São alterações defeituosas que sofre a língua em sua pronúncia e escrita devidas à ignorância do povo ou ao descaso de alguns escritores. São devidas, em grande parte, à suposta idéia da afinidade de forma ou pensamento.
Os vícios de linguagem são: barbarismo, anfibologia, cacofonia, eco, arcaísmo, vulgarismo, estrangeirismo, solecismo, obscuridade, hiato, colisão, neologismo, preciosismo, pleonasmo.
BARBARISMO:
É o vício de linguagem que consiste em usar uma palavra errada quanto à grafia, pronúncia, significação, flexão ou formação. Assim sendo, divide-se em: gráfico, ortoépico, prosódico, semântico, morfológico e mórfico.
•Gráficos: hontem, proesa, conssessiva, aza, por: ontem, proeza, concessiva e asa.
•Ortoépicos: interesse, carramanchão, subcistir, por: interesse, caramanchão, subsistir.
•Prosódicos: pegada, rúbrica, filântropo, por: pegada, rubrica, filantropo.
•Semânticos: Tráfico (por tráfego) indígena (como sinônimo de índio, em vez de autóctone).
•Morfológicos: cidadões, uma telefonema, proporam, reavi, deteu, por: cidadãos, um telefonema, propuseram, reouve, deteve.
•Mórficos: antidiluviano, filmeteca, monolinear, por: antediluviano, filmoteca, unlinear.
OBS.: Diversos autores consideram barbarismo palavras, expressões e construções estrangeiras, mas, nesta apostila, elas serão consideradas “estrangeirismos.”
AMBIGÜIDADE OU ANFIBOLOGIA:
É o vício de línguagem que consiste em usar diversas palavras na frase de maneira a causar duplo sentido na sua interpretação.
Ex.: Não se convence, enfim, o pai, o filho, amado. O chefe discutiu com o empregado e estragou seu dia. (nos dois casos, não se sabe qual dos dois é autor, ou paciente).
CACOFONIA:
Vício de linguagem caracterizado pelo encontro ou repetição de fonemas ou sílabas que produzem efeito desagradável ao ouvido. Constituem cacofonias:
•A colisão.
Ex.: Meu Deus não seja já.
•O eco
Ex.: Vicente mente consantemente.
•o hiato
Ex.: Ela iria à aula hoje, se não chovesse
•O cacófato
◦Ex.: Tem uma mão machucada: A aliteração – Ex.: Pede o Papa paz ao povo. O antônimo é a “eufonia”.
ECO:
Espécie de cacofonia que consiste na seqüência de sons vocálicos, idênticos, ou na proximidade de palavras que têm a mesma terminação. Também se chama assonância.
Ex.: É possível a aprovação da transação sem concisão e sem associação.
Na poesia, a “rima” é uma forma normal de eco. São expressivas as repetições vocálicas a curto intervalo que visam à musicalidade ou à imitação de sons da natureza (harmonia imitativa); “Tíbios flautins finíssimos gritavam” (Bilac).
ARCAÍSMO:
Palavras, expressões, construções ou maneira de dizer que deixaram de ser usadas ou passaram a ter emprego diverso.
Na língua viva contemporânea: asinha (por depressa), assi (por assim) entonces (por então), vosmecê (por você), geolho (por joelho), arreio (o qual perdeu a significação antiga de enfeite), catar (perdeu a significação antiga de olhar), faria-te um favor (não se coloca mais o pronome pessoal átono depois de forma verbal do futuro do indicativo), etc.
VULGARISMO:
É o uso lingüístico popular em contraposição às doutrinas da linguagem culta da mesma região.
O vulgarismo pode ser fonético, morfológico e sintático.
•Fonético:
◦A queda dos erres finais: anda, comê, etc. A vocalização do “L” final nas sílabas.
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Ex.: mel = meu , sal = saú etc.
◦A monotongação dos ditongos.
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Ex.: estoura = estóra, roubar = robar.
◦A intercalação de uma vogal para desfazer um grupo consonantal.
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Ex.: advogado = adevogado, rítmo = rítimo, psicologia = pissicologia.
•Morfológico e sintático:
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◦Temos a simplificação das flexões nominais e verbais.
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Ex.: Os aluno, dois quilo, os homê brigou.
◦Também o emprego dos pronomes pessoais do caso reto em lugar do oblíquo.
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Ex.: vi ela, olha eu, ó gente, etc.
ESTRANGEIRISMO:
Todo e qualquer emprego de palavras, expressões e construções estrangeiras em nosso idioma recebe denominação de estrangeirismo. Classificam-se em: francesismo, italianismo, espanholismo, anglicismo (inglês), germanismo (alemão), eslavismo (russo, polaço, etc.), arabismo, hebraísmo, grecismo, latinismo, tupinismo (tupi-guarani), americanismo (línguas da América) etc…
O estrangeirismo pode ser morfológico ou sintático.
