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quarta-feira, novembro 20, 2024

Uma Visão Filosofica

NÃO SABEMOS MAIS AMAR?

Dentro dos temas da Filosofia, o amor é um dos mais importantes sentimentos.

Até mesmo na palavra Filosofia há relação com este sentimento: amor pela sabedoria. “SOFIA” é sabedoria e “FILIA” é um tipo de amor, que não é carnal, mas o amor da busca, do desejo, é o amor da inquietação. O amor de amigo. Assim, o filósofo, enquanto praticante da Filosofia, é aquele que inquietamente busca por algo, que não se conforma e procura saber sempre mais. Então nasce a Filosofia, que e definida como sendo o amor pela sabedoria entendido como um desejo equilibrado por procurar conhecer mais, citando Platão (427 – 347 a.C.) em “O Banquete”.

O pensador diz que o amor é a tônica do filósofo, que pelo conhecimento de uma maneira sensata, sem cair no desequilibro. Pitágoras, que muito influenciou a obra de Platão, dizia que o perigo do amor está justamente na desmedida e no desequilíbrio, acrescentando que a falta de harmonia em relação ao amor acontece quando a pessoa gosta muito mais do objeto de desejo do que o próprio desejar. O que mata qualquer relação e quando a pessoa se dedica ao relacionamento em busca de uma posse. É o ciúme possessivo nos dias de hoje. Dessa forma, o indivíduo não ama amar o certo, ele ama a “coisa do outro”. Isso não é amor, pois amor não é posse.

Devido a sua importância em nossas vidas o amor é tópico de diversos debates e diálogos, sendo talvez o maior exemplo deles a obra “O Banquete”, do próprio Platão. Neste livro, o filósofo aborda distintas explicações e justificativas para tal sentimento, utilizando-se de personagens já conhecidos entre seus leitores. De início Platão diz que é necessário homenagear um deus que ninguém, até então, tenha homenageado; e o escolhido é EROS, o deus do amor. Acontece que ninguém entende EROS no sentido de desejo, todos os entendem como paixão, libido, sexo. EROS está muito atrelado à questão carnal e não à questão filosófica do amor, tendo Platão não aberto mão da questão carnal, e não entendido o amor do ponto de vista físico, mas para ele, o espiritual tendo que superar o corpo.

Comentando o livro “O Banquete”, Platão propõe um banquete no qual o amor seria homenageado. O primeiro a se manifestar é Fedro, por isso considerado pai do discurso. Para ele, EROS é o mais velho dos deuses e dessa forma o ideal para levar o homem ao encontro da felicidade eterna. No discurso de Fedro, amam os mais experientes, quem tem mais idade. Os outros personagens presentes discordam da colocação de Fedro e passam a expor suas próprias opiniões sobre o amor.

Pausânias acredita que existem dois tipos de EROS para os homens. O celestial, representando o amor espiritual, ama a parceira AFRODITE espiritual. Já aqueles que amam de maneira vulgar têm EROS vulgar, e por sua vez ama parceira igual representada pela AFRODITE vulgar. Assim, cada homem fica com seu objeto de desejo apropriado. Pausânias também diz que o amor é sinônimo de liberdade para o homem, pois o amante faz coisas que escravo algum aceitaria fazer. As ações que temos em relação àquele que amamos nunca são ridículas, e mesmo que exista a possibilidade de agredir um deus, somos perdoados porque estamos amando.

Também presente na festa, o médico Erixímaco crê que amar é buscar a harmonia. Para Erixímaco ama quem tenta equilibrar-se no outro, não importando se a pessoa amada é do sexo oposto ou não. Todas as relações seriam legítimas, porque em ambos os casos você busca sua cara-metade. O discurso de Erixímaco é relacionado com a maneira de como o homossexualismo era vista na Grécia antiga. Nas narrativas mitológicas greco-romanos não havia homem ou mulher, e sim Andrógeno, que em o ser humano completo, de uma natureza única. O Andrógeno, assim como o homem contemporâneo, também tinha a vontade de ser deus, e esse fato irritou os deuses, que resolveram separar o Andrógeno em homem e mulher; seres que por intermédio do amor poderiam ser unidos novamente.

