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quinta-feira, dezembro 26, 2024

UMA VISÃO SOCIAL PARA AS HUMANIDADES

Resumo : A estrutura do artigo se desenrola no conceito de reapresentação das Humanidades para atualidade vigente, auxiliado pelos textos sugeridos e pesquisas correlatas que demonstrarão, através dos exemplos, a múltipla formação desse campo de estudo interligado com diferentes áreas (pedagógica, mercado e social) possibilitando, portanto, identificarmos a base das Humanas.
Palavra-Chave: Contemporaneidade, Iniciativa, Humanidades

Inicialmente, o propósito do artigo discutiria sobre o porquê da importância das humanidades, e o escritor deste propósito, obrigatoriamente, comprovará de maneira lógica e coerente, fundamentando-se no literário, nas artes e no social, o quanto esse estudo é, ou devem ser importante, entretanto, no momento, o objetivo desta discussão será outra. O foco trabalhando demonstrará como esse campo de estudo possibilita importantes mudanças em diferentes áreas, citando pequenas iniciativas, individuais ou institucionais, a revelarem, aos poucos, o quanto o campo das Humanidades é presente na atualidade, dada esse presença, entenderemos sua formação, entretanto antes de reapresentá-la, deve se saber quem ela é. Então, o que é as Humanidades?
Dando a palavra ao dicionário, seria “o estudo das línguas, das literaturas e das filosofias dos antigos gregos e romanos” (Minidicionário da Língua Portuguesa, Sérgio Ximenes – 2º Ed. Reform; São Paulo; Ediouro, 2000), possivelmente para o categórico dicionário, esse é sua única e, talvez, melhor definição da palavra, entretanto esse conceito limita as possibilidades de compreensão desse campo. Existe uma verdade nos gregos e romanos, as Humanidades originalmente foram discutidas na filosofia, na língua e na literatura por eles, mais por um, do que por outro, e depois, incidiu na história, que continua sendo vivida, escrita e discutida. Então, neste caso, o papel dado como um registro antigo nos livros de história perde essa essência, pois esse campo de estudo continua ampliando-se e encorpando novos significados.
Nesse sentido afirma Rouarnet: “Somos esse passado, e esse passado vive em nós: só ele pode ajudar-nos a entender a atualidade que nos modela, e que contribuímos para modelar na exata medida em que conhecemos as influências que nos constituíram”. (Rouarnet, Sergio Paulo, As razões do Iluminismo, 1987, Ed. Schwarcz, p. 314)
Entender o motivo de reapresentar, ou se importar com as Humanidades é compreender a si mesmo como história, cidadão, agente e humano, ou seja, elas coexistem em nós e nós dentro delas. Através dessa relação resultam-se processos, intrinsecamente, intensos de reflexão e argumentação sobre interpretações de mundo, social, real, de mercado e psicológico confirmando então que “a filosofia está assim no centro das humanidades” (IBID, p. 320), e nessa busca incessante de respostas aperfeiçoamos o crítico. “Por isso, o filósofo é crítico, embora não seja cético. Não desespera da verdade, mas recusa todas as certezas, considerando-as provisórias e sujeitas a serem relativizadas por novos argumentos” (IBEDEM). Meditando, portanto, que a funcionalidade do pensar é a própria arte produzida no cerne desse conhecimento, entretanto essa, em certas ocasiões, permanece excludente para a compreensão pública. “O que está em jogo, na difusão do conhecimento em Humanas pela sociedade como um todo é a constituição de uma opinião pública democrática” (Ribeiro, Renato Janine; A universidade e a vida atual: Fellini não via filmes; Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2003; p.104). Democratizar as humanidades é a proposta que se ausenta das pautas políticas, e quando é discutida, na minoria das vezes, adquiri uma necessária cautela. A questão se trata em originar civis críticos e transformadores sociais, um pesadelo para a política de elite, para política de mercado. De acordo com Rouarnet, a razão filosófica é inimiga nata da razão de Estado: não é por acaso que ela foi suprimida dos currículos brasileiros (p.320), na mesma página evidencia que é a obviedade da disciplina discutida, que tem a crítica como razão de ser, não pode ser estimulada pelos regimes autoritários. Embora não estejamos em regime autoritário, habitamos em uma sociedade autoritária e multifacetada conduzida por um mercado-política de produção de pensadores e idéias, cujo seu interesse é desenvolver insaciáveis consumidores. Esse, definitivamente, não é o foco das Humanidades.