•Estrangeirismos morfológicos:
◦Francesismo: abajur, chefe, carnê, matinê etc…
◦Italianismos: ravioli, pizza, cicerone, minestra, madona etc…
◦Espanholismos: camarilha, guitarra, quadrilha etc…
◦Anglicanismos: futebol, telex, bofe, ringue, sanduíche breque.
◦Germanismos: chope, cerveja, gás, touca etc…
◦Eslavismos: gravata, estepe etc…
◦Arabismos: alface, tarimba, açougue, bazar etc…
◦Hebraísmos: amém, sábado etc…
◦Grecismos: batismo, farmácia, o limpo, bispo etc…
◦Latinismos: index, bis, memorandum, quo vadis etc…
◦Tupinismos: mirim, pipoca, peteca, caipira etc…
◦Americanismos: canoa, chocolate, mate, mandioca etc…
◦Orientalismos: chá, xícara, pagode, kamikaze etc…
◦Africanismos: macumba, fuxicar, cochilar, samba etc…
•Estrangeirismos Sintáticos:
Exemplos:
◦Saltar aos olhos (francesismo);
◦Pedro é mais velho de mim. (italianismo);
◦O jogo resultou admirável. (espanholismo);
◦Porcentagem (anglicanismo), guerra fria (anglicanismo) etc…
SOLECISMOS:
São os erros que atentam contra as normas de concordância, de regência ou de colocação.
Exemplos:
•Solecimos de regência:
◦Ontem assistimos o filme (por: Ontem assistimos ao filme).
◦Cheguei no Brasil em 1923 (por: Cheguei ao Brasil em 1923).
◦Pedro visava o posto de chefe (correto: Pedro visava ao posto de chefe).
•Solecismo de concordância:
◦Haviam muitas pessoas na festa (correto: Havia muitas pessoas na festa)
◦O pessoal já saíram? (correto: O pessoal já saiu?).
•Solecismo de colocação:
◦Foi João quem avisou-me (correto: Foi João quem me avisou).
◦Me empresta o lápis (Correto: Empresta-me o lápis).
OBSCURIDADE:
Vício de linguagem que consiste em construir a frase de tal modo que o sentido se torne obscuro, embaraçado, ininteligível. Em um texto, as principais causas da obscuridade são: o abuso do arcaísmo e o neologismo, o provincianismo, o estrangeirismo, a elipse, a sínquise (hipérbato vicioso), o parêntese extenso, o acúmulo de orações intercaladas (ou incidentes) as circunlocuções, a extensão exagerada da frase, as palavras rebuscadas, as construções intrincadas e a má pontuação.
Ex.: Foi evitada uma efusão de sangue inútil (Em vez de efusão inútil de sangue).
NEOLOGISMO:
Palavra, expressão ou construção recentemente criadas ou introduzidas na língua. Costumam-se classificar os neologismos em:
•Extrínsecos: que compreendem os estrangeirismos.
•Intrínsecos: (ou vernáculos), que são formados com os recursos da própria língua. Podem ser de origem culta ou popular.
Os neologismos de origem culta subdividem-se em:
•Científicos ou técnicos: aeromoça, penicilina, telespectador, taxímetro (redução: táxi), fonemática, televisão, comunista, etc…
•Literários ou artísticos: olhicerúleo, sesquiorelhal, paredro (= pessoa importante, prócer), vesperal, festival, recital, concretismo, modernismo etc…
OBS.: Os neologismos populares são constituídos pelos termos de gíria. “Manjar” (entender, saber do assunto), “a pampa”, legal (excelente), Zico, biruta, transa, psicodélico etc…
PRECIOSISMO:
Expressão rebuscada. Usa-se com prejuízo da naturalidade do estilo. É o que o povo chama de “falar difícil”, “estar gastando”.
Ex.: “O fulvo e voluptoso Rajá celeste derramará além os fugitivos esplendores da sua magnificência astral e rendilhara d’alto e de leve as nuvens da delicadeza, arquitetural, decorativa, dos estilos manuelinos.”
OBS.: O preciosismo também pode ser chamado de PROLEXIDADE.
PLEONASMO:
Emprego inconsciente ou voluntário de palavras ou expressões involuntárias, desnecessárias, por já estar sua significação contida em outras da mesma frase.
O pleonasmo, como vício de linguagem, contém uma repetição inútil e desnecessária dos elementos.
Exemplos:
◦Voltou a estudar novamente.
◦Ele reincidiu na mesma falta de novo.
◦Primeiro subiu para cima, depois em seguida entrou nas nuvens.
◦O navio naufragou e foi ao fundo. Neste caso, também se chama perissologia ou tautologia.