Referindo-se à visão da sociedade em relação ao homossexualismo, o filósofo afirma que “cada um quer completar-se buscando sua cara-metade e, com o tempo, nessa ânsia de complementação, não precisava mais ser o oposto, poderia ser ate do mesmo sexo”.

O ápice do banquete acontece quando Sócrates faz uso do mito de Diotima de Mantinéia, no qual o amor é filho de POROS (que seria a abundância) com PENIA (a pobreza). Dessa forma o amor em si não é perfeito, contrariando o pensamento de que seria o sentimento mais sublime. Na filosofia, o amor é um misto de perfeição e imperfeição. Quem ama busca o outro para tornar-se perfeito, mesmo sabendo que nunca será perfeito. O dia em que for perfeito cai na tolice, cai na posse, que não é mais o amor e sim a paixão. Dessa forma o verdadeiro amor não é o carnal, mas sim a interminável busca pela cara-metade.

Utilizando esse mesmo significado que tem para a Filosofia, o verdadeiro amor para os seres humanos também é um sentimento de busca pelo que nos falta, sendo que esta lacuna pode ser preenchida por diversos tipos de objeto. Emocionalmente, amar é buscar o outro, um alguém que supra nossas carências afetivas e espirituais.

No ponto de vista dos filósofos, o amor legitimo busca por sua complementação. Expresso por Platão, e um sentimento da alma quando ela sente que perdeu sua condição divina. Entretanto, se o amor em si é um sentimento muitas vezes compreendido de maneira errônea pela sociedade, ainda mais mal interpretado é o ponto de vista de Platão a esse respeito. Para muitos, amor platônico é aquele não alcançado, que fica apenas na vontade longe do objetivo. Mas na visão de Platão, o verdadeiro amor é o amor da alma pelo conhecimento e pelo lado espiritual da vida, relacionado a uma lembrança. Segundo os pensados e filósofo, o verdadeiro amor é um impulso de vida para a sabedoria e não necessariamente para uma pessoa. Platão dizia que podemos encontrar na natureza modelos perfeitos que não existem fisicamente, mas estão num plano chamado “Plano das Idéias”. Do ponto de vista da Filosofia, então, o amor é uma força, uma energia, que se manifesta na alma como um sentimento de lembranças de algo que a alma já teve, mas perdeu, sendo o amor uma espécie de carência nesse ponto de vista. Carência que não é representada por alguém chorando, mas sim pelo impulso de alguém que busca.

Dessa forma, o amor platônico é aquele que não se fixa no transitório, no corpo, na matéria. Mas sim o que supera tudo isso. Assim que se fixa no corpo, confundimos o amor com paixão. Só que a paixão acaba, enquanto o amor é eterno.

Uma paixão acaba com a morte do corpo, já aquilo que você realmente aspira e deseja que e a beleza na alma, sempre vai existir. Dessa maneira, a idéia de que o amor platônico é irrealizável não está certa, ele apenas pousa em alguma coisa que supera o mundo terreno. É o impulso da alma rumo a algo que transcende esse plano, a coisa física, que é somente a paixão um dos estágios do amor, mas não o amor em si mesmo.

Outro julgamento errado é encarar o amor como um sentimento que fragiliza, apenas porque a pessoa que ama fica “boba”, dispersa, e sofre por alguém. Na realidade, o verdadeiro amor é desenvolvido para que as pessoas vivam de uma maneira melhor, com justiça e amizades verdadeiras. É um sentimento possível somente para os fortes. Somente indivíduos com caráter formado, equilibrado, são os que realmente amam no sentido filosófico. E todo esse sentimento se converte em boas ações para o outro. Muitas vezes o amor é interpretado como uma espécie de desejo, quando na Filosofia este anseio está mais relacionado à paixão. Esse apego não nos leva à virtude. Confundimos o desejo com a vontade. O desejo tem a ver com os apegos, um desejo passional pelas coisas. A vontade é uma força da alma, que nos impulsiona a agir de uma forma boa.