No filme Vem dançar (Take the lead, 2006, New Line Cinema) com roteiro de Dianne Houston e direção de Liz Friedlander aborda a história real do dançarino norte-americano, Pierre Dulaine, elaborador de um simples projeto, aplicado atualmente em mais de 60 instituições públicas de Nova York (EUA), promovendo através da dança de salão, o resgate de valores e o trabalho de equipe dando perspectivas de futuro para jovens da periferia. Pierre dedica-se nessa idéia, não por desconfiar dos benefícios ofertados pelos demais projetos da instituição, ele apenas propõe algo novo, ou em suas palavras que “todo mundo tem que ter acesso a cultura”. Saindo do território norte-americano e desaguando no nacional, o projeto Joaninha realizado pelo Ballet Stagium (companhia de dança brasileira) a partir de 1998, criado por Márika Gidali e Décio Otero, abriga 110 jovens, alunos de escolas públicas entre 7 e 14 anos ensinados pelos dançarinos da próprio corpo de balé, a desenvolverem suas potencialidades e formação de cidadania através da dança. A companhia também encabeça outros projetos que visam à inclusão destes jovens para diversas manifestações culturais, como apresentações teatrais, danças e participações nas escolas com alunos e professores. O Projeto Stagium-Febem, por exemplo, trabalha com jovens detidos – uma vez por semana – contribuindo para o resgate de sua auto-estima e equilíbrio mental através da dança, alongamento e capoeira, mas a companhia informa, que o alvo dos projetos não é implementar a dança nas escolas pública e nem objetiva formar bailarinos. Trata-se de um contribuinte sócio-educacional, ou melhor, uma práxis – ação de homens sobre si mesmos.
“As humanidades servem para tudo isso, mas ainda que não servissem para nada, mereceriam ser cultivadas simplesmente por que nos dão prazer” (Rouarnet, 1987, p. 326)
A participação efetiva desse campo, além de integrar a construção crítica e da potencialidade civil, proporciona a sensação de prazer, sem que haja a necessidade de suscitar mil e uma razões para aproveitar do ato, e para evitar mal-entendidos: não afirmo as Humanidades como fator não reflexivo, apenas torno público sua velha função pedagógica. Elucidando esse significado, recorrei ao exemplo da criação da Lei nº 11.769 – sancionada em agosto de 2008 – visando à inclusão obrigatória da Música como disciplina nas grades escolares de educação básica, públicas e particulares, que entra em vigor em 2011. Desde a antiguidade até o percorrer dos tempos, a música se associou e retratou marcas de épocas. De espelhos de harmonia para universo, cultura do espírito até um recurso indispensável para sociabilidade, e mesmo assim, sem ofuscar seu dom lúdico, amargo, profano ou santo. E como a filosofia, a música transita, vivencia, problematiza, opera, repensa o cotidiano. Conforme o pensamento de Rouarnet, “…, o manejo das humanidades torna o espírito mais versátil” (IBID, p. 323) e a existência dessa versatilidade é a proposta buscada pelo Ensino, compartilhada para o Social e aproveitada para o Mercado.
