uma esposa na taba dos tocantins. É preciso que se Faça conhecer.” Jurandir, sabendo que seu prisioneiro de guerra (Pojucã) era filho do chefe ltaquê e irmão de Araci, resolve, mesmo constrangido, se apresentar: “Eu sou Ubirajara, o senhor da lança; e o maior guerreiro depois do grande Camacã, cujo sangue me gerou. Se quereis sabei por que tomei este nome. ouvi a minha maranduba [história] de guerra.” Em seguida, relata sua batalha contra Pojucã e afirma que partiria no dia seguinte para assistir ao combate final de seu prisioneiro. Ele, então, ouve do chefe tocantim a declaração de guerra: “Parte. O sol que viu o estrangeiro na cabana hospedeira o acompanhará amigo; mas com a sombra da noite, mil guerreiros, mais velozes que o nandu, partirão para levar-te a morte”.

Na partida. Ubirajara e Araci se encontram novamente. A moça deseja acompanhá-lo, mas o jovem afirma que jamais trairia o chefe ltaquê. Ela, portanto, deveria esperar pela batalha final.

Quando Ubirajara volta à sua tribo, liberta Pojucã para que ele possa lutar ao lado de seu povo. Os araguaias, então, liderados por Ubirajara, seguem para atacar os tocantins, mas lá encontram os tapuias, que por uma questão antiga de vingança tinham o direito de atacá-los primeiro. Vence ltaquê. mas fica cego na batalha, o que o leva á busca de um sucessor, que deveria ser capaz de manejar o arco e a flecha tão bem quanto ele. Só Ubirajara o consegue, unindo o arco de ltaquê ao seu próprio arco, herdado de Cainacã, seu pai. É o momento épico do romance.

O chefe ltaquê propõe paz à nação araguaia e, mais do que isso, afirma: “por teu heroísmo, e ainda mais pela nobreza com que restituíste a liberdade a Pojucã, tu merecias uma esposa do sangue do Tocantim”. Após um diálogo comovido, os dois guerreiros jogam suas lanças ao ar e elas se cruzam, simbolizando a união dos dois povos, formando um só: a nação ubirajara.

Jandira, a virgem araguaia que também amava o jovem Ubirajara, torna-se a segunda esposa do guerreiro por sugestão da própria Araci: “Jandira é irmã de Araci, tua esposa. Ubirajara é o chefe dos chefes, senhor do arco das duas nações. Ele deve repartir seu amor por elas, como repartiu sua força.” Assim foi feito, já que a poligamia fazia parte da cultura dos indígenas

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