Na Filosofia o amor nunca é o objeto, o amor é a busca e somente ama quem carece. Citando Platão, pode-se dizer que: “o amor é um pulso ascensional da alma rumo à sabedoria”. O amor é uma vontade de saber mais e não de ser mais. Na visão platônica, para atender o amor, seria necessário se libertar gradativamente deste mundo terreno, de um mundo material, particular e por impulso – e com ajuda dos outros – chegar ao mundo espiritual, de sabedoria e universal.

O amor é um sentimento em relação à vida, de enxergar valores nas coisas alem das aparências. È um sentimento idealístico, como uma visão espiritual da vida. Destaca-se que, quando o filósofo vê a beleza de uma flor ele vê uma beleza da natureza, uma essência, que naquele momento se manifesta nessa determinada flor. A beleza é uma só e vale para todas as coisas. Para Platão, a beleza é aquilo que confere a característica de belo em algum objeto, assim como a justiça confere a característica do justo. Amar no sentido filosófico do verbo não é impossível de se alcançar, mas sim um longo processo de aprendizado e evolução humana. O grande problema é que vivemos num mundo que nos cria necessidades artificiais, as quais nos confundem diariamente. Por isso o os relacionamentos são tão difíceis; as pessoas compartilham idéias, sonhos, pensamentos. É algo pesa ao corpo, e não na alma, e nesses casos as diferenças de personalidade continuam existindo, mas você tem algo mais forte que ajuda a superar.

Platão defendia que o amor é espiritual e transcende a matéria. O ideal de amor é alcançar o equilíbrio, a justa medida.

Existe uma maneira certa de amar? Um amor ideal? Platão queria a idéia de uma beleza para todas as coisas belas. Esta visão é discordada do pensamento aristotélico, que não acredita em nada ideal, e sim em coisas reais, em que há uma beleza em si em cada coisa.

O amor na Filosofia nasce do que os Gregos antigos chamavam de “patos”. Amar é estar inebriado por uma patologia que não é doença, já que “patos” em grego que dizer admiração.

Quem não se admira com as coisas belas e com o mundo não pode dizer que está amando. Aquele que não projeta, não tem iniciativa, não busca por coisas diferentes não está amando. Está morto, só esqueceu-se de se deitar. Para ter amor tem que haver admiração e espanto. Tanto é, pelo pensamento de Aristóteles, que os primeiros filósofos, os pré-socráticos, descobriam as maravilhas da natureza admirando e espantando-se com tudo. Este é o contraponto existencialista as idéias de Platão.

As pessoas ainda hoje, mais talvez do que no século XX, confundem liberdade com libertinagem. O existencialista carrega a liberdade humana, mas responde por tudo aquilo que faz. O ser humano está muito preso à visão libertina. Quer fazer, mas não quer responder. Hoje, as pessoas falam em fica, morar junto sem casar, mas, o relacionamento não esteja sendo levado tão a sério como nos séculos passados, em termos de responsabilidade e compromisso. Atualmente as pessoas estão assumindo esse relacionamento aberto no sentido de libertinagem e não com a mesma seriedade e consciência de que esta é uma escolha influencia na vida do outro.

Devido à complexidade deste sentimento, amar não é inato, ninguém nasce com a capacidade interna e total de amar. É um processo gradativo. Dentro de sua crença realista e aristotélica, se em cada momento da vida desejo coisas diferentes, com intensidades diferentes, então o amor é um processo gradual que pode ser evolutivo, ou que, de repente, você desaprende. Não é possível, por esta visão de Aristóteles, que a pessoa já nasça acabada, pronta para amar, sendo um processo, que vamos aprender por esforço, exercício e repetição.

Enfim, em meio a tantas crises existenciais, o homem contemporâneo esqueceu-se de sua maior virtude: o amor.

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