Baseado na reportagem música na pauta das escolas do almanaque Saraiva, de Janeiro (2010), apresento o relato da coordenadora de artes e música do Colégio Objetivo, Elisabeth Nogueira Sennes, lutadora do projeto de inclusão musical, compartilha através de sua experiência de 33 anos de ensino musical no colégio, a observação que através desse recurso, eles, os jovens, tornam-se musicalmente alfabetizados, desenvolvendo críticos e desembaraços. Esse conhecimento musical, estende-se do erudito ao popular, proposto na dinâmica de o fazer, o ouvir e o criar. Observe que o ato de ensinar música carrega a natural mistura do prazer ao educacional, e isso não é de agora – os gregos já sabiam disso – e o ensino transmuta-se num elemento proveitoso para o ensinado. Concordamos, portanto, que disciplinas com base de Humanas, como música, filosofia e sociologia, em instituições de ensino devem viabilizar a educação – não apenas dessas matérias – para um aprendizado mais lúdico e mais interativo, ou melhor, capacitar o indivíduo, não para estruturá-lo como crítico, sócio-educativo, e, ou participativo, porém inter-relativo no diálogo do eu e sociedade. Visando a restituir, ”ao homem, através de um discurso que o conheça, a capacidade de proferir ele mesmo um discurso verdadeiro e sem ilusões a seu próprio respeito” (Ribeiro, 2003, p. 99), “por isso é que o empreendimento das Humanas ( ou, vale retomar, as Humanidades) se mostra emancipador” (IBEDEM).
Concluindo, até então, o que discutimos refere-se ao campo das Humanas, sendo que a proposta não é resgatá-la embasada em modelos passados, entretanto reapresentá-la, sem extrair conceitos, para a sociedade deste século.
“O fortalecimento das humanidades terá de ser acompanhado por uma habilitação mais cuidadosa dos professores, com base numa pedagogia que enfatize o debate, a pesquisa, a reflexão original e que desenvolva a capacidade de usar os conhecimentos adquiridos para compreender melhor a atualidade e para criticá-la” (Rouarnet, 1987, p.328).
Se considerarmos este argumento como um apelo radical contra o passado e defendermos a cultura de atenienses e troianos, cometeremos o erro, de recusar a história vivida neste social vigente. “Se quisermos melhoras as Humanas, devemos considerar quais são suas fundações, e agir de acordo com isso” (Ribeiro, 2003, p.89). O passado e o presente não são lados opostos de uma moeda, a constante mobilidade entre eles permite progressões e transgressões, que – certamente – impactarão no futuro. Pondera-se deste modo, que o entendimento desse campo permite-se uma analise limpa do meio que transita, de tal modo, que a parti desta permissão; reflexões, argumentos, pesquisas e mudanças ocorrerão.
Iniciativas de democratização das Humanidades – tendo como os exemplos citados – fortalecem a acessibilidade para o populacional, porém é preciso mais. Não favorece propagandas que fomente a leitura, por exemplo, se as prateleiras das bibliotecas públicas continuam vazias ou defasadas, se os impostos cobrados sobre livros custem absurdos elevando seus preços, se não valoriza os escritores populares, se… e entre outros tantos. “Torna-nos cultos através da arte e das ciências”, e Kant não se encontra enganado, entretanto para alcançar o culto, devemos ser humanos, e para ser-los, devemos ser críticos.

Referências:
o ROUANET, Sergio Paulo, As razões do iluminismo, São Paulo: Companhia de letras, 1987;
o RIBEIRO, Renato Janine; A universidade e a vida atual: Fellini não via filmes; Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2003
o Artigo: A Importância da Música na Formação e Educação da Humanidade / Rui Vilafanha, Bandasfilarmonicas.com, 2004; www.google.com.br acesso em 17 de abril 2010
o < www.músicaemercado.com.br> acesso em 15 de abril 2010
o Ficha técnica e comentário do filme Vem dançar, www.adorocinema.com acesso em 5 de abril 2010
o Filme Vem dançar, (Take the lead, 2006, New Line Cinema)
o Projeto Baillet Stagium: , aba Projetos, acesso em 5 de abril 2010
o Reportagem música na pauta das escolas, Almanaque Saraiva – janeiro 2010 / Editora Saraiva Reportagem, pp. 40 e 41
o BERNARDINO e COSTA, Juliana e Cynthia. Reportagem Musica em todas as escolas, www.editoraabril.com acesso em 10 de abril 2010.
o ABREU, Márcia. Texto Diferentes formas de ler (Texto aplicado na aula de Língua portuguesa, poder e diversidade).

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